O «efeito droste», também designado de recursividade, designa imagens que se repetem a partir delas próprias, uma dentro da outra, num looping infinito. Surgindo inicialmente na publicidade (e devendo a sua designação a uma embalagem holandesa de cacau em pó, em que uma enfermeira transporta uma bandeja com a embalagem do produto que contém a sua própria imagem, reproduzindo-a sucessivamente), este efeito é também utilizado na arte, como testemunham os trabalhos sobre espirais de M.C.Escher.
Ora, há qualquer coisa de «efeito droste» nos sucessivos pacotes de austeridade que ciclicamente o governo de Passos, Portas e Gaspar servem ao país, com a cumplicidade mal disfarçada do reformado de Belém. Cada anúncio de mais impostos e/ou de cortes nos salários, nas pensões e nas prestações sociais - sempre apresentados como etapas relativamente naturais de um caminho bem sucedido - contém em si mesmo as condições que garantem (pelas quebras sucessivas na procura interna, aumento das falências e do desemprego e pela consequente redução de receitas) o próximo anúncio de subida de impostos e de corte nos salários, nas pensões e nas prestações sociais.
Não, as sucessivas embalagens de austeridade, impostas pela troika e pela maioria PSD/PP, não são sacrifícios adicionais indesejados, necessários para compensar os «desvios inesperados» que ameaçam afastar-nos do caminho da salvação. Já toda a gente percebeu, até à exaustão, que a austeridade apenas gera a necessidade de mais austeridade. Mas é mesmo isso que se pretende: manter a ilusão, para que a verdadeira agenda política e ideológica possa continuar a fazer o seu caminho.
O efeito droste tem um análogo em matemática que é o famoso teorema do ponto fixo. Essencialmente temos uma função (que funciona como uma acção) que, em determinadas condições (uma delas designa-se por contracção !) dá a convergência de uma sequência para o desastre (ponto fixo)
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