segunda-feira, 2 de julho de 2012
Tragédia e farsa
Depois de ler o documento que saiu da última cimeira europeia é difícil perceber a razão para o residual entusiasmo europeísta que ainda se manifesta ao sabor dos mercados e sobretudo para a beatificação de Monti, um dos mais intransigentes entusiastas da integração europeia como ordem neoliberal. Monti pretende apenas mudar algo do ponto de vista do enquadramento financeiro para que tudo fique na mesma, ou seja, para que o processo de neoliberalização, para que o dueto austeridade e “reformas estruturais” indissociável deste euro, não descarrile. Na realidade, definiu-se um princípio de capitalização dos bancos em dificuldades que pode passar ao lado dos orçamentos nacionais, tentando quebrar a ligação entre salvamento dos bancos e dívida que não é soberana porque os Estados não controlam a moeda, mas só depois de estar concluído um opaco processo de criação de um arranjo europeu de regulação bancária, envolvendo um BCE umbilicalmente ligado ao capital financeiro, tarefa que levará tempo na melhor das hipóteses. O caminho para a “união bancária” terá sempre de enfrentar o detalhe da insuficiência financeira de um fundo e de um mecanismo europeus com cada vez mais tarefas, situação que só é suprível com alterações no campo monetário e orçamental que carecem de condições políticas em Frankfurt, Berlim e não só (os orçamentos nacionais, as democracias nacionais e as constituições nacionais são uma maçada...). Entretanto, a dívida pública espanhola poderá aumentar por obra e graça do apoio aos bancos e pelo resto de uma crise que as políticas de austeridade por superar perpetuam. Finalmente, esta cimeira não fez nada para contrariar o veredicto de mais uma queda da social-democracia francesa na famosa armadilha europeia: “se o ‘pacto de crescimento’ é uma farsa, pelo contrário o pacto orçamental é bem real.” A tragédia da real destruição conjunta de emprego e de direitos laborais continuará a ser acompanha pela farsa do progresso europeu.
O “Pacto de crescimento” é a espécie de cenoura que faltava aos coelhos, que o pau é bem real. Não é com este aceno de 120 000 milhões – ainda por cima escalonados no tempo e para todos os países do euro – que alguém vai longe (Isto apesar da onda transbordante de entusiasmo que se vai ouvindo pela comunicação de serviço…).
ResponderEliminarPode continuar a discutir-se sobre a (in)suficiência das provisões para acorrer aos Estados ou a bancos falidos, ou simplesmente a concordar-se que as dívidas soberanas devam ser livres da sobrecarga dos bancos. Mas o que mais chateia nisto tudo é o carácter antidemocrático que a chamada União Europeia vai tomando. O poderoso MEE (direcção e pessoal) gozam de imunidade diplomática, os seus arquivos são invioláveis (secretos), as suas decisões podem ser vetadas só por alguns (Alemanha, França e Itália)!
Será que a maioria dos cidadãos sabe o que é o MEE?
Pergunta: valerá a pena continuar a votar, se não se sabe em quê, em quem ou para quê?
O FEEF já veio e já vai, agora vem o MEE, e depois não se sabe. Enquanto a vida das pessoas vai sendo cada vez mais infernizada!
Até a "europatética" Ana Gomes, no causa nossa, associa explicitamente o "avanti popolo" a "avanti Monti".
ResponderEliminarÉ um caso bizarro o do Causa nossa, de parelha clássica, Bucha e Estica, etc, a viver dos dois registos diferentes do par. Ou, mais ao nosso hábito, do palhaço rico (VM) e do palhaço pobre (AG).