quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Uma vergonha!


O Primeiro-Ministro fez ontem um discurso que ilustra bem o desespero em que se encontra tentando iludir por mais algum tempo os cidadãos menos instruídos. Com a economia portuguesa numa recessão grave, com a recessão europeia em aprofundamento, com a desaceleração do crescimento global, fatalmente o nosso défice orçamental afastar-se-á substancialmente das metas previstas. Mesmo com alguma benevolência da troika, temerosa de uma repetição da situação grega, Passos Coelho será forçado a tomar decisões de política económica (vulgo "austeridade") que vão acelerar a recessão e convertê-la numa depressão. Ainda assim, ousa dizer que “2013 será o ano da estabilização económica e preparação da recuperação.” No Sul da Europa, apenas o Primeiro-Ministro de Portugal se atreve a fazer este tipo de discurso. Uma vergonha!

Infelizmente, os próximos meses vão tornar mais claro o que significa a adopção por grande parte da UE de orçamentos (quase) equilibrados, a chamada "regra de ouro" que a Assembleia da República se apressou a aprovar e que o Primeiro-Ministro tanto deseja inscrever na Constituição.

Entretanto, enquanto os cidadãos portugueses mais esclarecidos não se organizam para salvar este país, vale a pena ler com atenção este texto de Amartya Sen de que traduzo um parágrafo:

"A frequentemente invocada "analogia" com os sacrifícios da Alemanha para realizar a unificação da Alemanha de Leste e de Oeste ofusca algum pensamento europeu e é completamente enganadora. Isto é assim, em parte, porque o sentido de unidade nacional que sustentou o sacrifício alemão não existe, neste momento, entre as diferentes nações europeias, e também porque o sacrifício presente nesse notável exercício de unidade nacional foi suportado principalmente pela parte mais rica da Alemanha no Oeste, e não pelas áreas mais pobres como agora está a ser pedido a muitos dos países europeus aflitos, da Grécia à Espanha."

5 comentários:

  1. Sem Pontal por onde se lhe pegue

    Enquanto o arroz cozia, o PM dedicou-se a reforçar o discurso moralista e sobre a frugalidade (para os outros, claro - porque as listas de boys com subsídios de férias e Natal e outras mordomias é farta), a prognosticar infundadamente o início da recuperação económica para 2013 (quando já tinha feito semelhante promessa para o corrente ano - aliás lembram-se que bastava que o novel parisiense libertasse a poltrona e se cortassem umas “gorduras” e tal para alcançar tal desiderato) e a informar-nos que o número inesperado (?) de desempregados se deve exclusivamente ao "regabofe" despesista do passado porque a austeridade musculada imposta nos últimos tempos em nada contribuiu. Pelo contrário, foi geradora de imensas oportunidades para as pessoas mudarem de vida, de país ou se tornarem empresários com o capital de que não dispõem e que ninguém lhes empresta. Aproveitou ainda para graciosamente nos informar que a prometida recuperação será baseada em mais austeridade forçosamente regeneradora e inerentemente necessária e sã. Como culminar da sua gostosa intervenção teve a delicadeza de nos dizer que será através da sua maviosa voz que saberemos quais as medidas que compensarão a desfaçatez daqueles perigosos esquerdistas antipatriotas do Tribunal Constitucional que ensandecidos, insistem em fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa. Ficámos mais convictos da sua determinação em cumprir todas as metas acordadas e em efectuar o programa de desvalorização interna a que estamos comprometidos, ainda que para isso se destrua o que resta do nosso poder de compra, da nossa estrutura produtiva e consequentemente da nossa débil economia. E tudo porquê? Porque “não há alternativa”, segundo a sua minguada visão e dos que como ele beberam da água tóxica de Chicago, servida por agentes da oligarquia como Milton Freeman e Lugwig von Mises. Parece que até Madame Lagarde, fez curas de desintoxicação de tais venenos com água Perrier que carrega amiudadamente no seu Louis Vitton. Mas isso ainda cá não chegou. Levamos sempre tempo a copiar as modas de Paris.
    Foi portanto um discurso carregado de fé (e por consequência esvaziado de razão) e de um optimismo infundado e ofensivo que tanto gostava de criticar no seu antecessor. Deve ser algo pegadiço que se apanha nas cadeiras de S. Bento. Na minha humilde opinião como discurso político mobilizador foi um rotundo fracasso - como aliás se pode comprovar pelo reduzido entusiasmo dos seus correligionários. Já como peça de stand up comedy esteve em excelente plano. Espero pelo menos que o arroz estivesse bom…

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  2. Os "sacrifícios da Alemanha para realizar a unificação da Alemanha de Leste e de Oeste" foram pagos pelos cidadäos da Jugoslávia!!! Com efeito, a dívida de guerra da Alemanha para com a Jugoslávia ficou por pagar, e näo era pouco o dinheiro.
    Como? Basicamente foi desse modo que a Eslovénia e a Croácia ganharam täo célere reconhecimento do governo de Berlim (ou ainda era Bona?)--contra as próprias directivas de Bruxelas--porque aceitaram renegar à sua parte da compensaçäo.
    O Kohl foi muito inteligente, porque sabia que ia precisar desse dinheirame todo para pagar a reunificaçäo. Basicamente Eslovénia e Croácia compraram a independência... à Alemanha!

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  3. Se bem me lembro uma critica que se fazia à Constituição de 1975 era que era muito ideológica. Como exemplo tínhamos a irreversibilidade das nacionalizações.
    Era necessário, dizia-se, limpar a Constituição dos tais preconceitos ideológicos.
    Agora os que diziam coisas destas, querem colocar na Constituição limites para o deficit, isto é, colocar lá travões ideológicos.
    A conclusão que se tira é que o problema não era a Constituição ser ideológica, o problema era não ser da ideologia que se pretendia.
    Aliás, já na Constituição europeia, com uma fortíssima carga ideológica se via tal coisa pois os seus defensores nunca se preocuparam com as suas "derivas" ideológicas.

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  4. Saiu do Pontal e foi directo a Fátima.

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  5. Fim da recessão em 2013? Só pode ser mais um episódio da manipulação vergonhosa que vem sendo dirigida aos mais incautos. Pois é, infelizmente a coisa está cada vez mais preta: todos os dias se vêem fábricas a fechar, empresas a entrar em insolvência, desemprego a crescer.

    No show do Pontal ficámos a saber que “acabou o regabofe”. Se ainda fosse verdade…Nada disso, basta olhar para a saga das privatizações: EDP, BPN, Pavilhão Atlântico, RTP (na calha), tudo em saldo, em processos duvidosos, e que JAMAIS servirão para amortizar efectivamente qualquer dívida. (Bem, Catroga desapareceu de cena, Nogueira Leite aspas, deve ser sinal que o “problema vai sendo resolvido”…)

    Também fiquei estupefacto quando PPC chamou à colação o Sr. Hollande (!), ou melhor, “aqueles que tinham vaticinado que após a eleição do Presidente francês o rumo ia ser diferente”. Nada disso, já estamos esclarecidos e induzidos a pensar que o rumo será o do sofrimento na pele do PIGG, o da “expiação do pecado”. Até à extinção, talvez.
    Qual ingénuo, parece querer desconhecer que Portugal faz parte da periferia de uma UE desigual e mal arquitectada, tão cego que está em servir os interesses alemães, lambuzando-se nos elogios que vêm da Merkel e do seu staff. Patológico!

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