segunda-feira, 5 de maio de 2014

A entrada no novo normal


Wolfgang Schäuble aplaude “saída limpa” de Portugal. O Ministro das Finanças alemão aplaude a decisão do seu governo no contexto de uma evolução dos juros determinada sobretudo pela acção do BCE. Para a decisão, também deve ter pesado a relutância política em levar, uma vez mais, esta periferia ao Bundestag. Numa região dependente, a que só por hábito se chama país, as dinâmicas internas são sobredeterminadas externamente. Obviamente, a troika está preocupada com o que resta do tempo em que ainda tínhamos soberania e dos efeitos que isso ainda tem, ou seja, preocupa-se com a Constituição democrática. Na realidade, a Constituição foi a principal ajuda dada à recuperação, já que contribuiu para travar a austeridade mais recessiva, a que é feita pelo lado dos cortes. Significativamente, o próprio governo, tal como está no Documento de Estratégia Orçamental (DEO), beneficiou disso, já que metade do ajustamento orçamental planeado para o próximo ano será feito pela tépida recuperação económica interna e externa. O resto é o mesmo de sempre, dadas as estruturas com escala europeia, mas em dose menor, ou seja, o PS de Seguro com este DEO ficou sem programa. Ontem, Passos já falava de “economia social de mercado”, conceito de origem ordoliberal, mas de que uma social-democracia sem programa suficientemente autónomo sempre gostou. Enfim, a oposição, vai ter de mudar de eixo principal: agitação e propaganda, à boleia dos efeitos do aprofundamento da crise, já não chegam no novo normal. Nunca chegaram, na realidade.

8 comentários:

  1. "Na realidade, a Constituição foi a principal ajuda dada à recuperação, já que contribuiu para travar a austeridade mais recessiva, a que é feita pelo lado dos cortes."

    E agora até as críticas ao Constitucional sem feitas em tons do que ele pode fazer no futuro e não ao impacto que ele teve no passado. Seria curioso alguém ir lembrando que os pálidos sinais que nos são propagandeados como grandes marcos, dificilmente teriam sido alcançados sem a actuação "subversiva" do TC (e de caminho lembrar que o TC não malhou só no Governo, mas acho que essas notícias passaram em letras mais pequeninas).

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  2. O preocupante desta PODRE democracia representativa,

    é constatar que as estruturas directivas instaladas, cozinham os sucessivos remendos,

    desconsiderando o interesse e vontade do Povo.

    Esta treta dos representantes, considerarem que são os protagonistas...

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  3. De cada vez que vejo uma voz contra "esta" democracia representativa até me arrepio. Que tipo de democracia representativa se quer então? Eu relembro os mais distraídos que este desgoverno foi eleito. Mais, de acordo com algumas sondagens, se hoje houvessem novas legislativas, eles teriam ainda assim perto de 25% dos votos.

    De facto, olhando para as alternâncias ou olhando para a fracção de partidos com assento parlamentar, devemos queixarmo-nos desta democracia representativa, mas de quem escolhemos para nos representar. Para os mesmos distraídos, relembro que o meu último boletim de voto tinha 14 (catorze) opções (mais as possibilidades de votar em branco ou anular o boletim).

    É por falta de escolha?

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  4. Não.

    É por falta de credibilidade!

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  5. Também acho.

    Só a troika, na sua arrogância extrema, ainda tem a desfaçatez de dizer que a Constituição é um risco ao cumprimento do “programa de ajustamento”.
    Ultrajante! Só nos resta mesmo o zelo no respeito pela Constituição, afinal o único travão a esta prática autoritária e anti-democrática instalada, em que ninguém foi visto nem achado.

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  6. Por pontos:

    Eu não sei se opções como o MPT, o MRPP, o PAN, o Partido Trabalhista ou o Partido do Atlântico são mais ou menos credíveis do que PS, PPD e PP. Estes três eu sei de certeza que não o são. Como? Basta olhar para o historial!

    Segundo: Paulo Portas e o PP não começaram com desmandos anti-Constituição agora. O próprio Passos Coelho e o bando que negociou com a troika em seu nome deram sempre a entender que politicamente fariam tudo ao seu alcance para reformar o documento. Já nos esquecemos da intenção de fazer uma Revisão Constitucional que foi metida no saco? Se alguém votou a favor destes meninos sem se rever nessa posição, então sim, é combustível que nos leva a pensar no que fazer com "esta" democracia.

    Ponto terceiro: a pergunta "que democracia representativa se quer então" permanece por responder. Quer-se limitar o direito ao voto apenas a uns iluminados? Quer-se decidir tudo por referendo? Quer-se uma app e telemóveis para todos? Televoto? De que nos queixamos, quando nos queixamos "desta" democracia?

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  7. É evidente, que tendo a representatividade perdido a credibilidade e,

    constatando a incapacidade de contrariar a captura dos centros de decisão,

    com as ferramentas permitidas pelo sistema,

    só descortino um caminho para a DEMOCRACIA:

    REVOLUCIONAR!!!

    Nota:

    Com tanta Tecnologia de Informação,

    só a "Representação Política"...

    ... continua na Idade Média!

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  8. Eh pá boa, revolucionar. Então vamos fazer tábua rasa do que temos. Como se constrói uma "verdadeira" democracia?

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