A notícia de que o governo estará à espera da decisão do tribunal constitucional para emitir dívida a 10 anos, coloca várias questões:
1 – O governo tem o dever de procurar reduzir o preço pago
pela dívida. Atrasar uma emissão importante para um momento em que se poderá
estar dentro de uma crise política, implica mais juros para o estado português
e põe em risco a própria emissão.
2 – O financiamento institucional a Portugal (pelos menos nos
moldes em que o conhecemos) termina em breve e em Setembro há uma grande
amortização de dívida que terá de ser financiada nos mercados. O plano de
começar a emitir divida já, para suavizar o impacto de uma emissão única em Setembro,
faz todo o sentido. Atrasá-lo aumenta o risco das próximas emissões e agrava as
condições negociais do estado, mesmo no caso em que a crise politica não se viesse
a verificar.
3 – Como sempre, o risco de “defraudar as expectativas dos
investidores” é uma grande preocupação deste governo, muito maior do que a sua
preocupação com o facto de defraudar constantemente as expectativas do povo
português. Seja como for, se o governo admite defraudar as expectativas dos
investidores, então está também a admitir o risco de entrar em incumprimento.
Neste contexto, a decisão pode ter várias justificações.
Atrasar a emissão aumenta a pressão sobre o Tribunal Constitucional para deixar
passar o orçamento, através da ameaça de um episódio de crise de dívida pública. Por outro lado, no caso de a crise acontecer e de haver eleições, é provável que esse problema só
rebente verdadeiramente já nas mãos de um próximo governo. Por fim, o governo
sabe que o sucesso das emissões anteriores foi apenas aparente e sabe que os
mercados antevêem já essa crise política. Apesar de as medidas do Banco Central
Europeu terem, até agora, suportado as emissões realizadas, o seu efeito pode
não ser suficiente para anular os maus resultados da economia. Corre-se o risco
de um aumento dos juros desde já que poderá, nos próximos meses, ser agravado
com a crise política e a proximidade da amortização de Setembro.
Em qualquer das situações este adiamento não é um bom sinal.
E que bom sinal poderia vir de onde todos os sinais morreram?
ResponderEliminarJosé Luís Moreira dos Santos
Sinceramente não me parece que o governo tenha condições de aceder aos mercados a 10 anos. O mercado tem pouca liquidez e seria complicado colocar grandes quantidades Penso até que muitos dos que compraram aquela emissão a 5 anos estão arrependidos. A situação Europeia demonstra que o Euro pode entrar a colapso a qualquer momento. Nesse sentido, os investidores vão-se focar em títulos mais seguros. Os únicos compradores para o papel nacional serão os bancos portugueses.
ResponderEliminarBem; essa é a notícia de hoje. Mas, antes, a justificação do adiamento era o contágio do Chipre e as suas repercussões sobre os nossos juros. Não será essa a realidade, travestida agora como pressão sobre o Constitucional?
ResponderEliminarMemorandum Troika-Chipre segundo alguns sites...
ResponderEliminarSó espero que este €uropesadelo acabe logo!...
http://mignatiou.com/wp-content/uploads/2013/04/EU_DraftMemorandumforCyprus-01APRIL20131.pdf
Político armado em 'milagreiro económico', é político que quer carta branca para pedir empréstimos...
ResponderEliminarContrair dívida (para isto, ou para aquilo) pode conduzir a uma Espiral Recessiva: o aumento de impostos para pagar a Dívida Pública... provoca uma diminuição do consumo... o que provoca um abrandamento do crescimento económico... o que, por sua vez, conduz a uma diminuição da receita fiscal!
--->>> Por outras palavras: pedir dinheiro emprestado é um assunto demasiado sério para ser deixado aos políticos!!!
Será necessário uma campanha para motivar os contribuintes a participar... leia-se, votar em políticos, sim, mas... não lhes passar um 'cheque em branco'!... Leia-se, para além do "O Direito ao Veto de quem paga", é urgente uma nova alínea na Constituição: o Estado só poderá pedir dinheiro emprestado nos mercados... mediante uma autorização expressa do contribuinte - obtida através da realização de um REFERENDO.