domingo, 7 de abril de 2013

O que podemos esperar da Europa do euro


Rever o que se passou nos anos trinta do século passado ajuda a entender a forma como estes dirigentes políticos encaram a presente crise e dá pistas sobre o caminho que vão seguir para lhe responder. E também nos estimula a fazer o que tem que ser feito. O que segue é uma montagem de alguns parágrafos que traduzi deste texto - escolhidos entre as pp. 201 e seguintes da versão publicada na revista Contemporary European History (2000) v.9(2) - escrito por dois académicos norte-americanos um dos quais (Peter Temin) é entrevistado no Expresso-Economia de ontem:

“A tendência masoquista da mentalidade do padrão ouro reforçou-se à medida que a crise se agravou. Esta mentalidade estendia-se desde os conselheiros económicos dos governos até aos banqueiros centrais.

No fim de contas, o que levou ao colapso aquele sistema [câmbios fixos amarrados ao padrão ouro] não foi apenas a agitação à esquerda mas também o desafio à hegemonia da ideologia do padrão ouro pela realidade económica e financeira em crise. Quanto mais os governos redobravam o seu empenhamento nas políticas de defesa do padrão ouro mais se degradavam as condições económicas. Dado que as condições do paciente se agravavam, até os verdadeiros crentes começaram a admitir remédios fora do convencional. Até os governos conservadores, intelectualmente amarrados às medidas de austeridade, hesitavam em insistir no mesmo caminho com receio da reacção política.

Apenas uma ideologia hegemónica pode levar os líderes políticos a persistir em tais políticas contraproducentes. O padrão ouro forneceu essa ideologia, apoiada por uma retórica de moralidade e rectidão. A sua retórica dominou as discussões sobre a política económica nos anos que antecederam a Grande Depressão e apoiou os banqueiros centrais e os líderes políticos à medida que impunham cada vez mais sacrifícios às pessoas comuns.

Em última análise, foi esta classe política e a ideologia do padrão ouro de que estava imbuída que criou as condições da sua própria derrota. Esta é uma história de declínio económico que apenas chegou ao fim quando estes líderes políticos e económicos foram substituídos pela acção política colectiva em grande escala.”

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