A recessão deve agora ser mais profunda do que se pensava anteriormente, com consequências negativas para o desemprego. Dada a existente rigidez nominal, este é um aviso do risco elevado de que o ajustamento continuará a ter lugar através de maior contracção económica, em vez de uma melhor resposta da oferta.
O FMI na sua penosa sétima autoavaliação faz o mesmo de sempre, antes de um hipócrita mea culpa à grega que chegará em breve. O FMI queixa-se de que os salários não descem à velocidade que seria requerida, segundo um bizarro modelo, para que uma misteriosa “oferta” irrompesse dos escombros da austeridade e das reformas regressivas geradoras de quebra da procura e de medo sem fim. Para esta gente, se existe desemprego, por definição, é porque os salários são demasiado elevados. Uma teoria do trabalho como uma batata, já aqui denunciada, e que está feita para não ter de se confrontar com o real.
O FMI, no fundo, queixa-se das pessoas que sempre povoam uma economia, das suas lógicas de reciprocidade, das normas e direitos que ainda sobrevivem e que garantem as cada vez mais pequenas ilhas de civilidade num oceano de selvajaria. O FMI quer, olha a surpresa, continuar a cortar directamente nos salários e pensões públicos e indirectamente nos privados, através do contágio, cada vez mais facilitado pela redução de direitos e aumento de obrigações laborais, ou seja, pelo aumento de direitos e redução de obrigações patronais. A esta tendência, em decisiva aceleração, mas que dura há mais de uma década, chama-se redução da rigidez, o que diz tudo sobre a ideologia desta gente. Esta redução é acompanhada por centenas de milhares de postos de trabalho destruídos, cerca de 450 mil depois da troika, o que diz tudo sobre a validade desta ideologia. Eugénio Rosa tem um gráfico sobre o verdadeiro sucesso de Gaspar e destes seus amigos:
É claro que o outro lado disto é a recessão, a cada vez maior capacidade produtiva instalada por utilizar. Quem quer investir nesta economia do desperdício? Os empresários dizem que não o fazem, porque, vejam lá, as expectativas de vendas são cada vez mais negativas. As grandes crises, tambem induzidas pela utopia de um sistema monetário rigido no quadro de uma economia global, são precedidas, acompanhadas e aprofundadas por vitórias demasiado estrepitosas das facções dominantes do capital nas lutas das classes. Precisamos cada vez mais de ter em linha de conta os problemas colocados por Marx, Keynes e Polanyi, como bem lembrou há uma dúzia de anos Bob Pollin, um dos co-autores do recente e justamente famoso estudo que derrubou um dos pilares da austeridade imposta por Gaspar e pelos seus amigos.
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