O que tem de ser proibido é deixar que políticos mandem no crédito. Para lição, bastou-nos Armando Vara.
Pedro Santos Guerreiro
Mais um editorial em que PSG acaba a usar Vara, um personagem irrelevante na história política do sistema financeiro português, como metáfora do Estado que aí operaria; é só para distrair, como se a cortina de fumo criada pela banca não fosse já densa, só para evitar confrontar-se com o fracasso da sua ideologia. Por cada Vara, eu tenho um Oliveira e Costa, um Dias Loureiro ou um Jardim Gonçalves para a troca.
Tenho também muitos mil milhões de euros de prejuízos socializados, de fundos de pensões transferidos, de cada vez mais famílias e empresas em incumprimento, devido à austeridade de uma troika que a banca desejou como ninguém para poder a continuar a tentar ir ao pote, de regimes fiscais de favor, de garantias públicas ou de instrumentos financeiros desenhados para fazer com que o Estado meta capital na banca sem controlar quem comanda um bem público essencial numa economia monetária de produção: o crédito. Quando mandou, antes das privatizações e da liberalização financeira, isto correu melhor, claro, em Portugal e por esse mundo de economias mistas fora. Trata-se agora de recuperar, num novo contexto, o espírito do Decreto Lei N.º 132-A/75 ou dos bancos nacionais de desenvolvimento que se afirmam por esse mundo fora.
É que estamos perante um sector económico intrinsecamente político, um sector que tem sido hegemónico na economia política nacional desde a configuração liberal erigida pelo cavaquismo e pela integração europeia e que foi responsável pelas suas principais disfunções; um sector que fracassou clamorosamente na canalização de crédito para a economia produtiva, que em vez disso a parasita, cobrando taxas de juro sem paralelo na Zona Euro, alterando condições a toda a hora, beneficiando de todas as garantias legais, o que só aprofunda o poder que detém na sua relação com devedores expropriados, ou cobrando comissões sem fim; um sector que continuará a comandar uma economia política cada vez mais injusta e ineficiente se depender deste governo capturado, apesar do esforço inglório de PSG para inventar um retrato diferente das atitudes de um governo e de um Banco que não é de Portugal.
Em suma, e sem esperar qualquer resposta a anteriores perguntas, acrescento outra: qual a responsabilidade da complacência liberal de tantos editorialistas e outros fazedores de opinião na emergência e reforço da versão portuguesa da bancarrotocracia?
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