quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Dos maus resultados da banca


A banca portuguesa terminou a ronda de apresentação de resultados, em 2014, acumulando mais de 500 milhões de euros de prejuízo. Cinco breves notas de pessimismo:

1 - Embora os prejuízos caiam, muito à conta da redução de número de trabalhadores, o crédito em risco continua a crescer, segundo o último relatório de estabilidade financeira do Banco de Portugal. As empresas continuam a deixar de pagar créditos em número crescente, reflexo de uma retoma económica propagandeada, mas inexistente.

 2 - Os balanços da banca têm vindo a ser diminuídos – menos endividamento, menos crédito concedido. No entanto, o que é racional para cada banco, tomado individualmente, resulta num racionamento do crédito agregado com consequências para toda a economia e para … a procura de crédito.

3 - Um dos factores que tem permitido manter a banca a flutuar foi Angola, com boa parte da banca portuguesa a beneficiar do boom do petróleo angolano. Com a profunda crise que se avizinha neste país, os impactos serão inevitáveis. Se as operações do BES em Angola são indicativas da gestão bancária dos bancos portugueses nesse país, então teremos muitos problemas pela frente.

4- A inspecção levada a cabo pelo BCE aos balanços dos grandes bancos nacionais, coma excepção do BPI, encontrou enormes discrepâncias na contabilização de activos e passivos. Tal avaliação indicia que a banca portuguesa pode andar a “empurrar com a barriga” maus activos, de forma a não assumir perdas. Um sistema bancário assim está condenado a ser um lastro na economia nacional, com as ocasionais falências pelo caminho.

7 comentários:

  1. "As empresas continuam a deixar de pagar créditos em número crescente"

    Como se confirma aqui:
    http://economico.sapo.pt/noticias/ha-sete-anos-que-nao-havia-tantas-empresas-a-sair-de-incumprimento_211797.html

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  2. "menos endividamento, menos crédito concedido"

    Para quem considera que o problema é o excessivo endividamento, nomeadamente do sector privado (empresas e famílias), não percebo este apelo ... a mais endividamento.

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  3. Crédito em risco: pag 33, aqui

    http://www.bportugal.pt/pt-PT/EstudosEconomicos/Publicacoes/RelatorioEstabilidadeFinanceira/Publicacoes/REF_Nov2013_p.pdf

    E, sem crédito, não há empresas nem economia... A dívida não é toda igual.

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  4. O link acima está errado. pag 33 deste link:

    https://www.bportugal.pt/pt-PT/EstabilidadeFinanceira/Publicacoes/RelatoriodeEstabilidadeFinanceira/Publicacoes/Relatorio%20de%20Estabilidade%20Financeira_nov2014.pdf

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  5. Caro Nuno Teles,

    Agradeço o seu link. Eu não sou economista nem acompanho os relatórios do Banco de Portugal por isso dependo de jornais (neste caso da especialidade) para sustentar as minhas análises. Não estou portanto capacitado para esclarecer esta aparente discrepância de links. Pedia-lhe, se possível, que o fizesse.
    O que posso notar, como leigo, é que o relatório que linka é de Novembro de 2014 (o gráfico 31 refere 2014 S1 - 1º Semestre?) e a notícia refere "dados divulgados ontem pelo Banco de Portugal". Será essa a causa da aparente discrepância?

    Quanto à sua frase "A dívida não é toda igual", concordo plenamente com ela, valorizando uma análise desagregada (caso a caso - " o que é racional para cada banco, tomado individualmente") e não para uma análise agregada.

    Numa análise agregada, e não havendo fontes de financiamento internas, o aumento do crédito só se pode traduzir em aumento de endividamento externo, que segundo consta, é já um grave problema da economia portuguesa (particularmente o endividamento privado).

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  6. Caro Anónimo,

    Não me parece que a diferença de datas seja a razão para a a aparente discrepância. Já que o último boletim estatístico do banco de portugal mostra os "non-performing loans" a crescerem em todos os segmentos de crédito até Novembro de 2014. pág 77

    https://www.bportugal.pt/pt-PT/Estatisticas/PublicacoesEstatisticas/BolEstatistico/Publicacoes/BEJan15.pdf

    Não tenho acesso ao documento original em que se baseia a notícia, mas desconfio que aqueles números sejam 2brutos" e não líquidos". Ou seja, o número de clientes que estavam em incumprimento e recuperaram pode ter crescido, mas enquanto isso o numero acrescido de créditos em incumprimento mais que compensou essa diferença. Outra hipótese seria o número ter caído, mas o valor aumentado. Nao me parece que seja o caso.

    Quanto ao aumento do crédito, depende de caso a caso. de forma simples: se o crédito aumenta para comprar mercedes, o endividamento externo aumenta; se for para comprar máquinas estrangeiras para produzir exportações ou substituição de importações, aumenta no curto prazo, mas diminui no médio e longo; se for para comprar produção nacional, o efeito é nulo.

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  7. Mais uma vez agradeço o link. Como leigo na matéria só posso constatar que é difícil fazer análises quando nem notícias de um jornal da especialidade servem e é necessário recorrer a documentos técnicos com 353 páginas!
    (embora, compreensivelmente, não consiga esclarecer totalmente a discrepância por falta de indicação da fonte da notícia).

    Quanto ao crédito: nunca vi nenhuma análise ao nível global do endividamento externo (privado) distinguir entre "bom" endividamento e "mau" endividamento. O que posso imaginar é que, em geral, o perfil de endividamento tem sido maioritariamente "mau" face aos resultados. Não me parece que apelar a mais crédito conduza a uma alteração desse perfil.
    Também na sua análise ("resulta num racionamento do crédito agregado") não faz essa distinção.
    Já o exemplo do mercedes, remete-me para o constante apelo a um aumento do consumo agregado (o problema é o consumo e não a oferta). Talvez também aqui fosse necessário distinguir entre consumo "bom" e consumo "mau".

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