quarta-feira, 11 de março de 2015
A austeridade não é uma «questão técnica», Mr. Draghi
Na quinta-feira passada, quando Mário Draghi anunciou, na conferência de imprensa em Chipre, o início do programa de expansão monetária, através da compra de dívida pública (e que exclui a Grécia), os juros da dívida portuguesa caíram abruptamente. Como assinalou o João Galamba nesse mesmo dia (facebook), esse efeito imediato deveria uma vez mais ser suficiente para «calar aqueles que insistem em dizer que a evolução dos juros não se deve ao BCE, mas a um alegado sucesso das políticas de austeridade do governo», pois «não consta que tenham surgido novas medidas do governo português durante essa conferência de imprensa de Draghi».
Mais optimista quanto ao crescimento na zona euro, Draghi não deixou contudo de assinalar uma vez mais que a concretização desse optimismo estava «dependente da aplicação total das medidas políticas» de reforma nos diferentes países, incluindo as que se referem à flexibilização do mercado de trabalho. «Não há qualquer espaço para complacência», acrescentou Draghi. Mas a declaração mais relevante surgiu, neste contexto, a propósito da Grécia. Questionado sobre as negociações com o governo grego, Draghi voltou ao tema das «condições necessárias», para sentenciar que «o BCE é uma instituição baseada em regras, não é uma instituição política». Como se as «regras» se resumissem a procedimentos técnicos sem significado político. Sim, as tais regras inerentes às «reformas estruturais» e à imposição de medidas de austeridade.
É de facto política a pressão do BCE sobre a Grécia, denunciada por James Galbraith, e exerce-se através de «mecanismos que afetam a liquidez dos bancos gregos e as opções de financiamento do governo», por forma a gerar incerteza quanto ao futuro próximo e a condicionar as negociações, subvertendo assim o acordo alcançado na reunião do Eurogrupo de 20 de Fevereiro. Não Mr. Draghi, a austeridade não é um «protocolo técnico»: é uma escolha profundamente política e ideológica. You know that.
Esta situação política na Europa faz-me lembrar os Gregos com seu mítico cavalo em Tróia. mas aqui em terra firme e não no Olimpo, o cavalo foi outro… Para lá os gregos foram com armas, bagagens e muita esperteza…aos troianos nem Apolo os salvou.
ResponderEliminarJogaram com o povo grego mais uma vez…foi o que foi…Só que Tsipras não chega a Ulisses nem Yanis Varoufakis chega aos calcanhares de Aquiles.
E no entanto vivi com alegria alguns instantes… Adelino Silva
"calar aqueles que insistem em dizer que a evolução dos juros não se deve ao BCE, mas a um alegado sucesso das políticas de austeridade do governo"
ResponderEliminarEu não percebo a insistência nesta discussão estéril, particularmente quando os 2 "lados" têm razão e sabem que ambos têm razão: são as medidas do BCE que provocam a descida das taxas de juro; nem todos os países usufruem desse efeito, e o controlo do défice é uma condição necessária para que isso aconteça. É assim tão difícil de conciliar as duas "visões"?
Toda esta cena à volta da Grécia!
ResponderEliminarMas será que os gregos, lá porque mudaram de governo vão fazer alguma coisa de diferente de viver por conta da 'solidariedade' europeia?
Uns coirões que acham que podem ter de salário mínimo 700 euros a apanhar azeitonas e a servir à mesa de turistas?
Por outro lado temos a estranha parolice de bem-pensantes que só falam das complexidades da macro-economia e ignoram o desgoverno de décadas e as arruaças de políticos que à direita abrem as portas à emigração e à esquerda só realizaram os anúncios que aumentam a despesa pública.
"Uns coirões que acham que podem ter de salário mínimo 700 euros a apanhar azeitonas e a servir à mesa de turistas?" José
ResponderEliminarbingo!... em cheio, José, nu fundo, as suas opiniões sobre economia e política resumem-se a "coirões" que trabalham por um salário mínimo e uns patrões sacrificados, que têm de os pagar... será que os portuguese,s que nem 530 € recebem de salário mínimo, são menos "coirões"? por essa ordem de ideias, o tempo da escravatura é que era bom, aí os empresários não eram os sacrificados...
mais de 700 euros era o salário mínimo na Grécia antes da intervenção da Troika... apenas será reposto progressivamente, enquanto patrões e empresários praticaram, intensivamente, a fuga ao fiscal e contributiva.
Por ser de 700 euros + fuga ao fisco mais tudo o que é típico de coirões é que chegou a troika.
ResponderEliminarPara os portugueses aos miseráveis 530 corresponde um custo de mais 850 por cada mês de trabalho.
Mas o conforto dos dispensados de fazer contas faz-se na dualidade explorador/ coitadinhos - bom proveito.
Ora mostre lá o mesmo gráfico mas compare com o da Grécia.
ResponderEliminarE já agora em vez de pôr para o último mês, meta para os últimos, vá, 6 meses.
Usar os dados para distorcer opiniões é muito feio. :)
E já agora, concordo com o efeito ECB. Mas sozinho não explica tudo, tal como a comparação com a Grécia decerto irá mostrar. (A menos que consiga de alguma maneira distorcer escalas e tinelines como por vezes tenho visto noutros lados )
Políticas fiscais responsáveis afectam, e muito, a percepção de risco dos investidores.
Se eu como investidor sei que uma empresa, que está a recuperar a sua viabilidade económica, está prestes a entrar num regabofe despesista, então vou fugir desse investimento. Se todos pensarem igual, ninguém investe, criando dificuldades de financiamento à empresa.
É por isso que o governo tem de passar uma imagem clara de controlo das contas públicas.
Se onde cortou e como controlou as contas podia ter sido de forma diferente eu aceito que discorde.
Agora questionar que não é preciso fazer nada e que o ECB resolve, é que me parece uma opinião distorcida e pouco séria para alguém que produz opinião pública...