quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Depressão
Preços cairão pela primeira vez em décadas. O espectro da deflação é a melhor indicação de que estamos a sair da crise para entrar na depressão. Anos trinta de novo, com a força da troika. Nos anos trinta, Irving Fisher, um economista convencional que tinha subestimado o alcance da crise financeira, forjou a “teoria da dívida-deflação das grandes depressões”, analisando a interacção perversa entre a deflação e a dívida – “quanto mais os devedores pagam, mais os devedores devem”, dado que a queda dos preços, causada pela compressão da procura, significa um aumento do fardo real da dívida e uma situação de insolvência generalizada. Neste círculo vicioso, o que não pode ser pago não será pago.
Também nos anos trinta, Keynes falou do paradoxo da poupança, outro dos muitos paradoxos da economia da depressão em que aqui temos insistido. É então preciso repetir pela enésima vez que quando todos tentam poupar todos podem acabar a poupar menos, em especial quando o Estado se comporta como se fosse uma família em crise: a austeridade, por via do aumento dos impostos, sobretudo quando este é regressivo, e por via do corte da despesa publica, traduz-se numa quebra generalizada dos rendimentos, acentuando a quebra da procura, o que faz com que sobre cada vez menos, até porque a despesa de uns é o rendimento dos outros.
O que dizem agora os moralistas? Silêncio que se vai continuar a aproveitar a depressão para todas as imoralidades no mundo do trabalho transformado em mercadoria cava vez mais barata e facilmente descartável: o embaratecimento dos despedimentos, fazendo com que as indemnizações caiam para metade em menos de um ano, só incentiva o recurso aos mesmos em época de crise da procura, só incentiva ao reforço de uma medíocre economia do medo, uma economia acompanhada por todas as fraudes intelectuais, em que Passos Coelho e companhia se especializaram. Fraudes regressivas são a única coisa que cresce nesta economia da depressão. É que ainda há muito para pilhar à boleia da “liberdade de escolha”, do “mercado livre”, do “crescimento sustentável” e de outros conceitos fraudulentos que se destinam a esconder os grandes poderes que são beneficiados com esta política.
Uma sociedade que há muito preza a desigualdade não estranha a indecência muito menos a inevitabilidade de um sistema que não conta com todos.
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