Li já não sei onde um especialista em comunicação norte-americano que aconselhava mais ou menos isto: diz o que tens a dizer uma vez e outra e outra e outra e quando estiveres cansado de o dizer é quando as pessoas começam a prestar atenção pela primeira vez. Bom, aqui vai então uma vez mais, que eu e outros, neste caso Costas Lapavitsas, ainda não nos cansámos de dizer isto: demasiadas esquerdas europeias por essa Europa fora, entretidas com manifestos europeístas, não conseguem dialogar com, e capitalizar, o descontentamento popular cada vez mais eurocéptico, oferecendo assim à extrema-direita uma oportunidade.
Curiosamente, a partir dos anos trinta, a esquerda que resistiu e venceu foi aquela que conseguiu disputar a definição do interesse da comunidade nacional. Isto mesmo é indicado pela história do socialismo no século XX, a história do “primado da política” de Sheri Berman. Foca, entre outros, o caso da Suécia, onde os social-democratas tornaram sua a formulação oriunda da direita nacionalista - Suécia, “a casa do povo” -, dando-lhe um cunho ao serviço da expansão igualitária liberdades e da reforma social criadora de instituições efectivamente partilhadas, num quadro de uma certa autonomia no campo da política económica, claro.
Já que falei da Suécia, aproveito para fazer um ponto indispensável: toda a política social-democrata bem-sucedida assentou na inscrição no capitalismo de mecanismos de coordenação que resolveram vários problemas de acção colectiva gerados pelo atomismo mercantil por via da acção robusta do Estado e da negociação colectiva por este promovida: das falhas de mercado mais tradicionais à compressão das desigualdades, passando pela estabilidade macroeconómica, em especial a que está relacionada com a balança corrente, impedindo a acumulação de défices criadores de dependências externas. Isto pressupôs a disponibilidade de uma panóplia de instrumentos de política pública, económica e de reconfiguração institucional: por exemplo, a negociação salarial centralizada entre sindicatos e patrões, para lá de reduzir as desigualdades, ajuda a garantir que o crescimento dos salários acompanha a produtividade e que a procura interna é compatível com a necessária competitividade externa. Alguém com o mínimo de realismo, acha que é possível replicar isto à escala europeia?
Bom, voltando a Lapavitsas. Ele faz duas propostas para uma alternativa capaz: deixar de escavar os buracos do euro e do federalismo, trocando-os por maior margem de manobra nacional. Tudo em nome de um “eurocepticismo progressista”. É mesmo disto que precisamos para evitar isto:
Boa. Partilhei no Facebook.
ResponderEliminarO mais triste desta campanha é ver a Marisa Matias caladinha sobre o euro, como se fosse possível fazer uma campanha destas sem falar nisto a sério. Pior, a defender, por omissão, a permanência no euro. Depois admira-se dos resultados.
ResponderEliminarNada disto é discutido na campanha para as Europeias porque os partidos políticos na oposição (hoje PS, BE e PCP, amanhã PSD e CDS) insistem em as menorizar tentando aproveitá-las para o combate interno (governo). Ainda não perceberam que os governos aprenderam a relativizar a interpretação interna dos resultados e não mudarão "uma palha" por causa disso.
ResponderEliminarLá está a tal história, dos representantes acharem que são...
ResponderEliminar"os protagonistas"!
Podem lá dizer o que quiserem mas, se julgam que decidem por mim...
"tirem o cavalinho da chuva"!
Uma pessoa, um voto!
Sejam quais forem as questões em causa,
a Esquerda terá aceitar ( ...e concretizar!)
a vontade da maioria!
Se os protagonistas acham que a maioria está errada...
CONVENÇAM-NA!
Impor??? Era o que faltava!
Nota:
Depois digam, que a direita é populista!
( Também gostava que os ditos "protagonistas", explicassem o que é isso, de populista!
Ás tantas... é a vontade do POVO.
...CONVEMÇAM-NO!!! )
Prezo muito não estar sozinho no euro-realismo progressista. Infelizmente, a busca do mito salvífico que vem de fora, típica da cultura nacional, continua a fazer parte das ideias de muitos socialistas democráticos.
ResponderEliminarO grande óbice para a sua credibilidade é ainda a ausência de um plano de desenvolvimento político, económico e social capaz de fornecer um rumo ao país e suportar a turbulência inicial que determinadas opções encetariam/encetarão. É aí que vale a pena investir agora.