A lição principal que o verdadeiro liberal deve tirar do sucesso dos socialistas é que foi a coragem de serem utópicos que lhes granjeou o apoio dos intelectuais e lhes deu uma consequente influência sobre a opinião pública que, diariamente, torna possível o que há pouco tempo parecia muito distante. Aqueles que se têm dedicado unicamente ao que parecia praticável perante o estado actual da opinião descobrem constantemente que até isso se tornou politicamente inviável devido às mudanças numa opinião pública que eles abdicaram de orientar. A não ser que a ideia dos alicerces filosóficos de uma sociedade livre se torne de novo uma questão intelectualmente viva e a sua implementação uma tarefa que desafia a criatividade e a imaginação dos espíritos mais vivos, as perspectivas da liberdade são sombrias. Mas se conseguirmos redescobrir aquela crença no poder das ideias que foi a marca do liberalismo no seu melhor, a batalha ainda não está perdida. O renascimento intelectual do liberalismo já está em vias de acontecer em muitas partes do mundo. Chegará a tempo?
Por que é que O Espelho decidiu traduzir e publicar os dois parágrafos finais de um artigo de Friedrich Hayek (1899-1992) intitulado “Os intelectuais e o socialismo”, publicado na University of Chicago Law Review na Primavera de 1949? Realmente, pode parecer estranho assinalar os quarenta anos do 25 de Abril dando espaço ao principal responsável intelectual no século XX pela emergência do neoliberalismo.
O resto do artigo pode ser lido num “jornal de papel, de parede, de boca em boca ou de mão em mão, o que for preciso.” Tratou-se de ir a um das fontes intelectuais dos que estão a destruir a economia política e moral de Abril, ameaçando a democracia. O Espelho foi ontem distribuído pela praça e avenida, pelo Carmo e Liberdade. Poderá ser lido aqui.
Eu diria que a leitura deste parágrafos é útil também a quem à Esquerda queira salvar o Estado Social e uma Sociedade Livre para todos, em lugar do Neo-Feudalismo que nos é proposto pela Direita (eu cá acho o Liberalismo uma posição política respeitável, mas o que nos querem oferecer nada tem a ver com a autonomia individual proposta pelos liberais clássicos). É que uma das razões que determinam o fracasso da Esquerda nos últimos 30 anos foi ter estado sempre à defesa e ter adotado como suas posições que vieram da Direita (designadamente com a política de Clinton, a Terceira Via de Blair, o novo Centro de Schroeder e entre nós a prática política de Guterres ou de Sócrates). A forma como os partidos Social-Democratas abandonaram o seu eleitorado natural (o Operariado, que nalguns casos está a votar na Extrema-Direita) está ligada à adoção dessas posições 'centristas' e explica igualmente o seu afundamento eleitoral por essa Europa fora (na Alemanha, o SPD tem apenas 25% dos votos, e noutros países ainda é pior). Ou seja, temos que ser capazes de ter a coragem de ser utópicos, levando obviamente em conta as lições do passado... Por isso, a leitura de Hayek pode ser bem produtiva, diria eu...
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