segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Debate em curso
No contexto do debate sobre a possibilidade de superar as actuais escolhas de política económica, deixo um excerto do meu último artigo no Le Monde diplomatique - edição portuguesa do mês passado, agora republicado no livro Que fazer com este euro?, onde exploro algumas das razões que me levam hoje a considerar que os que dão primazia política às instituições europeias nessa superação ignoram ou subestimam, à sua e à nossa custas, algumas questões:
A esperança, ainda prevalecente em muitos sectores da esquerda, num reforço da integração europeia que possa institucionalizar uma espécie de euro-keynesianismo assenta num idealismo a-histórico que é hoje perverso. Este idealismo é visível na subestimação de tendências pesadas e com lastro histórico, do Tratado Orçamental à confirmação de que o orçamento da União será nos próximos anos ainda menor do que o resíduo que foi nos últimos, passando pelo reforço em curso do poder pós-democrático do BCE. É visível ainda na subestimação dos impactos das realidades materiais do desenvolvimento desigual dos capitalismos centrais e periféricos europeus nos ciclos políticos nacionais, o que dificulta ainda mais aquilo que de resto historicamente nunca se conseguiu, até porque a integração foi feita para que não se conseguisse: um acordo pós-nacional entre as classes populares capaz de gerar um sujeito histórico europeu e que operasse nessa escala, mesmo que este esquecesse por um momento os formidáveis obstáculos institucionais que enfrentaria para recriar ao nível do euro o tipo de instituições que existiram, e em muitos casos ainda existem, ao nível dos Estados. Este posicionamento é perverso, sobretudo porque deixa o terreno nacional ao que perigosamente imagina e quer criar a direita nacionalista. Mas também por outro motivo: existe alguma evidência de que a mobilização supranacional dos povos entusiasme mais do que algumas elites?
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