quinta-feira, 28 de março de 2013
Sobre a entrevista
Neste blogue já se escreveu muito, e quase sempre de forma crítica, sobre muitas das políticas do governo de José Sócrates, das suas engenharias neoliberais à atitude passiva e subalterna do seu governo em relação a um enquadramento europeu pernicioso. O mas já aí vem. Antes disso, gostaria de apontar uma das principais contradições da entrevista de ontem: por um lado, José Sócrates desmonta, e bem, a narrativa dominante e aldrabona sobre a crise, por outro lado, continua a exibir uma confiança inexplicável num PEC4 de austeridade cuja lógica, instituída por Merkel, pela Comissão e pelo BCE era e é totalmente tributária da narrativa que precisamente denuncia. Sócrates diz que é preciso parar já com a austeridade que destrói a economia. Fica a pergunta: o mesmo não era válido com o PEC4, numa altura que a economia resvalava para a recessão depois de, em 2010, ter crescido 1,4%? Vamos ao mas. Em primeiro lugar, Sócrates aponta a Cavaco e faz muito bem: a duplicidade hipócrita do mais mesquinho político português, calado em relação à crise europeia até à eleição de Passos, apoiante de todas as austeridades subsequentes, é inegável. Em segundo lugar, Sócrates tem toda a razão quando enfatiza de forma adequada o nexo causal: da crise financeira internacional à crise da dívida que não é soberana. Em terceiro lugar, Sócrates tem toda a razão quando recusa acusações de despesismo: o défice é uma variável endógena, que aumentou devido à crise, sobretudo devido à quebra das receitas, como aqui temos insistido, e não devido a qualquer impulso deliberado de despesa pública, como insistem editores e economistas aldrabões em demasiada comunicação social. No entanto, Sócrates, como europeísta acrítico e social-liberal que foi e é, ainda não é capaz de identificar as estruturas internas e externas que colocaram Portugal aqui e que o seu governo não enfrentou (podia tê-lo feito com um Amado no MNE, por exemplo?): um euro disfuncional, uma economia dominada pela finança e por outros grupos económicos rentistas.
Ou seja, a única culpa de Sócrates é a omissão, não é a acção que teve. Parece-me um revisionismo estranho tendo em conta a realidade das contas públicas.
ResponderEliminarMuito bom!
ResponderEliminarA confiança nos efeitos – milagrosos? – não provados do PEC IV é a clássica confiança de quem nada mais tendo para apresentar em sua defesa recorre a algo que por ter sido chumbado pela oposição passa a constituir o álibi perfeito. O problema está no facto de o PEC IV ser a sequência lógica e inevitável do PEC III e de o Memorando de Entendimento, e a vinda da Troika, ser a sequência lógica de tudo o que Sócrates (não) fez nos seus anos de governação. Sócrates foi o precursor da política austeritária, embora tenha transmitido a ideia de não se recordar desse facto. Vir agora acusar este Governo, ainda que seja uma crítica justa, de uma política austeritária padece do defeito de a acusação ser feita por quem não tem nenhuma legitimidade para a fazer.
ResponderEliminarSe é possível admitir que Sócrates tem razão quando refere o nexo causal que “leva da crise financeira internacional à crise da dívida que não é soberana” não se entende como ele pode continuar a ignorar que as políticas por si seguidas aumentaram imenso a exposição dos portugueses ao efeito dessa crise particularmente daqueles que vivem do seu trabalho.
É improvável que Sócrates tenha alguma razão na forma como reage à acusação de despesismo. Há uma componente da despesa que tem a ver com as rendas pagas a sectores monopolistas que Sócrates não só não combateu como até terá promovido. Para não falar dos negócios relacionados com as PP´s ou com as pressões feitas para a construção de mais obra, sobretudo rodoviária.
Sócrates tomou as posições que são conhecidas no que ao combate à corrupção diz respeito.Ora a corrupção além da ineficiência económica que lhe está associada gera desigualdade.
A entrevista de ontem só foi possível porque uma parte da classe política pensa que a memória das pessoas é mesmo muito curta e porque essa parte da classe política cultiva o principio da não inscrição quando se trata de abordar as suas responsabilidades políticas. A novidade reside tão somente na constatação de ser cada vez mais rápido o período de retorno.
"a duplicidade hipócrita do mais mesquinho político português"
ResponderEliminar...e eu acrescentaria:
ALDRABÃO E TRAIDOR, do juramento prestado a todos os portugueses.
Este colateral a Cavaco,não esconde a caracterização da natureza de
Sócrates,enquanto profissional da política - os mesmos genes do Passos!
Nascido e criado no aparelho(!) da democracia representativa - tal como o Passos!
- egocentrico,narcisista,ambicioso e prepotente -tal como o Passos!
- será talvez...menos capacho!!!
Uma única certeza:
NÃO INTERESSA Á DEMOCRACIA!
...o que me parece pobre é a forma como se ataca o argumento de Sócrates...o PEC IV foi chumbado. Sócrates tem assim hoje total liberdade para indicar que com ele estaríamos melhor (pior é que garantidamente não se estava)...o PEC IV não era apenas uma 'virgula' era isso sim ‘tudo’ um programa que incluso entalava a própria CE…logo ao chamar à coação este facto Sócrates faz o essencial invocar o todo...faltou a Sócrates falar da cumplicidade empenhada de uma esquerda ao PS que se aliou à direita (algo recorrente) apenas para ir igualmente ao pote…o que essa esquerda ainda não viu é que eles só ganham espaço eleitoral quando o PS sobe e perdem-no sempre que o PS desce…até no calculismo são fracos…
ResponderEliminarBoa malha!
ResponderEliminar...e, já agora, como entender que um homem, que não admite errar, ter confessado o erro de ter formado um governo minoritário?
Ricest,
ResponderEliminarnão se "chama à coação", chama-se sim "à colação".
já que repete como um papagaio o mantra das viuvinhas do senhor engenheiro - como se BE ou CDU pudessem aprovar http://golfinhovermelho.files.wordpress.com/2013/03/pec-iv-toda-a-verdade1.pdf - ao menos não invente expressões.
Ainda por cima tem um problema: Sócrates não falou no assunto, por isso ser um não assunto para ele.
Rogério Pereira
ResponderEliminar"...e, já agora, como entender que um homem, que não admite errar, ter confessado o erro de ter formado um governo minoritário?"
Esta foi a frase mais significativa de toda a entrevista em termos da sua actuação futura.
O segundo elemento mais relevante a ausência de quaisquer críticas ao Bloco e ao PCP ( acrescida da "compreensão" da atitude do PS).
Em terceiro a colocação do actual Presidente da República, no centro da responsabilidade pela situação actual do país.
O PEC4, como tinha apoio do BCE, faria com que nos emprestassem dinheiro a 1% de juro. Portanto, a melhores condições que a troika, que leva quase metade do que emprestou e está a emprestar. O financiamento actual tem origem no BCE, mas passa pelos bancos que levam 7/8% de juros(os conhecidos). Ora caso fosse a avante, o PEC4 evitaria muita coisa que hoje acontece. Não é assim tão confuso, acho.
ResponderEliminarSim, Ulisses, não é. Maravilhoso PEC IV que nos daria o que os PEC I, II e III não deram: Jardins-escola, a Primavera e um par de botas.
ResponderEliminarComo diria alguém noutro blogue, é tão pouco confuso como um novo milagre de Fátima.
... anónimo ...
ResponderEliminara mim faltou-me o "l" a si faltam-lhe é argumentos...já agora que repete que nem um papagaio a cassete do - não temos nada a ver com a queda do anterior governo em aliança com a direita...ao menos não invoque um pasquim partidário como suporte...
Ricest, Papagaio? Aos xuxas é que n~
ResponderEliminarao páro de ver debitar com confragedor cassetismo a ideia de que o PCP o BE ou qualquer partido modicamente social-democrata pudesse aprovar as coisas que aí vão.
O que lhe cito não é um pasquim é um documento num blogue, mas percebo que catequisado pela Acção "socialista" e pela Associação das viúvas do Sócrates palra a argumentação possível. Não é assim, com outros, todos os Maios com os milagres da Nossa Senhora?