sexta-feira, 18 de abril de 2014
A euforia, as bolhas, a periferia europeia e o BCE
«"Bolha nas obrigações da Europa" é o título de um artigo da revista britânica "The Economist" na sua edição impressa de sábado, muito crítico sobre a atual euforia em torno das obrigações soberanas dos periféricos da zona euro. "As economias do sul da Europa estão em pior forma do que sugere a queda das yields das obrigações", refere a revista num artigo que já se encontra disponível no site para registados.
"Os investidores têm desenvolvido um entusiasmo notável em relação à dívida europeia que antes evitavam", refere a revista. Um dos casos emblemáticos recentes foi a operação de colocação sindicada de dívida obrigacionista na Grécia. Outros sinais são os mínimos históricos, ou a sua proximidade, que se verificam nas yields de obrigações irlandesas e italianas, bem como as descidas muito significativas nos casos das obrigações portuguesas e espanholas. "É tentador dizer que isso é prova de que a crise do euro acabou: que os anos de reforma difícil valeram a pena e que as yields mais baixas dos títulos em breve deverão conduzir a um maior investimento e a um crescimento mais rápido. Tentador, mas em grande parte errado. A perspetiva é muito menos rósea do que a queda nas yields dos títulos sugere", sublinha a revista.
O "The Economist" alega que há duas razões a toldar uma análise otimista: "Em primeiro lugar, há a aritmética cruel de deflação. Com a queda dos preços em várias das economias periféricas, o fardo real das suas dívidas está a aumentar. Em segundo lugar, grande parte da queda das yields das obrigações reflete a esperança dos investidores de que o Banco Central Europeu (BCE) vai começar a imprimir dinheiro, uma esperança que pode vir a ser frustrada". A revista britânica refere que a retórica de muitos responsáveis do BCE no sentido do uso eventual de medidas de política monetária não convencionais mais agressivas ainda este ano, pode não ser mais do que isso mesmo: "Estão dispostos a falar sobre medidas ousadas, na esperança de que falar por si só convence os mercados. Mas não há nenhuma evidência de um compromisso de [que o BCE] irá agir de forma decisiva".»
Jorge Nascimento Rodrigues, Bolha na dívida dos periféricos diz "The Economist" (o gráfico colige as séries de dados da Bloomberg relativos à Grécia, Portugal, Espanha e Itália, demonstrando de forma clara que a evolução recente das taxas de juro dos países periféricos nada tem que ver com o proclamado «sucesso» das políticas de austeridade, adoptadas em diferentes graus, por estes países).
«nada tem que ver com o proclamado «sucesso» das políticas de austeridade».
ResponderEliminar...o que não invalida que, sem a austeridade, o comportamento das taxas seria bem mais desfavoráve
Puro "efeito Draghi", caro José. Seria aliás difícil perceber como é que economias cada vez mais endividadas e devastadas pela austeridade poderiam inspirar maior "confiança" aos "mercados" e investidores.
ResponderEliminarSerá JN Rodrigues um perigoso esquerdista, ou só não vê quem não quer ver?
ResponderEliminarA economia grega, que já antes não estava muito bem, foi completamente dizimada pela Troika. Só um doido é que pode proclamar o inverso.
ResponderEliminarOs investidores compram obrigações gregas porque: a) Agora sabem que o BCE é o "lender of last resort" (efeito Draghi); b) Serem subordinadas à lei Inglesa.
Nada disto tem alguma coisa a ver com a austeridade ou com a economia da Grécia, mas tem tudo a ver com especulação à custa do BCE, que teve de se render aos predadores financeiros.
A austeridade não tem nada a ver com esta conversa. O que a austeridade fez foi tornar este fenómeno numa coisa ainda mais ridícula: colocou a Grécia a caminho de um segundo default (e de um terceiro resgate) ao mesmo tempo que as suas obrigações são compradas pelos investidores com grande entusiasmo.
Para usar uma analogia um pouco tosca: seria o mesmo que alguém desatar a comprar ações de um banco falido, por se saber que o Estado nunca o deixaria cair e, no fim de tudo, ainda se elogiar os administradores que o conduziram o banco à ruptura.
O ridículo é o "novo normal".
'We are up shit's creek without a paddle'... Pois, mas sem a austeridade, estaríamos muito pior... Haja paciência...
ResponderEliminarAs obrigações de Portugal são lixo.
ResponderEliminarNao é expectável que os investidores possam recuperar mais do que 30% do valor nominal das mesmas.
Quem as compra é bom que perceba que corre um risco enorme de incorrer em perdas.
A defesa da austeridade já teve melhores dias.
ResponderEliminarO "comportamento das taxas" afirmado pelo jose tem aqui uma dupla função: serve de alibi ( paupérrimo, paupérrimo ) para a austeridade. E funciona como mola de distracção do que é fundamental neste texto de Nunoo Serra.
Como alguém diz:" Só não vê quem não quer"
De
http://www.telegraph.co.uk/finance/economics/10774013/Eight-EU-states-in-deflation-as-calls-grow-for-QE-in-Sweden.html
ResponderEliminarPara memória futura. E aviso no presente. Estamos em deflação pura e dura.
JL
É como diz, DE: “a defesa a austeridade já teve melhores dias”…
ResponderEliminarOs actuais “saldos” das taxas de juro não resultam de qualquer “gesto simpático” dos galifões (os chamados mercados) para com os “bons alunos da periferia” e seguidores da cartilha da austeridade. A reprodução do capital é sempre o farol, é intrínseca ao próprio capitalismo. Pensar outra coisa revela alguma ingenuidade. Houve especulação no início da “crise” (para cobrir as perdas), continua a haver agora neste processo selvagem, que é tudo menos racional.
João Galamba já sinalizara lá atrás: “há um excesso de liquidez nos mercados, que, por não haver oportunidades de investimento real, tem forçosamente de ser investido no que resta”. O efeito Draghi só veio potenciar esse apetite…
ResponderEliminarPode ser que me engane nas datas, mas até meados de 2012, o objectivo dos Países era pagar a Divida. Como tal os Juros tornaram-se altíssimos , apesar da Austeridade.
A partir de meados de 2012, começou a aparecer a ideia de que a Divida é impagável (ou mto difícil de pagar), e portanto o objectivo dos países passou a ser pagar menos Juros. E a divida aumenta.
Há sempre um truque de Marketing básico, que os Credores nos tentam impingir.
O que bate os Recordes, é que empobrecer, ajuda a pagar dividas.
A discussão sobre a dívida pode ser interessantíssima - é cara, é barata, é pagável, é impagável - mas mais não faz que passar ao lado do tema do saldo primário positivo, porque alguma dívida sempre será de pagar, mesmo para os defensores do ferrar o calo aos credores.
ResponderEliminarHá algo de desagradável na forma como sistematicamente jose muda o tema do debate, encavalitando-se noutro.
ResponderEliminarPerante esta denúncia sobre a euforia e as bolhas,jose foge ao tema e "comenta" como comenta.
Com três agravantes: a primeira é que o que é denunciado pelo Nuno Serra faz lembrar outras crises que contribuiram para a presente situação em que nos encontramos.A menorização do que sucede, feita precisamente por parte dos maiores defensores troikistas, é por demais sintomática do quanto há de errado em toda esta narrativa.
A segunda questão é que os temas para onde o jose se quer refugiar foram e têm sido alvo de debate aqui por ests páginas. O voltar numa frase a uma discussão que já ocupou muitas páginas é no mínimo "desencorajador" e tem laivos de desonestidade.
Mas a terceira questão é mais funda e assume-se de carácter ético.Um linguajar em que se escreve "para os defensores do ferrar o calo aos credores" é algo que arrasta o debate para níveis que são muito pouco civilizados.Poderia explanar mais o caso mas francamente não me apetece.Ao contrário do que o jose insinua sobre a verticalidade dos demais, os homens também ficam presos ao que disseram e dizem.
E as paavras do jose são o testemunho de algo "muito pouco saudável" ( eufemisticamente falando) por parte de quem as profere.
De
ResponderEliminarMto importante, e sem fugir ao tema do Post, o último comentário de De.
A frase de José "para os defensores do ferrar o calo aos credores" leva-me a fazer o seguinte comentário, que não sendo original, não se lê muito.
Creio que o 3º motivo para a táctica de nos empobrecer, a nós portugueses, serve precisamente para NÃO podermos pagar a Divida.
Se empobrecermos, a certa altura a divida torna-se mto difícil de pagar. O que ganham os Credores com isto ?
Simples, ganham NOVAS dividas. Como empobrecemos, temos de fazer mais empréstimos à Troika, unicamente para pagar as dividas antigas. Desta forma, nunca pagaremos as dividas, e teremos que andar sempre a fazer mais e mais.
Isto pode parecer estranho para algumas pessoas, mas se pensarmos no fenómeno das Famílias sobre-endividadas, torna-se simples de perceber
Quem nunca ouviu falar de Famílias, que tem dividas, e de repente um dos membros é despedido?
O que acontece depois? Ou devolvem a casa ao Banco... ou fazem mais dividas para pagar as que tem.
E assim estas famílias, nunca conseguem sair das dividas.
Penso que a Europa está a entrar numa grave recessão económica
ResponderEliminarJaime, "Pois, mas sem a austeridade, estaríamos muito pior... Haja paciência..."
ResponderEliminarEstaríamos? Estruturalmente, o que resolveu a austeridade? Mais concretamente, no caso português, quais os "desequilíbrios estruturais" que se resolveram com a austeridade? Como poderá um Estado depauperado, com uma dívida superior à que tinha antes da austeridade, atascado em despesas sociais, que não tinha antes, estar mais consolidado do que antes?
O falhanço da austeridade como solução para os problemas de contas que tínhamos é tão evidente que obrigou a sucessivas revisões das metas que se pretendiam obter com medidas X, Y, Z. Isto não é ideologia, é factual. Se os economistas austeritários fossem astrónomos, ainda viveríamos num modelo heliocêntrico...