quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O que (re)lança o desemprego?

Álvaro Santos Pereira está cada vez mais ousado nas metáforas: o “tsunami do desemprego foi lançado antes de virmos para o governo”. O desemprego sem precedentes foi lançado pela grande recessão, tendo sido decisivamente relançado por estas políticas de austeridade, cujos efeitos se fizeram sentir numa economia já há muito estagnada, graças a um euro disfuncional. Já agora, lembram-se das fantasias gordurosas de Santos Pereira sobre a austeridade antes das eleições? Eu também: “o ajustamento tem de ser feito à custa do emagrecimento do Estado e não à custa dos contribuintes e dos funcionários públicos.” Pouco importa. Lembremos sobretudo que a taxa de desemprego mais do que triplicou desde o início do milénio e que com esta política económica pré-keynesiana a taxa de desemprego não pára de aumentar, muito ajudada por acordos laborais de oportunidade, feitos para facilitar os despedimentos. Neste contexto, Santos Pereira repete a mesma inane conversa europeia de sempre, mas num contexto de regressão de direitos e de capacidades muito mais grave: “reestruturação da economia”, “formação” e cada vez mais vagas “políticas activas de emprego” para “accionar” com muita determinação, claro. Esta conversa, com tradução em diversas alterações liberais no código de trabalho, fracassadas Agendas de Lisboa e suas decadentes sequelas nos últimos anos, não contribuiu, bem pelo contrário, para a criação de emprego e hoje serve apenas para fazer passar a intensa política recessiva e regressiva de desvalorização do salário, directo e indirecto, a variável de um ajustamento medíocre nesta configuração do euro. Isto quando sabemos que é sobretudo a procura que determina o emprego e logo que é a sua compressão com escala europeia, mas com especial incidência nas periferias, que gera desemprego.

1 comentário:

  1. “políticas activas de emprego”: haverá maior vacuidade discursiva do que isto?

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