sábado, 25 de agosto de 2012

A bela e o monstro


Perante as notícias do desvio colossal na execução orçamental, Helena Garrido no Negócios e Bruno Proença no Económico, inspirados por Cavaco, concluem, respectivamente, que o “monstro não se deixa domar com facilidade” e que “o monstro do Estado ganha”. De Cavaco só se aproveita mesmo um tardio e oportunista assomo de sensatez: o défice é uma “variável endógena”, estando dependente do andamento da economia. De resto, o monstro que nenhuma bela dispensa já está preso monetariamente pelo euro e pela troika que dele é indissociável, obrigado a comportar-se como se fosse uma bela em crise e que ninguém vem ajudar, cortando na sua ‘despesa’ e tentando encontrar fontes regressivas de receita, despojado de toda a liberdade, de toda a soberania, de toda a possibilidade de ser parte da solução para superar a crise. Acontece que este comportamento, que ainda é considerado tão belo por uma minoria que com ele lucra material e/ou ideologicamente (os que gemem), gera uma recessão monstruosa e desemprego sem fim (os que fazem força). É o que dá ter a bela e o monstro juntos a tentar poupar ao mesmo tempo, o que gera todos os paradoxos conhecidos da economia da depressão, ainda para mais quando as belas e os monstros estrangeiros também o fazem. De resto, o objectivo do défice é só um horizonte, e sabemos como o horizonte funciona, um dos meios para cortar nos salários directos e indirectos da bela e do monstro. Esta é uma das reais monstruosidades nesta história sem final feliz à vista.

2 comentários:

  1. o défice é uma percentagem do PIB, não fará sentido que quanto mais cresça o PIB menor seja o impacto do défice público? onde me falha o raciocínio?

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  2. Talvez fosse ineressante um artigo sobre os famigerados cortes nas PPP das estradas. O que andam a fazer é cosmética, não cortar as rendas dos amigos. Retiram sim encargos que passam para a EP. Mas vão-se gastar na mesma os dinheiros, penso eu; senão com a Mota-Engil, Brisa ou outra pelos gastos crescentes da Estradas de Portugal. As rentabilidades obscenas continuam todinhas lá. Corrija-me se estiver errado...
    Abraço

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