quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Eurodestruição?

Exceptuando o Haiti, a Itália foi o país que menos cresceu a nível mundial na primeira década do milénio, tendo Portugal também conquistado um lugar neste duvidoso pódio. É o que dá uma moeda forte num tempo que foi de aposta política europeia na intensificação dos fluxos económicos globais. No euro-sul quem cresceu foi quem teve o capital financeiro (inter)nacional a fazer bolhas na construção e no consumo. Ao contrário do que parece pensar a opinião convencional, a procura interna esteve mais ou menos estagnada nos dois países do euro que subiram ao tal pódio. Bom, agora os países do euro-sul estão sendo alinhados por uma austeridade que promete já não mais uma década perdida para alguns, mas sim uma década de perdição para todos. As novidades que vêm de Itália apontam para aprofundamento da recessão, com uma queda do PIB de 2,5% em termos homólogos, e da austeridade recessiva, com mais 20 mil milhões de cortes prometidos por Monti. É o círculo vicioso já conhecido. Entretanto, a recessão aproxima-se da França e a poderosa e extrovertida indústria alemã começa a pagar o preço do encolhimento do mercado interno europeu, o resultado vicioso global do somatório de austeras virtudes nacionais: a despesa de uns é o rendimento de outros, as importações de uns são as exportações de outros. Neste contexto, eu percebo bem por que é que os Camilos Lourenços apostam tudo na manutenção de um “consenso” político nacional a três que só serve o programa de quem, a partir da sua zona de conforto, trata a crise como uma oportunidade para destruir o que resta de social-democracia nesta economia política. Não percebo é o que faz o PS neste “consenso”, mas, pelos vistos, a social-democracia em Portugal, na Itália do também lamentável Partido Democrático e noutros países está apostada em dar razão aos que vaticinaram a sua eurodestruição.

3 comentários:

  1. Se como diz a moeda é muito forte, o problema esta aí e a solução também. Abandonasse a moeda e assim o empobrecimento será mas justo/equitativo.

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  2. «Não percebo é o que faz o PS»


    Sheldon Emry – Escritor e sacerdote norte-americano:

    "Quando se começa a estudar o nosso sistema monetário, apercebemo-nos rapidamente que estes políticos não são agentes do povo mas sim agentes dos banqueiros, para quem fazem planos para colocar as pessoas ainda mais endividadas."

    "Os nossos dois principais partidos tornaram-se servos dos banqueiros, os vários departamentos do governo tornaram-se as suas agências de despesas, e o Serviço da Receita Federal (IRS) é a sua agência de recolha de dinheiro."


    Carroll Quigley - professor na Universidade de Georgetown e mentor do Presidente Clinton - no seu livro de 1966 «Tragédia e Esperança» (Tragedy and Hope) escreveu:

    [...] "Os poderes do capitalismo financeiro têm um plano de longo alcance, nada menos do que criar um sistema de controlo financeiro mundial em mãos privadas capazes de dominar os sistemas políticos de cada país e a economia mundial como um todo."

    [...] "«Cada banco central... procura dominar o seu governo pela sua capacidade em controlar títulos do tesouro, manipular o câmbio externo, influenciar o nível de actividade económica no país, e influenciar políticos cooperantes por intermédio de recompensas económicas no mundo dos negócios.»"

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  3. (ainda sobre o “casamento do bom aluno Portugal com os mercados” - segundo Camilo Lourenço, e os outros que se lixem)

    É de pasmar a apreensão de Camilo Lourenço, mesmo que seja só com a hipótese de “divórcio” na família do arco do poder, ele que é mais um apologista dos safanões.
    Ainda recentemente Camilo Lourenço implorava à Troika para vir literalmente dar um safanão a Portugal, ou melhor, ao Tribunal Constitucional…Isto a propósito da decisão do TC relativamente à inconstitucionalidade dos cortes dos subsídios dos servidores públicos (salvo as convenientes excepções) e aos pensionistas.

    É uma ilusão esta democracia (burguesa) de “democratas de pacotilha”; jamais seria aceite um veredicto que não fosse o que lhes confere a hegemonia do poder.
    Está na hora de dar um safanão a todos os “camilos lourenços”, que é afinal o mesmo que eles farão: não hesitarão em rasgar a Constituição, se lhes aprouver. Pensem nisso!

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