sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Não se iludam nem se entusiasmem...

Com o novo programa de compra «ilimitada» de dívida pública pelo BCE (títulos de curto prazo), ontem anunciado por Mario Draghi e a que o João Rodrigues já aludiu no post anterior.

Como se sublinha no Público de hoje, «Mario Draghi foi claro quando disse que o OMT [novo programa de compra de dívida pública] só será desencadeado se os países beneficiários pedirem igualmente a ajuda dos fundos de socorro do euro. Este pedido obrigará os requerentes a submeter-se a uma condicionalidade estrita, assumindo programas de ajustamento macroeconómico com objectivos precisos em termos de reformas económicas e de redução do défice orçamental, cujo cumprimento passará a ser vigiado de perto pela troika da Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional (FMI) e BCE».

Ou seja, trata-se sobretudo, na prática, de amortecer temporariamente a pressão dos mercados financeiros sobre as dívidas ditas soberanas, ao garantir o financiamento dos Estados em títulos de curto-prazo. Tal não significa contudo, muito pelo contrário, que esse alívio constitua uma transição da austeridade para o crescimento. De facto, mal se acaba de acenar com a cenoura o pau é imediatamente mostrado (a «condicionalidade estrita» a que se refere Draghi), reforçando o garrote sobre a soberania orçamental dos Estados e dando um novo fôlego aos desígnios de empobrecimento e de desmantelamento dos serviços públicos. O que poderá parecer, aos olhos de alguns, um bálsamo para o prisioneiro, tende a afigurar-se mais como um tónico muscular para os seus algozes.

3 comentários:

  1. « Trata-se sobretudo, na prática, de amortecer temporariamente a pressão dos mercados financeiros sobre as dívidas ditas soberanas…»

    O que são os mercados financeiros, Nuno Serra? Os stock brokers Joaquim, Alonso, Pierre, John, Fritz e alguns gajos para quem eles trabalham?

    Ou serão os bancos a funcionar em circuito fechado apontando um imenso e todo-poderoso monopólio?

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  2. E eu já temo que com sócras a coisa corresse melhor, a esta hora... à causa disto, de me parecer mais honesto e, ao fim, também mais inteligente .

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  3. Portugal precisa urgentemente de romper com as forças internacionalistas de escravização nacional. Só uma politica salazarista progressista e adaptada aos nossos tempos pode exorcizar Portugal da infâmia e humilhação sem fundo a vista.
    Atente-se nestas sabias palavras de 1934:

    Ninguém certamente confunde a, plutocracia com o grande comércio ou com a grande indústria. A concentração que os fez surgir é determinada ou por condições económicas gerais ou por condições específicas de determinada produção. É útil economicamente, pode ser impecável nas suas relações com o trabalho e com o público e em certos casos não está na sua mão ser ou não ser. Também ninguém confundirá a plutocracia com a finança. Enquanto houver moeda e crédito e propriedade privada e capitais mobiliários e produção gerida por uns e abastecida de capitais por outros tem de haver finança. E esta, que é útil, pode ser igualmente impecável. Mesmo quando especula, dentro de certos limites, a finança tem utilidade social. Pode até o financeiro, como outros administradores de grandes riquezas, não ser rico; mas exactamente porque manuseia matéria de verificação delicada — dinheiro, títulos, crédito — pode ter intervenções inconvenientes na vida económica e arrastar consigo muitos valores que se lhe confiam ou o seguem nas suas operações. Quando joga, deixa de interessar à economia; nós podemos dizer que está já fora da sua função.
    O plutocrata não é, pois, nem o grande industrial nem o financeiro: é uma espécie híbrida, intermediária entre a economia e a finança; é a «flor do mal» do pior capitalismo. Na produção não lhe interessa a produção, mas a operação financeira a que pode dar lugar; na finança não lhe interessa a regular administração dos seus capitais, mas a sua multiplicação por jogos ousados contra os interesses alheios. O seu campo de acção está fora da produção organizada de qualquer riqueza e fora do giro normal dos capitais em moeda; não conhece os direitos do trabalho, as exigências da moral, as leis da humanidade. Se funda sociedades é para lucrar apports e passá-las a outros; se obtém uma concessão gratuita é para a transferir já como um valor; se se apodera de uma empresa é para que esta lhe tome os prejuízos que sofreu noutras. Para tanto, o plutocrata age no meio económico e no meio político sempre pelo mesmo processo — corrompendo. Porque estes indivíduos, a quem alguns também chamam grandes homens de negócios, vivem precisamente de três condições dos nossos dias: a instabilidade das condições económicas; a falta de organização da economia nacional; a corrupção política. — Quem tenha os olhos abertos para o que se passou aqui e para o que se passa lá fora não pode duvidar do que afirmei.


    O PROBLEMA DA RIQUEZA; SUA FUNÇÃO SOCIAL; CAPITAL E TRABALHO (03)

    («Problemas da organização corporativa» — Conferência no S. P. N., em 13 de Janeiro — «Discursos», Vol. 1, págs. 292-294) – 1934

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