O espectro da deflação ou a realidade dos novos máximos do crédito malparado são apenas dois dos indicadores mais recentes da emergente economia da depressão e dos seus paradoxos. De facto, estes múltiplos paradoxos – da poupança à dívida – assinalam as consequências sociais muitas vezes irracionais do somatório de acções que podem bem, dadas as circunstâncias que cada um enfrenta, ser racionais, o tal fosso micro-macro que as instituições e políticas existentes podem tornar mais ou menos transponível: aquilo que parece o mais certo perante a incerteza radical gerada pelas forças do tempo e da descoordenação mercantil – cortar nos custos, nas despesas, comprimindo a procura – gera desemprego, quebra dos rendimentos e logo maior dificuldade em poupar, ao mesmo tempo que a dívida se torna um fardo cada vez mais insuportável para cada vez mais. Temos a combinação de que são feitas as depressões, sem esquecer o ingrediente fundamental: um Estado compelido, por construção política e ideológica, a comportar-se como se fosse uma família em crise através da austeridade, o que constitui talvez a maior ameaça que a maioria das famílias realmente existentes pode enfrentar. Será que Catroga ainda não percebeu que cortar na “despesa” pública é também cortar directa e indirectamente na “riqueza” do país? Como sublinha o economista político Mark Blyth no seu último livro prestes a sair – vejam ou revejam este notável vídeo –, a austeridade é mesmo uma “ideia perigosa”, com uma história que tem no desemprego de massas e na destruição das democracias dos anos trinta os seus pontos altos. Os paralelismos são mais do que muitos, até pelas grilhetas monetárias que bloquearam e bloqueiam respostas à altura – padrão-ouro na altura, euro hoje em dia –, sem esquecer as notavelmente comuns grilhetas ideológicas do “liberalismo clássico” e seus derivados contemporâneos.
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