domingo, 13 de abril de 2014
Jogos
Alexis Tsipras afirmou que preferia ver o jogo do Atlético de Madrid contra o Barcelona a assistir ao debate entre Jean-Claude Juncker e Martin Schulz porque no jogo de futebol sempre há competição. Acho a preferência compreensível, mas por razões que vão para lá da previsível convergência política do bloco central europeu. Na realidade, quando assistimos a um jogo de futebol sabemos o que estamos a ver: um jogo de futebol. No debate entre os dois putativos “candidatos” a suceder a Barroso assistimos a uma farsa montada para tentar legitimar o que está a acontecer na União Europeia. Trata-se de comprometer o maior número de partidos com a armadilha europeia, ou seja, com o processo de integração assimétrica realmente existente, que mais não seja para proporem o equivalente programático dos desejos de paz nos concursos de beleza. Repito o que já escrevemos noutro contexto:
Esta eleição é uma farsa porque, na realidade, o futuro Presidente da Comissão continuará a ser escolhido pelo Conselho Europeu e ainda bem que assim é. Se o Presidente fosse escolhido pelo Parlamento Europeu, os interesses dos pequenos países seriam ainda menos ouvidos, dado, entre outros factores, o peso eleitoral dos grandes países.
No jogo entre o Atlético e o Barcelona o vencedor foi inesperado. Desta disputa política artificial só podemos esperar mais do mesmo, com eventuais mudanças para deixar tudo na mesma. Estas eleições são então para eleger deputados ao Parlamento Europeu (PE) e eu espero que um maior número desses deputados acabe por se comprometer com coisas simples: usar o PE como tribuna para a promoção da desobediência nacional e internacional aos ditames europeus e para a defesa dos interesses de quem os elegeu por aqui sempre que alguma coisa de marginalmente relevante por lá passar, o que também implica denunciar federalismos furtivos que reduzem a soberania democrática a um simulacro, fazendo tudo para devolver poderes para a escala onde está a democracia que há quarenta anos temos boas razões para defender e lutando pelo desmantelamento de uma arquitectura monetária e financeira que está a matar a cooperação possível e desejável entre Estados a nível europeu. Não tenho grandes ilusões sobre o PE, nem sobre a democracia com escala supranacional, mas uma tribuna é uma tribuna e estas eleições europeias são além do mais uma oportunidade para enviar um sinal de rejeição às correias de transmissão governamentais de Bruxelas e de Frankfurt.
Factos
ResponderEliminar• As estruturas representativas, estão capturadas pelos interesses instalados…
• Os centros de decisão, estão capturados pelos interesses instalados…
• O reforço do vínculo da decisão nos patamares mais elevados da Representação, blindando ardilosamente a possibilidade do exercício da Soberania do Povo…
• …
Não há Democracia, sem a Soberania do Povo.
“…Não tenho grandes ilusões sobre o PE, nem sobre a democracia com escala supranacional…”
Não passo “cheques em branco”… a representantes.
Concordo e não com o cerne da afirmação de Tsipras. Nisto de políticos é verdade que são todos iguais, mas uns são, de facto, mais "iguais" do que outros. Entre a Juncker e o Schulz, será mais fácil ter uma CE mais virada para o cidadão (digamos assim) com Schulz do que com Juncker.
ResponderEliminarQuanto ao sequestro das instituições, convém referir que o que está em questão nestas eleições são duas de 3 Instituições, sendo que no caso português a terceira vai a votos para o ano. Não adianta chorarmos sobre o que estas valem ou não se, quando chegam as legislativas, nos esquecemos que essas têm impacto na maior força de bloqueio europeu, o Conselho.
Discordo no entanto que seja bom o Presidente da CE ser eleito pelo Conselho, e apenas posso entender essa satisfação como um comentário sarcástico. No que a atenção aos pequenos países (e de caminho a "pequenas" opiniões) diz respeito, o PE ainda dá 15 a 0 ao Conselho. Quanto mais não seja, no PE há espaço a que parte dos votos desses países com grande peso eleitoral esteja nas mãos de pessoas com uma visão de Comunidade e não de Mercado.
Ou seja, estas eleições, vistas isoladamente das legislativas, serão talvez a farsa que se manifesta no artigo. Infelizmente é assim que o cidadão (e aqui não falo do português, mas do europeu) as vê, apesar de não se coibir de usar este voto para "castigar" os partidos no poder. Houvesse um pouco mais de critério e, porque não dizê-lo, inteligência, e talvez o estado a que chegámos não fosse este. Em Portugal e na Europa!