O FMI admitiu recentemente vários erros no programa grego, nomeadamente um otimismo excessivo nas estimativas utilizadas no seu cenário base e a necessidade de ter sido reestruturada a dívida pública, ainda antes de se proceder ao programa. Num outro relatório o FMI foca-se especificamente nas questões de reestruturação de dívida pública. Aí diz-se que um dos principais problemas de se fazerem programas de ajustamento antes de se reestruturar a dívida é que esse processo acaba por implicar um financiamento direto ao sistema financeiro, protegendo-o de perdas. Os empréstimos da troika têm sido usados, antes de mais, para pagar divida pública aos bancos, substituindo-se essa dívida, mais fácil de renegociar, por dívida à troika que prende os contribuintes.
Para além desta viragem no discurso, vale a pena observar os detalhes deste “mea culpa”. O FMI diz que teve de modificar os critérios de acesso aos seus programas para poder financiar a Grécia, dada a baixa probabilidade de sustentabilidade da sua dívida pública a médio prazo (o que seria uma condição determinante para o FMI permitir o empréstimo). Dadas as pressões para o financiamento, a solução foi introduzir o conceito de risco de contágio internacional como critério alternativo de acesso ao programa.
O que é interessante é que essa alteração de critérios não se reflete nos números! Na Grécia, como em Portugal, o programa foi aprovado ancorado num cenário base de previsões que implica sempre uma sustentabilidade da dívida pública a médio prazo: após poucos anos de programa, prevê-se que o seu peso em percentagem do PIB passe a ter uma dinâmica decrescente. Mais: revisão após revisão, após o continuado agravamento dos indicadores macroeconómos e orçamentais, as previsões mantêm inalterada essa sustentabilidade a prazo.
Quando o FMI vem dizer publicamente que fez o empréstimo à Grécia sem estar convencido da sustentabilidade da sua dívida pública, apesar de os seus números dizerem o contrário, isto é a prova de que os seus números não são previsões, são escolhas. E são escolhas deliberadas para obter resultados que levam os cidadãos a acreditar que, se se seguir o programa, então essa sustentabilidade será alcançada.
As realidades portuguesa e grega provaram já que essa sustentabilidade é uma miragem, mas não esperávamos que fosse o próprio FMI a confirmar que os seus técnicos sempre o souberam!
Neste contexto, o FMI não veio admitir que errou: veio admitir que mentiu.
O critério do FMI não era que a dívida pública fosse sustentável a médio prazo. O critério para admissão aos programas do FMI é que a dívida pública seja sustentável a médio prazo COM ELEVADA PROBABILIDADE. O que nos diz, não que eles mentiram [descaradamente], mas que não tinham grande confiança nas previsões que apresentaram. É um pouco menos grave.
ResponderEliminarDe facto o FMI define os as suas condições como as menciona, daí que eu própria mencione a questão da probabilidade no texto. Já quanto ao nível de descaramento suponho que possa depender da sensibilidade de cada pessoa. Da minha parte, penso que utilizar como principal estimativa, num programa como este, um cenário base que nem os próprios proponentes consideram suficientemente provável, é de facto um embuste...
ResponderEliminarCara Sara, se é um embuste ou não depende do motivo pelo qual a probabilidade é insuficiente.
ResponderEliminarSe a probabilidade é baixa porque foram deliberadamente feitas previsões manifestamente irrealistas, então é um embuste.
Se a probabilidade é baixa porque os previsores não sabem o que vai acontecer (por o período ser turbulento, por as condições serem instáveis, por a situação ser única, por falta de modelo teórico adequado, etc) então temos apenas o reconhecer das limitações do método de previsão. Isto é, quanto muito, incompetência.
Um é malicioso, o outro não. É por este motivo que acho que existe uma ligeira diferença de gravidade.
É claro.!
ResponderEliminarMas será que alguém pode acreditar que o FMI (ou o BCE ou a Comissão) fazem outra coisa se não mentir com quantos dentes têm na boca e que aquilo que têm feito não é mais do que escolhas politicas para alterar( e de que maneira.!) os sistemas económicos de cada país.!? Tudo, em nome da tal "sustentabilidade das finanças publicas"; do " equilibrio orçamental", etc, etc, blá,blá,blá...
Trata-se é de reconstruir o poder das oligarquias e esmagar os povos: Pô-los na miséria.
Trata-se, além disso, de implementar uma "democracia minima". Mas afinal "quem é que elegeu a troika (Durão Barroso; Mario Dragui e Lagarde) para mandar(via governos traidores) nos nossos países.!?