Tenho defendido neste blogue que a economia é demasiado importante para ser deixada aos economistas. Uma das tendências intelectuais positivas mais recentes tem sido o significativo reforço da atenção de outras ciências sociais em Portugal pelas questões ditas económicas. Aliás, a economia política encontra noutras ciências sociais um ambiente por vezes bem mais favorável, porque menos condicionado por idealismos mercantis que vêem a economia como um problema social e politicamente resolvido. A sociologia económica pode analisar então muito do que interessa neste campo: as relações sociais na provisão dos bens necessários à vida, a construção política sempre contestada dos mercados, arenas de poder como há poucas, o que faz com que o chamado mercado livre não seja mais do que uma ilusão ideológica; a atenção às classes sociais, às formas de propriedade e às forças que forçam mudanças; o papel da confiança e da desconfiança sociais, a armadilha social criada pelas desigualdades excessivas que impedem a cooperação necessária; a importância da participação de todos os interessados na definição das políticas, incluindo da política industrial, uma área de que agora muito se fala outra vez; a atenção aos grupos económicos, às suas estratégias e ao seu poder; a necessária pluralidade das instituições que definem uma economia socialmente viável. Tudo isto é abordado nos contributos que compõem esta obra colectiva, coordenada por Luísa Veloso e Renato Carmo, sobre a constituição social da economia, com muitos estudos de caso à mistura. A análise crítica fica para o debate de amanhã no Porto...
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