sábado, 9 de fevereiro de 2013

Europa social?

Há muito tempo que não recomendamos a tradução de um livro. Em Portugal ainda há demasiada gente que gosta de inventar uma tradição progressista que teria tido uma real influência na condução da economia política da integração europeia. Esta breve, mas acutilante, história crítica da construção europeia, com um título esclarecedor – A Europa social não terá lugar – e que lhe dá estrutura, é um bom antídoto contra este hábito de pensamento, indicando como o neoliberalismo, que não surge nos anos setenta, ao contrário de algumas histórias apressadas, mas muito antes, é influente neste processo de construção institucional de mercados desde o início. Entre outros pontos, os autores indicam como a social-democracia europeia mais avançada foi até tarde céptica em relação ao que via como sendo a integração europeia realmente existente, a do grande capital, o mesmo não se podendo dizer das suas alas direitas nos países centrais à integração. Paradoxalmente, quase todos os social-democratas aderiram a este processo, muitos com a fé dos recém-convertidos, precisamente quando o neoliberalismo se intensificou a partir dos anos oitenta, tendo na integração europeia um dos seus principais veículos políticos. Os indivíduos fazem a história, mas em circunstâncias que não escolheram, que herdaram do passado, já dizia Marx. As circunstâncias herdadas, o neoliberalismo inscrustado nas instituições europeias, e a economia política de uma área cada vez mais heterogénea do ponto de vista socioeconómico, obstáculo, cada vez mais intransponível, a acordos com impactos redistributivos relevantes, indicam-nos que a “Europa social”, que certa esquerda parece destinada a invocar, infelizmente com impotência e irrelevância crescentes, não passa de uma miragem. Os resultados provisório das negociações para o residual quadro orçamental europeu plurianual aí estão: cortes que enterram a última ideia, na senda das agendas de Lisboa e quejandos, de compensar as austeridades nacionais com relançamentos europeus. Para encarar as coisas como elas são e pensar nas alternativas, é preciso encarar as coisas como elas foram sendo feitas. Este pequeno livro dá uma grande ajuda.

2 comentários:

  1. Caro João

    Obrigado pela interessante sugestão.
    Já agora, também a notável Annie Lacroix-Riz, aqui:
    http://www.dailymotion.com/video/x6s90y_europe-mythe-et-realites_news?start=4

    aqui:
    http://www.historiographie.info/bibliov3.pdf

    e em geral aqui:
    http://www.historiographie.info/multimedia.html

    Daqui a uns anos a verdadeira questão vai ser: como é que esta enorme bolha especulativa (chamemos-lhe assim) de alucinação colectiva pôde acontecer.
    Isso sim, vai ser uma questão interessante de tratar, do ponto de vista da "socio-história das mentalidades"...

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  2. Caro João Carlos Graça,
    Obrigado pela referência.
    Um abraço,
    João

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