Realmente, a Jangada de Pedra corre o risco de se afundar atracada: mais de 7 milhões de desempregados na Península, um milhão de portugueses e mais de seis milhões de espanhóis, taxas de desemprego a caminho de 20% e 30%, respectivamente. Uma recessão que será mais do triplo do que estava inicialmente previsto. O dramático caso espanhol não pode fazer esquecer que este país, antes de 2008, era apontado, com o seu superávite orçamental, que chegou a quase 2% do PIB, e com a sua baixa dívida pública, que chegou, em 2007, aos 27% do PIB, como um exemplo de disciplina orçamental, de adaptação neoliberal bem sucedida ao euro. Lembram-se desta narrativa? Foi bem enterrada pelo colapso da bolha imobiliária que puxava, pela força do tijolo e do endividamento privado, o crescimento tão elogiado. Nos escombros desta e da austeridade que se lhe seguiu ficaram milhões de desempregados, ficaram muitos sem casa, ao mesmo tempo que se multiplicam as casas sem gente, por vender, um dos sintomas da irracionalidade do sistema.
O caso espanhol ilustra também reforça algumas ideias gerais que terão de fazer parte de um novo bom senso económico: os défices orçamentais e a dívida pública são variáveis endógenas, que dependem sobretudo do ciclo económico, como se vê pela quase quadruplicação do peso da dívida no PIB espanhol desde 2008; o euro é em si mesmo um poderoso mecanismo de geração de choques assimétricos, de crises a sul, privando os países de instrumentos de política indispensáveis para que possam sair das dificuldades e condenando-os à austeridade permanente; o euro-imperialismo começará a ser superado precisamente pelos seus elos mais fracos a sul; o desemprego é gerado pela crise e pela austeridade recessiva, pelo colapso da procura, e não por direitos laborais, de resto fragilizados desde há muito; a hipótese a ter em conta é a de que os mercados financeiros são ineficientes; o financiamento por poupança externa é uma maldição neste regime euro-liberal e esta maldição começará a ser quebrada por uma profunda reestruturação da dívida; temos de regressar a uma paisagem financeira com muito mais controlo público de bancos que terão de estar engajados com actividades produtivas e com a reinstituição de controlos de capitais, dificultando fluxos desestabilizadores e chantagens políticas feitas pelo capital financeiro; as mais-valias urbanísticas têm de ser socializadas, porque caso contrário alimentam um cortejo de captura privada de políticos, de corrupção, e a provisão pública tem de ser muito mais importante na habitação. Há mais para combater esta indecência, mas paro por aqui.
-> O "crescimento" à força bruta de endividamento e de dinheiro mal gasto... no final da sua fase mais delirante... atirou-nos para a fronteira da bancarrota.
ResponderEliminar-> Ao contrário do "crescimento" à força bruta... o CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL é mais suave...
.
.
.
ANEXO:
Combater o Risco de Implosão Social
[O fraccionamento do trabalho]
.
-> O "crescimento" à força bruta... conduz os Estados em direcção à bancarrota.
-> Ficar à espera de um crescimento económico significativo... sustentável... poderá ser uma espera demorada.
-> Quanto maior o desemprego... maior o risco de implosão social.
.
-> Com algum exagero, um internauta anónimo disse:
«Querem acabar desemprego?
Aumentem a laboração (dia de trabalho para 12 horas), com 2 turnos de 6 horas, claro que haveria de haver uma diminuição de salário para alguns (pois haveria redução de horas), mas haveria trabalho para todos...»
---> A 'coisa' não seria assim tão linear... leia-se, a ser inscrito na Constituição:
1- com uma taxa de desemprego entre 5-9 por cento - caso exista mão-de-obra qualificada disponível, e para empregos de salário superior a 3 salários mínimos - uma entidade patronal deverá poder aumentar (sem custos salariais adicionais) um turno de 8 horas... para dois turnos de 6 horas;
2- com uma taxa de desemprego entre 10-14 por cento - (caso exista...) e para empregos de salário superior a 2,5 salários mínimos - uma entidade patronal deverá poder aumentar (sem custos...) um turno de 8 horas... para dois turnos de 6 horas;
3- com uma taxa de desemprego entre 15-19 por cento - (caso exista...) e para empregos de salário superior a 2 salários mínimos - aumentar um turno de 8 horas... para dois turnos de 6 horas;
4- com uma taxa de desemprego superior a 20 por cento - (caso exista...) e para empregos de salário superior a 1,5 salários mínimos - aumentar um turno de 8 horas... para dois turnos de 6 horas -> NOTA: nesta situação, o salário mínimo 'fraccionado' equivalerá a 75% [1,5 a dividir por dois] do salário mínimo normal.
.
.
.
P.S.
-> O "crescimento" à força bruta... favorece a alta-finança (capital-global).
.
-> Todos pudemos assistir a uma incrível e monumental campanha [nota: a superclasse (alta finança - capital global) controla a comunicação social] no sentido de ridicularizar todos aqueles que eram/são contra o 'viver acima das possibilidades'... ou seja, ridicularizar todos aqueles que eram/são anti-endividamento excessivo; um exemplo: no passado, Manuela Ferreira Leite foi ridicularizada por ser uma ministra anti-deficit-excessivo; e mais, chegam a retratar o contribuinte alemão (que recusa ser saqueado) como novos fascistas/nazis...
-> O discurso de qualquer 'cão/gato' anti-austeridade tem logo direito a amplo destaque... [nota: a superclasse controla a comunicação social].
--->>> Um afrouxamento no controlo rigoroso das contas públicas (fim da austeridade)... proporciona oportunidades para a superclasse... isto é, ou seja, com tal afrouxamento, a superclasse (e suas marionetas) passam a poder 'CAVAR BURACOS' sem fim à vista: BPN's, PPP's, SWAP's, etc...
o financiamento por poupança externa é uma maldição neste regime euro-liberal
ResponderEliminarFoi através de poupança externa, sobretudo inglesa, que foi financiado o desenvolvimento de toda a América, especialmente os EUA mas também a América do Sul. Durante o século 19, fluxos intermináveis e fortíssimos de capital dirigiram-se da Europa para o resto do mundo, especialmente a América, permitindo a construção de imensas (infra-)estruturas nesse resto do mundo.
Em face deste facto, só se fôr o novo regime euro-liberal que amaldiçoa o financiamento por poupança externa...
Como eu me lembro do que se escrevia sobre espanha nos tempos gloriosos... e não esquecer a irlanda que volta e meia é apontada como sucesso de recuperação mas que conhecemos bem o desastre em que sobrevive.
ResponderEliminar