terça-feira, 2 de junho de 2015
A próxima crise
Vale a pena ler este artigo do editor de economia do The Guardian, Larry Elliot. Elliot, apoiando-se num trabalho do economista-chefe do HSBC, alerta para a inexistência presente de instrumentos de política económica. Por um lado, no campo da política monetária, com taxas de juro próximas do zero e extraordinários programas de compra de activos por parte dos Bancos Centrais, parece não existir margem de manobra para enfrentar uma possível nova crise. Por outro lado, a política orçamental é entendida como politicamente indesejada, devido aos elevados níveis de dívida pública ou ao possível agravamento do défice externo.
O artigo parece-me equivocado na forma como apresenta estas alternativas e, sobretudo, como as articula. Partilho da análise crítica das actuais opções políticas. Temos uma política monetária expansionista que se prolonga há demasiado tempo. Este tipo de acção é eficaz em momentos de crise aguda em que os mercados financeiros entram em pânico, como se viu em 2008-09. No entanto, as continuadas injecções de liquidez feitas pelos poderes monetários públicos, na ausência de boas oportunidades de investimento em novos sectores, resultam numa economia enviesada para o investimento naquilo que o sector financeiro mais favorece: activos financeiros (como acções) e imobiliário. Em algumas partes do mundo, há sinais preocupantes de bolhas nestes dois mercados. A próxima crise parece ser uma questão de tempo.
O problema está na política orçamental. A maior parte dos Estados enveredou por políticas de austeridade, que penalizam a procura e o emprego e, portanto, diminuem as oportunidades de investimento atrás assinaladas. A actual austeridade alimenta assim a actual euforia em alguns mercados. Se, no entanto, se adoptasse uma política orçamental expansionista, financiada pela política monetária, devidamente articulada com uma política industrial e comercial que promove certos sectores em detrimento de outros, seria possível combinar recuperação económica com um crescimento equilibrado e um reequilíbrio das contas externas dos Estados. Os medos de hiperinflação assinalados no artigo de Elliot são completamente infundados num regime de elevada capacidade produtiva por utilizar (medida por capital ocioso e desemprego). O problema coloca-se nos efeitos políticos desta combinação de políticas. Com diminuição do desemprego, os salários aumentam e a posição de poder dos trabalhadores na economia melhora.
Resumindo, as actuais opções políticas estão a participar activamente na criação de uma nova crise. É um erro pensar que os instrumentos de política contra-cíclica estejam esgotados – pelo menos para os países que dispõem de moeda própria. As políticas a seguir não se escolhem pela sua eficácia teórica, mas sim por quem sai vencedor do conflito social. Aqui chegados, é certo que não há grandes motivos para optimismo.
Concordando com o benefício que é atribuído ao capital financeiro e que explica boa parte destas políticas no curto/médio prazo não deve deixar de se ter em conta numa análise mais compreensiva a vertente malthusiana da questão. A crise e as políticas que estiveram na sua base e que se lhe seguiram têm como objectivo último degradar a capacidade produtiva das economias em geral de modo a reduzir a população mundial. Somos 7 mil milhões e a crescer e os recursos são limitados. Desde que descobriram que o planeta é finito que os capitalistas perceberam que chegará um momento em que não vai chegar para toda a gente. Pelo menos segundo os padrões de vida a que nos habituámos. They are just killing us softly...ou nem por isso.
ResponderEliminarCoisas indesejáveis mas possivelmente certas: a próxima bolha quando rebentar vai espalhar a porcaria que está lá dentro e periféricos como Portugal vão ficar, no mínimo, salpicados.
ResponderEliminar"Do caos sairá a ordem"...onde é que eu já vi,li ou ouvi isto??
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