terça-feira, 10 de julho de 2012

Depois de mais uma cimeira histórica

Com taxas de juro das obrigações do tesouro a 10 anos acima dos 6%, nem a Espanha nem a Itália conseguem permanecer na Zona Euro. Isto é o que Mario Monti e Mariano Rajoy deviam ter deixado claro a Angela Merkel na cimeira. Deviam ter dito que os seus governos iniciariam os preparativos para sair do euro se não ocorresse uma mudança de política.

Wolfgang Munchau, Financial Times

Isto é o que Portugal, a Itália, a Irlanda, a Espanha ou a Grécia deviam ter feito há muito, de preferência em convergência, como neste blogue temos defendido, começando por usar a arma da reestruturação dívida. Por si só, esta opção política obriga a colocar em cima da mesa todos os cenários em termos de enquadramento monetário, quer queiramos, quer não. De resto, é claro que mais uma cimeira conseguiu fazer história durante quase uma semana porque, entre outras coisas, insistiu na austeridade e não apresentou soluções viáveis para um fundo e um mecanismo financeiramente limitados, tanto mais que as suas tarefas são supostamente cada vez mais ambiciosas, preferindo fazer vagos anúncios regulatórios para um prazo em que o euro estará morto. Mais de dois anos de austeridade recessiva, uma prescrição forjada no preconceito e na arrogância de classe, cavaram todas as divisões políticas, ajudando as forças de mercado no seu trabalho de desenvolvimento desigual. As forças da especulação, ditas sem pátria, resolvem o actual impasse favorecendo a refragmentação nacional, como se pode ver pela diferença entre as taxas de juro das periferias e as do centro que é soberano porque é visto como tendo o controlo da moeda, assim imitando as baixas taxas de juro dos títulos de dívida pública dos outros verdadeiros soberanos, dos EUA ao Japão, os que têm tesouro e banco central na mesma escala. Este é apenas um dos muitos paradoxos da economia política da zona euro num tempo em que o velho ainda não morreu e o novo ainda não nasceu. Tempo de sintomas mórbidos, como assinalou Gramsci.

2 comentários:

  1. Parece que, de uma forma ou de outra, este euro está em fase terminal mas escondem tal facto da família.
    Já muita gente vai dizendo que poderemos deitar-nos com o euro e acordar com uma outra moeda qualquer.

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  2. Não há sintoma mórbido nenhum para lá da morbidez do pensamento.

    O que a Sra. Merkel fez com certeza ver aos senhores outros é que a vida deles fora do euro seria muito pior do que dentro do euro.

    Espanha e Itália não pagam juros altos porque estão na zona euro. Teriam isso sim carência extraordinárias de capital de saissem da moeda única.

    O centro não controla a moeda (o controlo da moeda é uma mistificação... friedmaniana). O centro controla a reprodução de capital. Isto não é uma boutade nem um chavão. É teoria.

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