sábado, 18 de maio de 2013

Entre a tasca e a loja


Na freguesia de Olhalvo [Alenquer] encerraram a estação e abriram um posto numa tasca. As cartas sujeitas a aviso de recepção que não eram entregues aos destinatários pelos carteiros iam para a tasca e ficavam numa caixa em cima do balcão. Quando alguém chegava com o talão para a levantar os funcionários da tasca diziam para procurar na caixa. E ao procurar viam-se todas as outras cartas com os respectivos destinatários e remetentes.

José Oliveira, dirigente sindical, Público de 08/05/2013

Vale tudo para preparar os correios para a privatização: reduzir de forma significativa o número de estações, com óbvios sacrifícios em termos de coesão social e territorial ou de confiança na fiabilidade do serviço público prestado, reduzir o número de trabalhadores e, claro, o estatuto e segurança laboral dos que ficam. Assim se corrói um dos pilares de uma comunidade política, uma das instituições que capacitam os que por aqui vivem, igualizando o acesso a um serviço fundamental. Recentemente, fiquei agoniado ao ouvir na rádio o responsável pelas “lojas” dos CTT (as palavras são mesmo importantes e as realidades a que elas se referem ainda mais) a falar de “players do mercado” e de outras trampas da novilíngua mercantil que há muito infesta e mata tudo o que é público, acompanhando o processo em curso de vulnerabilização dos cidadãos e de reforço de um poder empresarial que já só cuida dos lucros dos seus futuros accionistas e das remunerações dos seus gestores de topo à custa da pilhagem do que era de todos. Assim se confirma que é chegado o tempo da corrupção geral, da venalidade universal, o tempo da mercadorização sem fim. Contra isto, está a economia política e moral dos bens comuns, ou seja, a capacidade colectiva que garante as bases materiais da comunidade, indispensável para que certos valores, que temos boas razões para defender, possam florescer. Os correios enquanto serviço público do Estado, ou seja, de todos nós, são parte dessa base. Entretanto, recupero um informado e informativo texto sobre os perigos da privatização dos CTT, da autoria de Agostinho Santos Silva: é mesmo mais Estado em mãos privadas.

Adenda: já depois de ter escrito este post, li o artigo de José Manuel Pureza sobre a ideologia postal que destrói os bens comuns. Recursos convergentes, o discurso e a prática institucional dos bens comuns que fazem uma comunidade decente, para combater este capitalismo predador.

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