Ocorreram sucessos notáveis (...) No entanto, também ocorreram fracassos notáveis (...) O relatório considera que a orientação geral das políticas foi apropriada.
Do famoso relatório dito de mea culpa do FMI numa Grécia em plena Grande Depressão, graças a uma política europeia que se reconhece ter sido desenhada para tentar salvar as aventuras dos bancos do centro na periferia e daí, por exemplo, a reestruturação da dívida só ter ocorrido nos tempos e interesses dos credores. O FMI tem sido considerado o membro mais pragmático da troika. O FMI tem toda uma experiência, de décadas, no fracasso e na insistência na mesma política, com autocrítica a partir de certa altura e mudanças de fachada depois: retomando os termos de Robert Wade, um dos meus economistas do desenvolvimento preferidos, a propósito do Banco Mundial, é “a arte de manutenção do paradigma”. Uma arte que a Comissão Europeia e o BCE têm de aprender a dominar melhor: fica mal dizer que não houve erros. Não basta falar de “reformas estruturais” que não foram implementadas, nem de falta de apropriação nacional do programa, tecla em que o FMI também insiste, claro. Isso não chega para mascarar o fracasso, nem a inovação clássica de passar culpas para os parceiros de desastre. Tem de se ir um pouco mais longe e reconhecer os tais fracassos próprios no meio dos sucessos. Já foi assim noutros programas anteriores. De facto, o FMI tem relatórios num registo semelhante para outras paragens. A arte também passa hoje por reconhecer o papel das desigualdades no desencadear da crise, as virtudes dos controlos de capitais ou os efeitos profundamente recessivos das políticas de austeridade. Tudo demasiado em geral. Nas prescrições concretas para os países concretos insiste-se no mesmo de sempre, até porque, já se sabe, não havia alternativa dadas as circunstâncias. De resto, fazer proclamações relativamente ternas ajuda, reconfortando muitos intelectuais que se vêem a si mesmos como progressistas, alcamando-lhes os nervos e mantendo-os no regaço ideológico à espera de mudanças que já se vislumbram, dizem. Mas neste último ponto a malta de Bruxelas, por vezes, ainda consegue imitar e até ultrapassar o pessoal de Washington. Nada de novo.
"Tenho amplo material para aprender com os meus próprios erros", disse Vítor Gaspar...
ResponderEliminarAté parece que o Vitor Gaspar visitou o Ladrões de Bicicletas... antes da intervenção na Assembleia!
Esta esperteza saloia, a "passar a mão pelo pelo",
como se estivesse com muito boas intenções!
Pois...a trabalhar para o "polvo" que,
" ...não foi eleito coisíssima nenhuma! "
A governamentalidade neoliberal,fazendo-me valer dos ensinamentos de Foucault, essa "arte" de governar está longe de implicar a aplicação fiel das ideias de Hayek ou dos seus acólitos americanos da Escola de Chicago.
ResponderEliminarConvém não esquecer que o "novo" liberalismo para funcionar necessita de liberdade, consome liberdade, pelo que é obrigado a produzi-la. Ora é precisamente aqui que se encontra um dos principais paradoxos do neoliberalismo: a obrigatoriedade de produzir liberdade pode implicar a sua restrição ou até mesmo a sua destruição.
Neste sentido, parece-me que estes "desvios" ao nível da mensagem não são mais do que estratégias discursivas necessárias ao funcionamento do prjecto neoliberal.
Desconstruções como as que neste post são feitas, devem ser lidas pelos puristas da doutrina liberal que hoje se indignam com a política "estadista" que o governo mais neoliberal que o país já conheceu tem posto em acção.