domingo, 29 de abril de 2012

A política com p pequenito

Temos insistido que a tese do regabofe salarial português é uma fraude intelectual e política, que só tem paralelo na ideia de que o desemprego se deve à “rigidez laboral” e que diz tudo sobre os hábitos medíocres das elites, sobre a ignorância de quem se pronuncia sobre o país, dentro e fora, com as palas da teoria económica convencional. Esta semana tivemos duas notícias que o confirmaram – Portugal é dos países da Europa com mais baixos custos salariais e 40% dos jovens ganha menos de 600 euros. Cavaco veio então dizer na sexta-feira que as empresas portuguesas não conseguirão afirmar-se no exterior à custa de salários baixos. A desfaçatez intelectual e o oportunismo político deste fulano não têm limites. Quem substituiu o amigo Dias Loureiro por Vítor Bento, o ideólogo nacional da política de abaixamento dos salários, no Conselho de Estado? Quem fez de tudo para ter a troika no nosso país? Quem acaba sempre por apoiar o governo mais radical que alguma vez tivemos, procurando manter a base de apoio ao seu programa de redistribuição da riqueza e do rendimento de baixo para cima ? Quem acaba sempre por apoiar a austeridade e a destruição de emprego associada a tal programa? Quem andou a defender a “reforma do factor trabalho” concretizada num acordo de concertação social sem a mais relevante central sindical e que representa a institucionalização de uma economia sem pressão salarial, de que a UGT já se está a tentar afastar? Cavaco, sempre Cavaco, sempre a política sem memória, a política com p pequenito ao serviço dos que só assim são grandes.

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