segunda-feira, 28 de julho de 2014
Leituras
«A falência do Grupo Espírito Santo, cujos interesses se espalham por múltiplos sectores de actividade económica e financeira, desde a saúde ao turismo, do imobiliário aos diamantes, da construção civil às obras públicas, levanta a dúvida sobre a sacrossanta tese neoliberal, segundo a qual "os privados estão mais vocacionados e são mais competentes para gerir as empresas do que o Estado". Esta tese, que parece ter pés de barro, tem levado à última sanha de privatizações, muitas vezes de empresas do Estado que apresentavam lucros, como os CTT ou a ANA. Até a Caixa Geral de Depósitos esteve nesta lista de património público a passar para as mãos da "iniciativa privada". (...) Responderão os aficionados neoliberais: as decisões das empresas privadas não prejudicam o Estado, nem os contribuintes, mas apenas os accionistas. Este argumento é, pelos vistos, falacioso, sobretudo depois das consequências da presente crise europeia.»
Tomás Vasques, O mito da boa gestão privada
«O BES foi seguramente, nos últimos dez anos, o banco que mais investiu em publicidade na comunicação social. Essa estratégia nunca foi inocente. Na sua mão tinha sempre a espada de Dâmocles que levava o director de qualquer rádio, jornal ou televisão a pensar duas vezes antes de publicar algo desagradável para o banco verde. A esta actuação aliava uma outra: o convite a jornalistas para irem a conferências de uma semana em estâncias de neve na Suiça ou em França, onde de manhã se ministravam cursos de esqui na neve e à tarde se ouviam especialistas na área económica e financeira. E no Verão repetia-se a dose: uma semana num barco algures no Mediterrâneo, acompanhando a Regata do Rei, até que num dos dias se subia a bordo do veleiro (ou será iate?) onde estava Ricardo Salgado para uma conversa descontraída sobre o banco.»
Nicolau Santos, Duas ou três coisas sobre o caso Salgado
«Como bem refere o Professor Pedro Lains não faltam por aí fascinados da finança e apologistas da propaganda. E como andam eles a lidar com o caso? Resposta: a inverter as setas causais e a tapar o elefante com lenços de assoar! Veja-se o caso do investigador e colunista Rui Ramos. Diz que o BES tem sido "um dos principais braços financeiros do poder político democrático, um dos meios através dos quais os governos controlaram a economia". Bom: é precisamente o contrário. Vá... é pelo menos muito mais plausível argumentar que tem sido o poder oligárquico que tem instrumentalizado o poder democrático! Certo?! E veja-se o caso do colunista João Pereira Coutinho. Como se poder dizer taxativamente que " Quem confunde BES com o BPN deve fazer exames à cabeça"?! E será que quando é um privado a entrar em incumprimento está tudo bem mas quando é o público a restruturar a dívida está tudo mal?! .... Isto é, e em suma: os media são "comunicação social" ou "comunicação anti-social"?! Será tudo apenas má informação ou, afinal, contra-informação?»
Sandro Mendonça, desBESificar o país
«Uma coisa são as considerações subjectivas que possamos fazer sobre a culpabilidade de alguém, outra, diferente, é a justiça seguir um curso que não é determinado, apenas e só, pela lei e limitado pelos direitos, liberdades e garantias, mas que se move pela oportunidade e por aquilo que é popular. Pior que isso só mesmo a sensação com que se fica de que a justiça, em Portugal, só chega aos poderosos quando estes já perderam a sua influência social ou o seu poder político. Temos já casos suficientes que nos permitem dizer que a justiça em Portugal bem podia adotar como lema a expressão inglesa "kick them when they fall down". (...) Em Portugal, se estiveres escudado no poder a justiça não te chega, mas caso o teu poder se comece a diluir, ela ferra-te o dente, à primeira oportunidade, e fá-lo com prepotência.»
Pedro Adão e Silva, Uma justiça de pelourinho
«É por isto tudo que não aceito a culpabilização sistemática dos mais pobres e mais fracos e da classe média, por terem vivido “acima das suas posses”, mesmo quando não o fizeram. E mesmo quando havia uma casa a mais, um carro a mais, um ecrã plano a mais, um sofá a mais, um vestido ou um fato a mais, umas férias a mais, uma viagem a mais, recuso-me a colocar estes “excessos” no mesmo plano moral dos “outros”. Algum moralismo salomónico, que coloca no mesmo plano a corrupção dos poderosos e dos de cima com os pequenos vícios dos de baixo e do meio, tem como objectivo legitimar sempre a penalização punitiva de milhões para desculpar as dezenas. É por isto que esta crise corrompe a sociedade e vai deixar muitas marcas, mesmo quando ninguém se lembre de Portas e de Passos.»
José Pacheco Pereira, Só com os criminosos pobres é que não se pode comer à mesa
Tem o Vasques toda a razão.
ResponderEliminarOs privados têm por grave defeito, não poderem pôr as polícias e os tribunais a sacar dinheiro para financiar as suas ambições ou as suas ineficiências!
O Nicolau do Laço, cumpre o seu ritual purificador, para enfrentar esta Novíssima Era Pós-Salgado reinstaurado no seu estado virginal. Comovente!
ResponderEliminarNão se confunda justiça com burocracia.
ResponderEliminarO Ministério Público é burocracia organizada para intervir segundo prioridades definidas administrativamente,
Alarme público é um dos gatilhos da sua acção, pelas mesmas razões que começam por ser factor de contenção.
De repente a análise social e política vira escrumínio moral...não comove|
Cada um come à mesa com quem bem entende; por mim evito sobretudo quem não mastiga de boca fechada.
ResponderEliminarQuem mistura consumo e investimento não tem lugar à mesa onde se trata de economia; mas isso não incomodará o JPP que tem por principal missão gerar uma boa história com um irredutível fundo 'moral'.
Umas vezes gritasse:
ResponderEliminar"o BES tem sido "um dos principais braços financeiros do poder político democrático, um dos meios através dos quais os governos controlaram a economia". Bom: é precisamente o contrário."
Outras vezes: "as nomeações para a CGD, BES, BCP são claramente políticas"
Em que ficamos?
A afirmação de jose quanto ao certeiro apontamento de Tomás Vasques revela duas coisas:
ResponderEliminar-Alguma irritação e crispação pelo rigor do exposto.
-Alguma pobreza conceptual na defesa da sua "dama".Não desmente o afirmado pelo autor já citado e parece acantonar-se às "polícias e aos tribunais"
"O esquecimento " oportuno que desde o 25 de Abril houve 34 ministros e secretários de Estado que passaram pelo Grupo Espírito Santo revela que mesmo esse recanto paradísiaco privado não passa duma farsa.
É ver os perdões fiscais decididos pelo governo e feitos cumprir pelos tribunais e pela polícia quando necessário. Ou os contratos swapp...ou as PPP...ou tudo o que diga respeito ao florescimento privado em detrimento dos que trabalham e do que é público
Os factos são uma coisa tramada. E a recusa em vê-los uma coisa confrangedora
De
O comentário de Jose sobre um fragmento dum texto de Nicolau Santos revela também duas coisas:
ResponderEliminar-Uma excessiva acrimónia sobre o seu autor, revelando que não se pretende debater, mas sim reduzir a (pseudo)-argumentação a comentários mesquinhos do género "o Nicolau do laço".
-Acusações e juizos de intenção que não têm qualquer base. Tanto mais patente quanto o denunciado pelo Nicolau Santos confirma um modus operandi mafioso do grande poder económico.
E quanto a isso o que sobressai é o silêncio.o silêncio atroador do jose.
Nada comovente,convenhamos.
De
O comentário do jose sobre a justiça e a burocracia revela da mesma forma duas coisas:
ResponderEliminar- Que à substância do exposto pelo Pedro Adão e Silva o sr jose diz nada.
-Que o "alarme público" é algo que revolta o sistema digestivo do sr jose. Investigar o que "cheira mal" e o que se torna ameaça para o poder económico /goveramental pode acarretar "alarme público".
Adivinham-se algumas saudades do tempo em que era tudo a "Bem da Nação"?
De
O comentário do sr jose sobre o (excelente) texto de José Pacheco Pereira revela também duas coisas
ResponderEliminar( por acaso mais algumas , mas adiante):
-Uma sobranceria e um jeito de certa forma indelicado e grosseiro ao falar da forma como o faz dos "comensais". Não se discute o justo direito de cada um comer com quem quiser.o que se discute é a tentativa de "inocentar" os que são efectivamente responsáveis pela presente situação, escudada na "liberdade" de se poder comer à mesa com quem tem "estes bons modos" aqui tão curiosamente detalhados.
-A tentativa de esconder "a corrupção dos poderosos e dos de cima" com o "investimento" (!)
Duma assentada a forma de legitimar o roubo e o apetite voraz do grande poder económico , escondido atrás da "economia" e do "investimento".
Enquanto, duma forma que considero sinistra, se tenta legitimar esta forma sórdida de agir por parte de, mais do que o BES, este sistema" em que vivemos
De
Falso.
ResponderEliminarO pagamento da dívida privada tem sido feito à custa do público
Os exemplos do BPN e afins aí estão a desmentir as teses dos coitados dos privados e da sua "governança" idependente.
"A nossa dívida pública que antes da crise estava ao nível da Alemanha e da média da União Europeia, foi subindo em flecha em consequência das erradas respostas à crise; da passividade e cumplicidade dos grandes Países da UE com os ditos mercados e a recusa do BCE em abrir, pelo menos, uma excepção perante a crise financiando os Estados, como acontece com o Banco do Japão, da Inglaterra ou a FED nos EUA. Mas a dívida cresceu assustadoramente também porque o sistema financeiro com o apoio dos seus governos tem estado a procurar resolver o seu desendividamento e capitalização à custa da vida pública. É a resolução da dívida bancária (privada), à custa do Orçamento de Estado (dívida pública), isto é, dos contribuintes.
É bom lembrar que, se em 2008, a dívida pública portuguesa em percentagem do PIB, estava ao nível da média da União Europeia, já a dívida privada, quer a das sociedades não financeiras, quer financeiras, era muito superior à média da União Europeia. Mas sobre a dívida privada e designadamente do sistema bancário continua a prevalecer o pacto de silêncio"
Isto dizia Carlos carvalhas há tempos.
É ver o que se passou na realidade.E de como somos todos nós a pagar os bons negócios (para eles) e os maus negócios e a má gestão (deles).
De
Portanto o GES/BES e os BPNs podem ir ao fundo e o Estado olhar para o lado?
ResponderEliminarA preocupação com a gestão das ditas empresas públicas deveria ser uma preocupação de todos.
ResponderEliminarMas a propaganda neoliberal tem destas coisas; manipula ,confunde e aldraba.
Vejamos: a quem cabe a responsabiidade de nomear os gestores para as ditas empresas?
Ao governo.Quem tem governado este país desta forma catastrófica?Os grandes interesses económicos ( de que o BES é apenas um soberbo exemplo)por interposto poder político ( neoliberal e não só), que se submete aquele e de que tira o devido proveito.
Ninguém de boa fé desmente a promiscuidade entre os interesses privados e os partidos do, chamado por portas, arco da governação.Os exemplos são tantos que se tornam fastidiosos.De tal forma que hoje é ponto assente que gestores foram colocados à frente das empresas públicas apenas para as desmantelar e oferecê-las nas "melhores" condições possíveis aos privados.
Mas há mais, olá se há Falemos então dos verdadeiros "asilados" do Estado, os tais interesses privados, dos perdões fiscais, das dívidas de milhóes que prescrevem, dos benefícios fiscais à finança e monopolistas, dos contratos das PPP, swaps, etc., das sedes dos oligopólios nacionais que se localizam em paraísos fiscais.
Tudo interesses muito privados. Pagos com o bolso de cada um de nós
De
Por acaso, se a Sonae falir, o estado também paga : paga os subsidios de desemprego de todos os que perderam emprego devido á má gestão privada.
ResponderEliminarAs coisas não são lineares, e problemas económicos no tecido privado acabam sempre por se repercutir no bolso de todos os contribuintes.
Mas é claro, os neo-liberais não percebem nada disto, só cá andam para empurrar uma moda e um discurso que lhes paga o prato de lentilhas no momento.
Quando as teorias da treta neo-liberal cairem em desgraça, estes Josés da vida rapidamente adoptam o discurso que reinar no momento. E se o discurso for o do comunismo radical, que seja! Tudo pelo pratinho das lentilhas, que sabe tão bem!
Por falar em lentilhas, o subsídio de desemprego compete com vantagem sobre uma larga maioria de novas oportunidades de emprego, o que, caso não seja uma qualquer malfeitoria neo-liberal, parece indicar que em economia é de esperar que andar para trás também seja caminho.
ResponderEliminarA não ser que um governo de esquerda e patriótico proíba as recessões, o que não seria de admirar!
Por falar mesmo em "lentilhas"....
ResponderEliminarOu de como qualquer pretexto é bom para apagar este sabor amargo, inapagável e putrefacto dum mundo que se desmorona desta forma tão patética e criminosa, como cega e pretensamente impune.
O que se faz para "apagar" das notícias os banqueiros e a banca, os amigos e os negócios, os corruptos e os criminosos.
...perdão: "os investimentos"
De
COM A DEVIDA VÉNIA:
ResponderEliminar"Está tudo bem com o BES"
Publicado por Ivo Rafael Silva em 31 Julho 2014
Tal como Pedro Passos Coelho, Cavaco Silva e Carlos Costa nos tinham diligentemente “informado” há poucos dias, parece que está mesmo “tudo bem” com o BES. Finalmente, alguma estabilidade. Finalmente, os mercados, livres que estão da agitação e perigo de “eleições” e “crise política”, podem estar tranquilos e banhar-se na solidez, correcção, licitude e transparência das contas de um dos maiores bancos nacionais.
Não há ‘mesmo’ razões para alarme. Os problemas são ‘mesmo’ no GES que, aliás, não tem nada a ver com o BES e nada do que se passou no BES foi senão um mero ‘lapso’ sem grande importância. Ao estilo cherne em declarações pós-almoço, “que se calem” aqueles que dizem que isto pode ser um novo BPN. Nada disso. Até porque no BPN, apesar do esforço dos seus valorosos gestores, nunca houve competência suficiente para chegar à “pipa de massa” de mais de 3500 milhões de prejuízo num único semestre. Afinal de contas, por comparação com os gestores do BES, os do BPN não passam de uns tristes amadores.
Mas eu diria que há, ainda assim, um ténue ponto de contacto, uma ligaçãozinha de nada, uma conexão sem importância entre o BPN e o BES. Quer num, quer noutro – procurará garantir o governo – hão-de pagar os do costume. E quanto vai custar isso ao bolso dos portugueses? Quantos mais cortes? Quantos mais serviços públicos vão fechar? Quantos mais desempregados? Quantos mais emigrados? Quantos mais precários? Quantos mais pobres serão necessários, parafraseando Garrett, para se garantir a criação de mais um rico?
Olhando para a montanha de números do prejuízo do BES, sabendo da exponencial e insultuosa acumulação de riqueza dos seus donos, sabendo da total cobertura, protecção e das relações de promiscuidade de governos e, por arrasto, instituições do Estado para com esta imensa gatunagem, não há como não perguntar: quem foi, afinal, que andou a viver “acima das suas possibilidades”? E com o “dinheiro” de quem?