O Estado grego conseguiu ontem “regressar aos mercados” com uma emissão de
obrigações a cinco anos abaixo de 5%. Se o caso português era estranho, o grego
parece digno da “twilight zone”. Um país, com uma dívida pública de 180% de um
PIB que tem estado em contracção ano após ano e com uma taxa de desemprego
quase nos 30%, consegue endividar-se nos mercados internacionais a baixo custo.
A explicação para este sucesso reside em vários factores, alguns deles também
se aplicando a Portugal.
O primeiro é a actual abundância de liquidez nos mercados financeiros em boa parte devida ao juro baixo e às injecções de liquidez que a compra de títulos por parte de bancos centrais induz nos mercados. O resultado é que os títulos dívida cobram um juro baixo, introduzindo incentivos ao investimento noutras paragens com juros mais altos e pressões deflacionárias. Investir em dívida grega será uma das alternativas, sendo outra a compra de acções cujos mercados dão preocupantes sinais de bolha especulativa.
O segundo factor, ainda de ordem externa, encontra-se no enquadramento legal britânico, e não grego, desta emissão de obrigações. Os credores ficam assim protegidos ao abrigo da lei britânica, dificultando assim qualquer futura reestruturação destas obrigações. Seria interessante perceber o que se passa no caso português.
O terceiro factor encontra-se no “sucesso” grego. A economia e o povo grego podem estar de rastos, mas o Estado grego conseguiu um saldo primário (saldo orçamental sem as despesas de serviço da dívida) positivo e um saldo externo equilibrado. Se tais feitos têm pouco ou nenhum reflexo na vida dos gregos, a margem de negociação com os credores oficiais aumenta. Assim, se neste momento o Estado grego já beneficia de taxas de juro baixas e prazos alongados de amortização dos seus empréstimos com a troika, é bem provável que num futuro próximo as condições de pagamento sejam novamente aligeiradas. Aparentemente num novo prolongamento do prazo para 50 anos, um congelamento da taxa de juro e uma extensão do período de carência de juros estão já em cima da mesa.
Conclusão: é possível que para a Grécia, como para Portugal, um período de
estabilização da economia comece agora. A dívida continuará a ser um lastro
sobre a economia e a austeridade regra política durante muitos anos. Qualquer
recuperação económica robusta que diminua significativamente o desemprego
estará arredada. Só uma alteração do panorama político, mais provável ainda
assim na Grécia do que em Portugal, poderá desencadear uma mudança profunda da
economia e sociedade grega. No entanto, o futuro não parece risonho também
neste campo. Definitivamente, não basta fazer apelos vagos a uma outra Europa e
esperar capitalizar com o descontentamento.
Lamentavelmente, a impedir a progressão de forças sociais e políticas que conduzam a uma mudança política profunda na Grécia, está hoje, depois de morto e enterrado o PASOC, o Syriza, um exemplar daquela esquerda palavrosa do género Segurem-me, senão vou-me a eles!, mas que entre outras coisas já veio garantir que não defenderá a saída da Grécia da Zona Euro, o que valeu ao respectivo líder portas abertas em Washington, onde os seus donos se inteiraram de estar intacta a respectiva fidelidade.
ResponderEliminarA maior preplexidade em toda esta cena da dívida corresponde à seguinte questão:
ResponderEliminarA esquerda, a verdadeira, a excelsa, defende o equilíbrio orçamental, defende a dívida, defende a inflação, ou defende o quê para as contas do Estado?
No meio deste arrazoado não se sabe senão que são contra quase tudo o que mexe!!!
O equilíbrio orçamental só pode acontecer se reestruturarmos a dívida.
ResponderEliminarTudo resto é conversa de quem quer continuar a política irresponsável e defendida pela direita de endividar o país a taxas de juro insustentáveis.
Querem alimentar os mercados financeiros? Não contem com a esquerda para isso.
Qualquer recuperação económica robusta que diminua significativamente o desemprego estará arredada.
ResponderEliminarNão vejo por quê. O progresso económico é perfeitamente possível mesmo em ambiente de austeridade por parte do Estado.
Caro Jose, tem toda a razão! nós, da esquerda excelsa estamos contra quase tudo o que mexe! pois estamos! estamos contra os ratos e as ratazanas, contra as baratas, as pulgas, os piolhos e as carraças! E estamos também contra os Vampiros que nos sugam...
ResponderEliminarUma resposta excelente essa do Carlos.
ResponderEliminarQuanto ao sr Luis Lavoura aconselha-se que compre uns óculos
... e que leia algo mais do que as doutrinas do hayek e do friedman.
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