Só não se safa da estupidez pseudo-jornalística. Mande um pedido de direito de resposta ameaçando histericamente os tipos com um processo se não retirarem o artigo uma vez que se referia a este dispositivo. Acrescente coisas como Vocês não sabem com quem se meteram e escreva a tinta vermelha.
Caro Ricardo Paes Mamede, Depois de já quase ter desistido de assistir ao Prós e Contras, a seu prestação e a do Ricardo Arroja demonstraram que, apesar de tudo, há convidados que vale a pena ouvir. Desde logo, e entre muitas outras razões, porque não tiveram "receio" de concordar em alguns pontos essenciais apesar de todos sabermos que discordam profundamente em muitos outros pontos. E esse ponto essencial de concórdia foi a questão das diferenças na estrutura produtiva dos diferentes países da UE, que essa mesma UE deve acomodar, e que não permitem uma leitura de produtivos/trabalhadores contra ineficientes/preguiçosos. Esta última leitura foi aliás rejeitada por ambos.
E eu penso que este ponto de concórdia devia aliás ser mais valorizado em toda esta discussão como ponto de partida (comum) para toda a restante análise da situação actual e das soluções possíveis daqui para a frente. É uma discussão longa e neste comentário apenas afloro o início: 1. A estrutura produtiva condiciona muitas coisas (desde logo a riqueza que é possível gerar e o potencial bem-estar da população), é determinado por muitos factores (desde logo pela preparação da sua mão-de-obra), e está sujeita a muitas condicionantes (concorrência, globalização, mercados de capitais, choques petrolíferos, ...). 2. No momento da entrada na UE Portugal e a Grécia (vou ficar apenas por estes 2 países) tinham estruturas produtivas muito "atrasadas" (para simplificar) face aos países "mais avançados" (para simplificar) da UE; 3. A entrada na UE teve como objectivo, entre outros, modernizar essa estrutura produtiva; 4. Beneficiando da solidariedade dos seus parceiros europeus, PT e a GR beneficiaram nas últimas décadas de programas destinados a ajudar a "modernizar" a estrutura produtiva e assim "convergir" com os seus parceiros. Esses programas (fundos estruturais, FSE, ...) foram desenhados em cooperação voluntária (e negociação difícil): não foi nunca necessário recorrer a qualquer tipo de chantagem (histórica, p. ex.) para que PT e a GR fossem recebedores líquidos de uma ajuda que provavelmente nenhum outro país do mundo recebeu nesse período. 5. Antes de prosseguir, e independentemente do que viermos a dizer daqui em diante, julgo que é necessário reconhecer essa solidariedade e agradecer aos nossos parceiros europeus. 6. Último ponto neste comentário. Julgo que existiu desde longo um grande equívoco quanto à natureza desta solidariedade: ela destinava-se a promover condições de mudança estrutural das nossas economias, mas porventura alguns de nós (talvez os mais federalistas) passaram a ver essa solidariedade como tendo o objectivo de criar um espaço onde todos os europeus tivessem o mesmo padrão de vida. Isso até poderia vir a acontecer, mas de uma forma indirecta: a mudança estrutural das economias, financiadas pela solidariedade dos nossos parceiros, poderia efectivamente traduzir-se (no final) numa maior "convergência" dos padrões de vida. Lentamente começámos a interiorizar e a reivindicar essa convergência expressa, por exemplo, nas comparações salariais entre os mesmos profissionais em diferentes países, esquecendo três coisas: que a solidariedade existiu (existe?), mas que para ser solidariedade tem de ser voluntária e não pode ser reivindicada nem o resultado de uma chantagem; que para haver essa convergência teria mesmo de haver uma mudança estrutural das nossas economias; que a solidariedade visava essa mudança estrutural e não, de forma directa, qualquer "convergência" entre o padrão de vida dos países da UE.
Algumas questões que se coloca daqui para a frente (ainda muito longe de chegar ao euro) são as seguintes: - houve efectivamente uma mudança estrutural das nossas economias resultante da solidariedade dos nossos parceiros europeus? - Seria razoável esperar que houvesse neste espaço de tempo? - Quais as consequências que uma mudança estrutural qualitativa do tecido produtivo tem numa vasta camada da população com baixas qualificações?
Só não se safa da estupidez pseudo-jornalística. Mande um pedido de direito de resposta ameaçando histericamente os tipos com um processo se não retirarem o artigo uma vez que se referia a este dispositivo. Acrescente coisas como Vocês não sabem com quem se meteram e escreva a tinta vermelha.
ResponderEliminarCaro Ricardo Paes Mamede,
ResponderEliminarDepois de já quase ter desistido de assistir ao Prós e Contras, a seu prestação e a do Ricardo Arroja demonstraram que, apesar de tudo, há convidados que vale a pena ouvir. Desde logo, e entre muitas outras razões, porque não tiveram "receio" de concordar em alguns pontos essenciais apesar de todos sabermos que discordam profundamente em muitos outros pontos. E esse ponto essencial de concórdia foi a questão das diferenças na estrutura produtiva dos diferentes países da UE, que essa mesma UE deve acomodar, e que não permitem uma leitura de produtivos/trabalhadores contra ineficientes/preguiçosos. Esta última leitura foi aliás rejeitada por ambos.
E eu penso que este ponto de concórdia devia aliás ser mais valorizado em toda esta discussão como ponto de partida (comum) para toda a restante análise da situação actual e das soluções possíveis daqui para a frente. É uma discussão longa e neste comentário apenas afloro o início:
1. A estrutura produtiva condiciona muitas coisas (desde logo a riqueza que é possível gerar e o potencial bem-estar da população), é determinado por muitos factores (desde logo pela preparação da sua mão-de-obra), e está sujeita a muitas condicionantes (concorrência, globalização, mercados de capitais, choques petrolíferos, ...).
2. No momento da entrada na UE Portugal e a Grécia (vou ficar apenas por estes 2 países) tinham estruturas produtivas muito "atrasadas" (para simplificar) face aos países "mais avançados" (para simplificar) da UE;
3. A entrada na UE teve como objectivo, entre outros, modernizar essa estrutura produtiva;
4. Beneficiando da solidariedade dos seus parceiros europeus, PT e a GR beneficiaram nas últimas décadas de programas destinados a ajudar a "modernizar" a estrutura produtiva e assim "convergir" com os seus parceiros. Esses programas (fundos estruturais, FSE, ...) foram desenhados em cooperação voluntária (e negociação difícil): não foi nunca necessário recorrer a qualquer tipo de chantagem (histórica, p. ex.) para que PT e a GR fossem recebedores líquidos de uma ajuda que provavelmente nenhum outro país do mundo recebeu nesse período.
5. Antes de prosseguir, e independentemente do que viermos a dizer daqui em diante, julgo que é necessário reconhecer essa solidariedade e agradecer aos nossos parceiros europeus.
6. Último ponto neste comentário. Julgo que existiu desde longo um grande equívoco quanto à natureza desta solidariedade: ela destinava-se a promover condições de mudança estrutural das nossas economias, mas porventura alguns de nós (talvez os mais federalistas) passaram a ver essa solidariedade como tendo o objectivo de criar um espaço onde todos os europeus tivessem o mesmo padrão de vida. Isso até poderia vir a acontecer, mas de uma forma indirecta: a mudança estrutural das economias, financiadas pela solidariedade dos nossos parceiros, poderia efectivamente traduzir-se (no final) numa maior "convergência" dos padrões de vida. Lentamente começámos a interiorizar e a reivindicar essa convergência expressa, por exemplo, nas comparações salariais entre os mesmos profissionais em diferentes países, esquecendo três coisas: que a solidariedade existiu (existe?), mas que para ser solidariedade tem de ser voluntária e não pode ser reivindicada nem o resultado de uma chantagem;
que para haver essa convergência teria mesmo de haver uma mudança estrutural das nossas economias; que a solidariedade visava essa mudança estrutural e não, de forma directa, qualquer "convergência" entre o padrão de vida dos países da UE.
Algumas questões que se coloca daqui para a frente (ainda muito longe de chegar ao euro) são as seguintes:
- houve efectivamente uma mudança estrutural das nossas economias resultante da solidariedade dos nossos parceiros europeus?
- Seria razoável esperar que houvesse neste espaço de tempo?
- Quais as consequências que uma mudança estrutural qualitativa do tecido produtivo tem numa vasta camada da população com baixas qualificações?