terça-feira, 18 de setembro de 2012

O bom aluno morreu


1. Quando o The Washington Post colocou a hipótese de Portugal poder estar perante um «ponto de inflexão» (capaz de transformar a resignação modorrenta de «uma nação de cinto apertado» numa «explosão de raiva»), as ruas e as praças ainda não tinham recebido o mar de gente que nelas transbordou. A hipótese avançada pelo periódico baseava-se apenas nos primeiros impactos, junto da opinião pública, causados pela sequência de episódios que marcariam a implosão da maioria PSD/PP;

2. Esta sequência de episódios (a comunicação do primeiro-ministro ao país; a mensagem suicida do «Pedro» aos «amigos» do facebook; a conferência de imprensa de Vítor Gaspar; e a entrevista de Passos Coelho à RTP) concentraram internamente todas as atenções, concedendo particular e justificada relevância à discussão em torno da Taxa Social Única (TSU);

3. De facto, o imperdível (e raro) espectáculo de um governo a imolar-se a si próprio e as convulsões geradas (nos mais insuspeitos quadrantes) pela questão da TSU, contribuiriam para dissimular o que seria essencial reter: o «bom aluno» falhara e falhara de uma forma colossal. Não porque não tivesse aplicado sobre si mesmo (com todo o zelo e excesso de zelo) a terapia que lhe fora imposta, mas justamente porque essa terapia se revelou profundamente errada e por isso os seus efeitos devastadores se manifestaram em maior escala;

4. Num laboratório, quando os resultados - obtidos através de um ratinho que seguiu obedientemente todas as instruções - contradizem uma hipótese, a terapia (e os seus mentores e executores) é posta em causa. Mas não estamos num laboratório convencional: estamos numa Europa dominada por um pensamento económico obsoleto, criminoso e politicamente irresponsável. Se o ratinho em que se depositavam todas as esperanças «falhou», assobia-se para o ar e começa-se a tratá-lo como se tratam os ratinhos desobedientes. Para a troika, o bom aluno morreu. Para nós, a Grécia começa agora a sentir-se mais na pele.

7 comentários:



  1. Era escusado repetir a foto de Istambul ... Nao havia umas fotos das manifestações cá em Portugal?

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  2. Pela vossa rica saúde, substituam a fotografia que não é da manifestação de Sábado nem é em Portugal. Que descuido!

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  3. Caro Manuel Cruz e caros anónimos,
    Agradeço o reparo relativamente à fotografia que aqui foi colocada inicialmente e que já foi adequadamente substituída. Obrigado.

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  4. A lógica do "bom aluno" surge vulgarmente associado a um seguidismo bacoco, anula também a capacidade de pensar diferente, de olhar para as coisas de forma descomprometida e saudável.
    O conforto sentido aquando das frases simpáticas e elogiosas de alguns dos lideres europeus parece proporcional à necessidade de aceitação que este povo sente, penso que há demasiada a gente a se sentir menor e inferior.

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  5. Foto, portuguesa ou não estou-me nas tintas, não estou seguramente,sobre o texto e, esse sim é bem esclarecedor e real ! Como inverter este negro panorama ,decepar este gigantesco polvo e os ratinhos que o alimentam?

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  6. Meu amigo Nuno,
    Quando te referes a bom aluno estás a referir-te a quê, e a quem?
    Este gajo/polvo é bom aluno de quem? Onde? Quando?
    É que o histórico dele como aluno é bem pior que o meu, e o meu não é propriamente exemplar, como tu sabes...
    Morreu? Mas ele chegou a viver?
    Quando muito... mostrou a cábula antes de iniciar o exame...

    Sabes o que verdadeiramente me preocupa (e que quanto a mim deverias já ter iniciado o tema há algum tempo, nas tuas crónicas)?

    Eu explico:
    Ontem, por coincidência, encontrei-me com duas personalidades de relevo e algum "peso" neste (P)país - um Historiador, o outro Economista - ambos peso pesado, recém jubilados.
    Depois de algum tempo de conversas acerca, coloquei a mesma pergunta: "diga-me lá, no fundo acha possível darmos a volta por cima sem haver sangue a sério nas ruas"?
    Estranhamente, mas sem surpresas, as respostas foram idênticas: "mas o meu amigo é poeta???"
    Vindas dum Historiador e dum Economista, esperava algo diferente...
    A parte que efectivamente me animou e no fundo me deu alguma luz ao fundo do túnel, veio do Economista: "mas sabes, o engraçado disto tudo é que na linha da frente, a levar por tabela, está a Alemanha!!!" E explicou (e bem) porquê.

    ... "a ver vamos", como diz o cego.

    Um abraço

    Leonel

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