quarta-feira, 16 de abril de 2014

Dívida: um debate moral



Os adversários da reestruturação da dívida pública têm travado o seu combate no plano económico e moral, mas é sobretudo neste último que têm tido mais sucesso. No plano económico, os partidários da reestruturação/renegociação da dívida ganharam de forma inequívoca; mas no plano moral, grande parte deles acabou por se colocar à defesa - ou porque aceitam as premissas da direita, ou porque desistiram de as confrontar.

1. A direita alimenta a ideia da culpa - "a dívida é consequência dos portugueses terem vivido acima das suas possibilidades e do despesismo" - e a esquerda desistiu de explicar as consequências assimétricas do processo de integração europeia, desde a adesão ao euro, até ao alargamento a leste e à liberalização do comércio com a China.

2. A direita defende que, ao contrário deles, a esquerda não quer pagar o que deve; já a esquerda refere poucas vezes que não se trata de nos dividirmos entre os que querem pagar e os que não querem, trata-se sim de fazer uma escolha. E o governo já a fez - para não falhar um único cêntimo com os credores internacionais, decidiu "não pagar" parte dos salários e das pensões aos trabalhadores do sector público e aos pensionistas.

3. A direita fala dos credores como beneméritos, aos quais não é justo imputar perdas; a esquerda não tem explicado que os nossos credores não nos "emprestaram dinheiro", fizeram um investimento financeiro em títulos de dívida pública e que, como qualquer outro investimento com risco, pode correr mal, não porque o povo português seja desonesto, mas porque o país enfrentou uma crise profunda, com consequências incontornáveis na sua capacidade de pagar. Em qualquer investimento que corre mal há perdas para o devedor e para o credor, porque haveria de ser diferente no investimento em títulos de dívida pública?

Como disse o arcebispo Silvano Tomasi, Observador Permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas, ainda em 2012: "A dívida externa é só um sintoma da falta de justiça no fluxo de capitais mundiais" e "A riqueza e a dívida devem servir o bem comum. Quando se viola a justiça, a riqueza e a dívida tornam-se instrumentos de exploração".

(crónica publicada às quartas-feiras no jornal i)

5 comentários:

  1. A divida sempre foi, desde o primórdios( desde os Romanos e por aí fora...), a ferramenta que as classes dominantes usaram para escravizar os povos.
    Por que carga de água havia agora de ter perdido essa natureza quando os credores de hoje são os sucessores dos de antigamente.?
    São inúmeras as situações em que os credores( a bem ou a mal) tiveram de perdoar ou reduzir substancialmente as dividas.
    E não é preciso ir muito longe. Basta lembrar, por ex o caso da Alemanha. Será quer os Nazis/Fascistas da Alemanha são melhores do que nós.?
    Pelos vistos, para o PM ( o sociopata sem escrúpulos, o tal que é um aldrabão/mentiroso sem vergonha) e para os seus sinistros seguidores os Nazis/ Fascistas alemães são melhores que os Portugueses.
    Não pagar a divida além de patriótico é um dever ético e moral.
    Que raio de democracia esta.!

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  2. «para não falhar um único cêntimo com os credores internacionais, decidiu "não pagar" parte dos salários e das pensões aos trabalhadores do sector público e aos pensionistas.»

    Alguém me explica como isso seria possível com um saldo primário igual a ZERO e sem suportar o investimento em nova dívida?

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  3. Um bom post.Com uma boa achega do anónimo das 15 e 43.

    Quanto às explicações pedidas pelo jose ele que saia da sua zona de conforto e procure as respostas que muitas vezes já foram também aqui dadas
    Uma vergonha de facto que as não leia.Mas sobretudo uma vergonha maior essa forma ínvia, cobarde, desonesta de apresentar o seu caminho como único caminho.
    Como se o caminho que se faz a andar ( citando um grande poeta António Machado que detestava estas coisas de caminhos únicos e fascistas) fosse apenas o encomendado pelos credores e pelos seus servis, coniventes e cúmplices adoradores
    De

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  4. A propósito da "falta de dinheiro" com que alguns adornam a pílula neoliberal como alibi para o saque:
    "Se o "mundo é o que é" nunca há dinheiro. A questão é saber para quem. Dizer que não há dinheiro, pode parecer uma evidência quando é repetida à exaustão pelos teólogos neoliberais. Porém, é uma evidência do tipo segundo a qual é o Sol que se move à volta da Terra. A questão é: para onde vai o dinheiro, como é distribuído?

    Se não há dinheiro como é que, em 2013, 870 multimilionários deste país aumentaram as suas fortunas em 11,1%, atingindo 100 mil milhões de euros? A pobreza e o desemprego efetivo aumentaram, a recessão continuou e o investimento regrediu.

    O "sucesso" de "estar a ser feito o que tinha de ser feito" avalia-se pelo facto da pobreza atingir em 2012, 24,7% da população em relação ao nível de 2009; 661 694 pessoas tinham prestações em atraso; 15% das famílias corria o risco de ficar sem nada por dívidas. Depois disto a situação só terá piorado.

    Para se ter uma perceção para onde vai o dinheiro, podemos verificar com base nos relatórios do Banco de Portugal que o saldo do que sai do país em juros privados, dividendos, lucros e transferências com a UE atingiu de 2000 a 2013 (inclusive) um total de cerca de 11 mil milhões de euros, isto é, em média cerca de 715 M€, porém de 2007 a 2013, atinge o dobro, mais de 1 400 M€ por ano. [3]

    A estes valores devemos somar os juros pagos pelo Estado: entre 2000 e 2013, 69 500 M€, uma média de mais de 4 600 M€ ano, agravando-se nos três anos de "ajuda" da troika para 7 100 M€. Note-se que desde a entrada para o euro em 2000, os défices do Estado acumulados atingiram 118 200 M€, o Estado pagou de juros 69 500 M€, porém a dívida pública passou de 61 500 para mais de 210 500 M€! Chamam a isto "ajustamento". É tão só o processo aplicado em países sujeitos ao neocolonialismo"

    A ética do dinheiro e o dinheiro da ética
    Daniel Vaz de Carvalho
    http://resistir.info/v_carvalho/etica_do_dinheiro_1.html

    De

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  5. Mas afinal o Zezinho das 16,43 ainda não emigrou.? Como o outro, ainda anda por aí a mandar bocas e a dizer asneiras.!
    Zezinho faça um favor a si próprio e emigre. Mas antes pergunte ao seu chefe de fila( o P. Coelho)para onde deve ir. Quase de certeza que ele lhe dirá para ir para o Bangladesh que é um dos países com o qual o nosso está a ficar igual graças ao seu querido líder. O tal que mente de noite e de dia e que não sabe falar verdade (não, não é o Portas que também mente com quantos dentes tem na boca, é o outro, o tal Coelho.)

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