Sexta-feira, 7 de Março, Telejornal da RTP1. Dispensem três minutos do vosso tempo para ver, na íntegra, a notícia sobre a descida das obrigações da dívida soberana portuguesa a dez anos (a partir do minuto 30 da primeira parte), em que se fica a saber que as taxas de juro «atingiram valores mínimos, que não são registados desde Maio de 2010». Isto é, em torno do «valor anunciado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros [4,5%], a partir do qual o país deixava de precisar de um novo resgate» (caso se cumprisse o programa de ajustamento, como cuidou de assinalar o próprio Rui Machete). Tal como se fica igualmente a saber que, «de acordo com os especialistas, os títulos portugueses são aliciantes para os investidores e representam agora menores riscos de incumprimento por parte de Portugal», fruto dos «indicadores que saíram relativamente à economia portuguesa» (presumivelmente estes, estes, estes ou ainda estes) e das «perspectivas que temos tido para os próximos trimestres» - pese embora o facto de não estarmos ainda, também segundo "os especialistas", «imunes a choques externos ou exógenos à nossa economia» (seja lá o que isso for, pois nós por cá todos bem).
O problema é que, a menos que Passos e Portas andem diligentemente, e sem que nós o saibamos, a cuidar do destino de outras economias da periferia europeia, esta descida das taxas de juro não é nem uma originalidade portuguesa nem mérito do governo. De facto, a tendência recente de descida é comum a países como a Grécia (sim, a Grécia), a Espanha ou a Itália, tendo-se acentuado em particular desde o início de 2014 (como mostram as séries de dados da Bloomberg).
Muito provavelmente, a maioria dos espectadores do Telejornal da passada sexta-feira na RTP1 não tem por hábito acompanhar os artigos e comentários de Jorge Nascimento Rodrigues no caderno de Economia do Expresso. Em contrário, teria acesso a explicações menos caseiras e não fabricadas (além de muito mais consistentes e credíveis) sobre a questão de saber «porque desceram os juros da dívida nos periféricos da zona euro». E poderia ainda apreciar melhor a mistificação intencional (e o seu verdadeiro alcance político) subjacente à sentença hoje proferida por Cavaco Silva, o presidente convicto de que «se existisse um acordo de médio prazo [entre PS, PSD e CDS/PP], que incluísse a próxima legislatura, as taxas de juro poderiam descer ainda mais do que aquilo que têm descido nos últimos dias». Isto é, uma afirmação em linha com a referência à «inspiração de Nossa Senhora de Fátima» nos resultados da sétima avaliação do Memorando de Entendimento, a 14 de Maio de 2013.
E isto sem falar do facto de que a inflação em 2011 era bem mais alta, o que comia parte dos juros da dívida... Mas a diferença entre taxa real e nominal parece que não interessa...
ResponderEliminarÉ preciso muita paciência para ouvir estes papagaios assalariados da voz do regime, a RTP, que fazem um jornalismo manipulador, sem qualquer espírito crítico.
ResponderEliminarDe vez em quando lá vem Cavaco Silva a implorar para a união da “santíssima trindade”!
“O presidente está convencido que as taxas de juro poderiam ainda descer mais…”, profecias só ao alcance de sobredotados…
Enquanto uns, cada vez menos, só pensam nas suas reformas bem tranquilas, sem sobressaltos, nem agitações, custe o que custar … aos outros, há ainda quem se distinga, certamente com outro sentido cívico, por afirmar que é imperioso a reestruturação da dívida.
Pois reparem na primeira pagina do pasquim i
ResponderEliminarMilagre Machete
juros da divida estão abaixo dos 4,5%
depois do milagre do pires agora é o milagre do machete.
cada vez tenho mais nojo do jornalismo vendido que se pratica em Portugal.
quando o governo não consegue aumentar os impostos nem captar empréstimos para pagar seus gastos, ele às vezes recorre à máquina de dinheiro, tentando obter renda a partir da criação de moeda. Isso leva à inflação, o que faz com que as pessoas tentem se livrar de suas economias, o que significa que as máquinas da casa da moeda passam a funcionar mais rápido para comprar a mesma quantidade de recursos, e assim por diante.
ResponderEliminarO tipo de inflação que tivemos na década de 1970, a famosa era da estagflação – uma alta inflação combinada a um alto desemprego -, era consideravelmente diferente. O problema não estava nos déficits – na verdade, os déficits americanos foram muito menores na inflacionária década de 1970 do que durante a desinflação dos anos 1980. Em vez disso, o que tínhamos era uma combinação entre políticas monetárias excessivamente expansionistas, com base numa visão irreal de até que ponto o desemprego poderia ser reduzido sem provocar uma inflação acelerada (a NAIRU, taxa mínima de desemprego condizente com uma inflação estável), e choques do petróleo que levaram a uma alta generalizada na inflação, graças às cláusulas associadas ao custo de vida amplamente difundidas nos contratos....tá cara
vem pró brasil qui aqui é só frescura
e ficas com o magalhães por vizinho
O mercado tem muito pouca liquidez.
ResponderEliminarBastará um pequeno sobressalto e os investidores que apostaram na nossa dívida vão ter muita dificuldade liquidar as suas posições. Afinal de contas estamos a falar de junk bonds.
Depois quando tiverem de sofrer o haircut não se queixem. É isso que vai acontecer.
Curiosamente as últimas eleições para o parlamento europeu realizaram-se em 2009, que como se pode ver no gráfico, foi quando os juros estiveram mais baixos, depois subiram até a meio da legislatura (2012) atingirem o máximo.
ResponderEliminarOu seja, eu que não percebo nada de economia digo-vos só uma coisa, vão ver como vão estar os juros da divida em 2016/17
A.Silva