segunda-feira, 9 de abril de 2012
Dinâmica adversa...
Quando o FMI é o parceiro mais pragmático da troika, está tudo dito quanto à natureza das instituições europeias. Como Ana Rita Faria nos informou no Público da passada sexta-feira, o FMI introduziu na sua última avaliação sobre Portugal uma expressão (p. 16) – “dinâmica adversa dívida-deflação” – que é todo um reconhecimento do círculo vicioso em que estas políticas de austeridade nos trancam, tal como temos aqui insistido. É claro que o FMI, na boa senda da chamada miopia face ao desastre, ainda coloca a coisa no campo dos riscos ao cumprimento do programa, mas reparem no que, sempre segundo o FMI, poderá encetar tal dinâmica (p. 15): (1) a continuação da austeridade nos próximos anos, em conjugação com um ambiente externo desfavorável (a austeridade dos outros...) levará a uma recessão mais pronunciada; (2) a austeridade tem “riscos de implementação”, ou seja, o corpo social pode começar a recusar activamente a purga; (3) a minha preferida: “as dívidas do sector privado poderão começar a migrar para o sector público, incluindo devido ao aumento da participação do Estado nos bancos”; (4) a desvalorização interna é um “processo lento”, ou seja, não funciona, como o FMI bem sabe, e as reformas estruturais só dão frutos “depois do programa” ou seja, nunca. O programa estará em vigor para lá do seu prazo de validade inicial, o que significa que a combinação acima mencionada estará assegurada. É por estas e por outras que não devem deixar de ler o artigo, que saiu no Público de ontem, de Costas Lapavitsas e Nuno Teles – “Para Portugal, o tempo está a esgotar-se”.
O tempo está a esgotar-se e a serenidade dos portugueses também. Está-se a brincar demasiado com o fogo. O lume brando não se vê mas existe.
ResponderEliminarAlmerinda Teixeira