segunda-feira, 16 de abril de 2012

Pressões

Espanha está de novo pressionada pelos mercados e teme-se que entre numa espiral recessiva, contagiando Portugal. Com a austeridade entrará certamente. O somatório de austeridades nacionais é um círculo vicioso sem fim. O quadro acima mostra que a Espanha tinha um excedente orçamental de 1.9% do PIB, em 2007, e uma dívida de 27% do PIB. Um exemplo de de disciplina orçamental para a Alemanha, não? Enfim, a pergunta já só é uma: será que François Hollande dirá que a França não é a Espanha? Espero que não. Entretanto, repito o que escrevi no ano passado sobre a Espanha:

Se há país que ilustra na perfeição a natureza cíclica da posição das finanças públicas numa economia capitalista é a Espanha. Os excedentes orçamentais e a dívida pública baixa, que chegou a uns 30% do PIB, foram a tradução da economia do tijolo alimentada pelo endividamento privado e pelos fluxos de capitais europeus. Os défices, a partir de 2008, e a duplicação da dívida pública, foram a inevitável tradução do rebentamento da bolha imobiliária, da fragilidade financeira e do esforço dos privados para reequilibrarem os seus balanços, gerando quebras das receitas fiscais. Uma crise que foi responsável por um desemprego que mais do que duplicou, ultrapassando os 20%. Uma crise que, estruturalmente, revela bem os resultados da financeirização das economias. Assistimos à passagem da dívida privada para a dívida pública e à confirmação da sua imbricação mesmo num país que perdeu a sua soberania monetária e cujos dirigentes teriam, também por isso, de desafiar o arranjo europeu, em vez de se limitarem a obedecer e a encenar um patético “não somos Portugal”. A Espanha e a Itália juntas ultrapassam a Alemanha em termos económicos. Os PIIGS unidos poderiam forçar uma solução para crise com escala europeia. Mas não se passa nada.

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