sexta-feira, 11 de maio de 2012

JP Morgan

A notícia de hoje nos mercados financeiros é a perda de 2 000 milhões pelo JP Morgan no primeiro trimestre do ano. Uma divisão deste banco, sedeada em Londres, fez aparentemente apostas erradas em produtos financeiros derivados, utilizando fundos próprios do banco. Esta é portanto história de um banco a perder milhões num ambiente regulatório que nada se alterou depois da crise financeira. Podia ser só isso. No entanto, pelo pouco que se sabe, a notícia torna-se mais interessante porque estamos perante o talvez mais influente banco de investimento das últimas décadas.

O JP Morgan perdeu os tais 2 000 milhões de dólares em “hedging”, ou seja, num processo de cobertura de risco. Irónico. Como é que a “cobertura” de risco se pode converter num desastre destes? A resposta está nos modelos VaR (Value at Risk) usados pela banca desde os anos oitenta. Estes modelos correlacionam os preços dos activos de um banco e dão um valor do risco global da posição do banco. Ou seja, para cobrir o risco de um determinado activo, não tenho necessariamente de comprar “seguros” relativos a esse mesmo activo, mas simplesmente investir em activos inversamente correlacionados. Se a correlação estatística deixa de se verificar, as coisas podem correr mal. Agora, adivinhem qual foi o Banco internacional pioneiro no uso dos modelos VaR? Sim, o JP Morgan. Por outro lado, o activo escolhido pelo JP Morgan para “cobrir” as suas posições recaiu num index de CDS (os famosos seguros de crédito). Adivinhem onde foi criado o primeiro CDS? Sim, no JP Morgan.


O livro de Gillian Tet, uma antropóloga convertida em jornalista do Financial Times, sobre a crise financeira internacional é obrigatório para quem quiser perceber as origens dos complicados produtos financeiros que geram estes desastres. Através do exemplo do JP Morgan, a jornalista faz a história da inovação financeira nas últimas duas décadas e do seu terrível falhanço. Infelizmente, penso que não está traduzido em português.

2 comentários:

  1. Não está nem vai estar.

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  2. João Carlos Graça11 de maio de 2012 às 15:17

    Excelente post, Nuno!
    O "financeirês" vertifica em grau superlativo uma verdade que, de resto, se aplica em geral a todo o "economistês": se não tens grande coisa para dizer, embrulha-a num palavreado misterioso como forma de assarapantar os transeuntes.
    "Os que navegam em águas superficiais têm geralmente a tendência de as turvar, como forma de darem uma falsa impressão de profundidade" (F. Nietzsche, Also sprach...)

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