Martin Wolf, um dos mais sofisticados defensores da globalização liberal, resume hoje no Financial Times, em duas curtas frases, a natureza de um dos Cavalos de Tróia da dita globalização – o processo de integração europeia na sua actual configuração: “Isto não é uma união monetária. Isto assemelha-se muito mais a um império”. É o euro-imperialismo.
Combatê-lo, como temos insistido, exige necessariamente contra-movimentos com pontos de partida nacionais, já que é aí que está a democracia e é que estão as instituições que importa defender. Tal como nos indicam o programa da frente de esquerda de Mélenchon e as condições do Syriza para formar governo na Grécia, a linha da desobediência às imposições austeritárias das instituições europeias é a mais profícua.
Sendo nacional o ponto de partida do contra-movimento que cresce, qual será o seu ponto de chegada? O objectivo destas forças é tornar democrático e menos assimétrico o actual arranjo federal, sim já estamos na prática numa espécie de federação, a partir do momento em que a soberania é dividida entre duas unidades – nacional e europeia –, corrigindo dessa forma os seus viesses estruturais neoliberais no campo monetário, mas não só.
Creio, no entanto, que todas as intervenções progressistas conscientes no andar inconsciente desta história, apesar das suas impecáveis credenciais europeístas, só tornarão mais saliente outro desenvolvimento interno – o do fim do euro –, quer porque as mudanças desejadas e que tornariam o arranjo sustentável não são pura e simplesmente alcançáveis nessa escala, quer porque sendo-o não o são no tempo requerido. Seja como for, é claro que o caminho argentino só será conscientemente encetado depois de tudo o resto ter sido tentado. Resta saber se as elites dominantes não se apercebem disso antes. Nas periferias parece que não, mas as aparências podem iludir.
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