“Estou seguro de que se exagera extremamente as forças dos interesses adquiridos quando comparada com o gradual entranhamento das ideias.” Talvez Keynes exagerasse, mas talvez devamos agir como se estivesse certo. O editorial de apresentação da nova Review of Keynesian Economics enfatiza precisamente a importância da interacção entre ideias e políticas: “As consequências do regresso da macroeconomia clássica foram enormes. Para a sociedade implicaram uma era de domínio neoliberal sobre as políticas, que contribuiu para a estagnação salarial e para a desigualdade de rendimentos maciça, em grande medida responsável pela Grande Recessão e pela perspectiva de estagnação. A teoria económica e a política andam de mão dadas, com a teoria a reforçar a política e a política a reforçar a teoria”. O primeiro número está disponível gratuitamente e contém artigos, entre outros, sobre a austeridade, em particular na zona euro, a política orçamental orientada para o pleno emprego no mundo real ou os efeitos macroeconómicos das desigualdades.
Outras ideias, altamente complementares em relação às keynesianas sem abastardamentos, que têm de se entranhar mais são as a da chamada economia política internacional crítica – a que insiste em falar de poder, classes, suas fracções, lutas, alianças e projectos hegemónicos –, em particular na área dos estudos sobre a integração europeia, até há pouco dominada por abordagens panglossianas, ou não fosse a Comissão um agente importante aqui, e onde a actual crise sistémica é coisa embaraçosa. Magnus Ryner e Alan Cafruny, por exemplo, há vários anos que vêm desenvolvendo um trabalho crítico importante, que está sintetizado num artigo desta revista, sobre uma crise em desenvolvimento, graças aos poderes que construíram uma arquitectura disfuncional, mas feita para garantir todas as vitórias de classe.
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