segunda-feira, 21 de abril de 2014

Duas fraudes sempre convenientes


1. Os economistas pré-keynesianos ganharam politicamente em toda a linha. O refúgio na retórica vaga da “gordura do Estado” é uma fuga à ética da responsabilidade. É evidente que nenhum espírito isento discordará do combate ao desperdício, aos grupos económicos que parasitam o Estado e fogem às suas responsabilidades fiscais ou ao cancro da economia informal. No entanto, as politicas de austeridade exigidas pelos “mercados” e pelas “estúpidas” regras dos pactos europeus implicam em todo o lado fazer cortes abruptos, injustos socialmente e contraproducentes economicamente. Escrevi isto em 2011, nas vésperas da troika, em debate com um Álvaro Santos Pereira apostada na fraude das gorduras. Esta fraude está integrada na fraude maior de uma política orçamental condicionada por regras cada vez mais estúpidas e só pode gerar discursos e comportamentos fraudulentos, sob pano de fundo de um moralismo atroz. É como diz Rui Peres num artigo a não perder e que confirma este ponto: números errados, ideias erradas de um Passos condenado a mentir neste e noutros campos. De resto, as gorduras são funcionários públicos, salários e pensões; a melhor carne dos serviços públicos é para ir oferecendo ao capital. Fraude conveniente.

2. A fraude ideológica da rigidez e da flexibilidade laborais, já aqui tantas vezes denunciada, promovida incessantemente pelo FMI, pela CE, pelo BCE e pelo seu governo, serve apenas para puxar o debate politico de tal modo para um terreno neoliberal que os representantes de alguns patrões podem parecer razoáveis e ponderados: “hoje a lei laboral não constrange a economia”, diz António Saraiva da CIP em entrevista ao Público. Os patrões organizados sabem bem que a divisão dos direitos e das obrigações, que determinam quem se apropria do quê e porquê, lhes é cada vez mais favorável. Os patrões sabem bem que a lei laboral nunca constrangeu a “economia”. O que constrange a acumulação de capital é, em primeiríssimo lugar, a falta de procura e num distante segundo lugar o acesso ao crédito. A flexibilidade para os patrões, que é rigidez para os trabalhadores, gera um dos maiores e reais constrangimentos da economia: a desigualdade na repartição do rendimento e da riqueza. Fraude conveniente.

5 comentários:

  1. A gordura do Estado tem duas medidas: serviços inefcientes e serviços excessivos. A primeira medida é técnica, a segunda é política.
    A primeira mobiliza gestores e é condicionada nos termos em que o são os gestores privados. A segunda resulta de ideologias e de qualidade política.
    Os gestores dividem-se em duas classes: os acomodados aos costumes e os que visam a excelência.
    A primeira classe é dominante, e tanto pode ser familiar, como maçónica ou político-burocrática.
    A segunda classe requer gente livre de aceitar desafios e de assumir responsabilidades, para quem lei e regulamentos são enquadramento e não refúgio. Só para estes se põe a questão do pesadelo legislativo e da cultura de acoitamento regulamentar promovida para o ‘trabalhador consciente’ ao longo de 40 anos de sindicalismo comprometido.

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  2. Jose resume em meia duzia de linhas o denunciado pelo João Rodrigues.

    A retóricia neo-liberal necessita da repetição dos seus estribilhos.Se possível apresentados num processo de b-a-ba aflitivo e quase insultuosoo para quem sobre eles raciocione meia dúzia de minutos.

    (Claro que para que esta "narrativa" neoliberal siga o seu trilho é necessário que os joses se cheguem à frente e que façam o seu mister.Por mais caricato que este às vezes possa parecer).

    A confusão entre os "serviços eficientes e os serviços excessivos,"com que jose tenta preambular desta forma um pouco patética o seu discurso, vem paralelamente com o apagar propositado da promiscuidade entre os "gestores" privados e os governantes. Curiosamente o refugio em "questões técnicas" para escamotear o facto das decisões serem eminentemente políticas, é um dado que sistematicamente atravessa a mistificação governamental.

    Como se o país não tivesse tido governantes saídos de onde sairam,com os seus programas políticos, com os seus interesses de classe quantas vezes sem classe nenhuma, violando sistematicamente o prometido e o propagandeado em campanhas eleitorais.Como se a culpa morresse solteira e não se tivesse assistido à festa a que assistimos da parte do grande poder económico ( cada vez mais rico), atirando-se ( qual manobra própria do discurso neoliberal) lama para o "sindicalismo comprometido" (ainda por cima num processo de espelhos e de sombras, sem se ter a coragem de afirmar claramente as coisas).

    Há mais.Fica para depois

    De

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  3. Mas vejamos um exemplo concreto deste jogo de mistificações em que a pretexto das gorduras se come toda a carne.

    O sr Oliveira e Costa:Um profícuo militante de topo do PSD, que foi secretário de estado de Cavaco Silva.Chefiou e comanditou serviços do estado,ao serviço dum seu governo. As "gorduras do estado " no seu tempo foram de facto assunto não trazido à baila já que o rapaz tinha outros assuntos a tratar.
    Gestor de topo mobilizado como o era do sector privado ( da companhia portuguesa de celulose), Cavaco Silva mandou-o servir à volta dos assuntos fiscais. Mas o referido "gestor" à moda privada estava afinal prenhe de "qualidade política"( não vale a pena falar na "qualidade ideológica porque todos sabemos a manha escondida por detrás de).
    Ora o gestor de topo, primeiro privado, depois governamental, depois privado de novo, que oscilava entre as duas categorias desenhadas de forma tão "patusta" por jose, tinha mais alguns problemas na sua "classificação": será que estava acomodado aos costumes ou visava a excelência? Na opinião de sua exª o presidente do governo "ele", tendo sido escolhido por "ele", claro que jogava na segunda. E claro que não era familiar de sua exª, mas por outro lado fazia parte da direita partidária , não se sabe se maçónica ou não mas com toda a certeza não burocrática (Não vale a pena rir, porque continua).

    Oliveira e Costa estava assim com um pé num e outro pé noutro. Claro que era alguém capaz de aceitar desafios, de assumir responsabilidades, para quem precisamente "lei e regulamentos são enquadramentos e não refúgios".

    Foi por isso que o rapaz se acoitou precisamente onde se acoitou, usando o mesmo fraseado sobre a lei que hoje usa para escapar à justiça.O pesadelo legislativo foi demais para Oliveira e Costa e ele bem tentou fazer alguns curto-circuitos a bem da promoção da excelêmcia, a bem da gestão privada dos serviços públicos, a bem da nação (dele)

    Mas há mais exemplos: vejamos o caso (acima de qualquer suspeita para o presidente da república), do sr Dias Loureira. Ou do sr Ferreira do Anmaral ...ou do sr Miguel Relvas... ou do sr Paulo Portas ( mais conhecido como o irrevogável dos submmarinos)

    Estas contas desconchavadas, próprias de rosários de antanho, com que se quer atirar poeira para os olhos...

    De

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  4. Naquele que seria um ponto "2.2", a flexibilidade laboral só poderá ser um entrave económico para grandes empresas. A menos que o tecido empresarial português seja constituído por estas, essa flexibilidade apenas seria um entrave à lei da selva no mercado de trabalho.

    Até neste ponto o desGoverno demonstra uma terrível inconsistência. Se o que querem é um exército de "empreendedores", este ponto é irrelevante, porque o empreendedor não tem interesse em se despedir mais facilmente.

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  5. No comentário anterior faltou-me uma palavra, que faz uma grande diferença. O que queria dizer era: "a menos que o tecido empresarial português seja maioritariamente constituído".

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