terça-feira, 5 de junho de 2012
Evitável
Apesar de reconhecer que a narrativa sobre a rigidez laboral portuguesa é uma fraude, Helena Garrido alinha com a ideia de que o desemprego em Portugal se deve fundamentalmente a uma reestruturação modernizadora da economia que estaria em curso e a deixar muita gente sem as qualificações adequadas pelo caminho. Uma hipótese “estrutural” na linha da ideologia da purga redentora que sempre alimentou a economia da depressão e o inadmissível relaxamento político, na melhor das hipóteses, face ao aumento do desemprego.
Quais os enclaves modernos e exportadores que estão a fazer mais do que recuperar, temporariamente, a capacidade produtiva instalada que ficou por utilizar durante o descalabro de 2009, investindo e contratando à altura de tal transformação? Quais as mudanças no perfil das exportações registadas nos últimos tempos? Nada nos é dito.
O desemprego é fundamentalmente o resultado da brutal quebra da procura interna, que a procura externa nunca compensa, mesmo se não tivesse já em desaceleração. Tudo isto é obra da recessão e de uma austeridade que faz com que os Estados sejam parte do problema, quando só eles podem ter os instrumentos para acabar com a depressão. A capacidade produtiva por utilizar aí está. Segue-se a sua destruição, num movimento que indica que o chamado longo prazo e o seu potencial não passam de um encadeamento de prazos curtos e dos seus efeitos.
De resto, a quebra do investimento nestes anos de austeridade será muito superior aos 20% de quebra no investimento registados nos anos de estagnação do euro, quando a procura interna crescia já a taxas anuais de 0,4%, entre 2002 e 2009, um verdadeiro regabofe. Lamento, mas não há modernização que se faça sem investimento público e privado. Também não há modernização com esta política deliberada de baixos salários e de apropriação privada de bens e serviços públicos que conferem demasiado poder. E, é claro, não há modernização na periferia neste colete-de-forças monetário e financeiro; apenas ruinas evitáveis.
O desemprego é uma peça crucial no tempo de crise, apenas tem que ser temperado com alguma caridade, os movimentos de apoio que emanam de repente da sociedade por vezes surpreendem-me pela sua mobilização, onde estava esta gente quando era necessário exigir os meios para resolver as situações mais prementes?...A rezar uma Avé Maria?...Engels falava em finais de 1800 no Exército de Salvação!...
ResponderEliminar-Sempre ao dispor para sair à rua a exibir a caridade, mas nunca activos no sentido de mudar verdadeiramente o Mundo.
Tenho uma sobrinha com mais de 30 anos, licenciatura e meia, desempregada, com um estágio feito ao serviço de uma empresa, apenas para realizar trabalho de apoio directo a alguém que estava a doutorar-se...Ao fim de algum tempo percebeu que o seu trabalho não tinha outro objectivo, nem sequer estava a trabalhar para a dita empresa, estava apenas a colaborar activamente realizando pesquisa e classificação, na qualificação de um quadro dessa empresa.
No fim do estágio -do doutoramento desse quadro- a rua foi a porta de serventia...E a perspectiva de emprego sumiu-se.
Quantas situações como a dela? Tudo às custas do Estado.
Mas sempre em prol da "iniciativa privada"!...
Foi este raciocínio que levou à situação actual.
Esgotou-se o Estado enquanto se pôde, depois pôs-se a pagar os cidadãos que nada beneficiaram com esse declarado oportunismo...Os beneficiários reclamam agora mais parcimónia nos Impostos, pois claro, a mama acabou, mas pagar pelas mamadelas antigas nem pensar!
Já se preparam para mamar de novo e estão a congeminar novos esquemas tudo em nome do desempregado...
Já ouvi falar em apoios às empresas com a redução nas contribuições sociais e o pagamento quase integral (75%) dos salários dos estagiários, exactamente como no passado...Pior agora, a comparticipação do Estado antes era de 50% nos vencimentos dos estagiários!...Com vêm os que sofrem são sempre os mesmos, no meio da borrasca há sempre alguém que se safa e lucra com toda esta bagunça.
Tudo isso decorre da subserviência do aparelho de Estado para com as Empresas, este não se importa de subsidiar as Empresas e de perder dinheiro com elas sabendo que estas não criam emprego real apenas se aproveitam destes benefícios, no fundo injecta dinheiro a fundo perdido na Economia de forma indirecta, mas recusa-se a subsidiar os particulares e chama malandros a quem verdadeiramente está desamparado e necessita do seu apoio, muitos por inacção e malfeitorias dessas mesmas Empresas.
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