De resto, o início da entrevista de Krugman ao Negócios de ontem exprime bem as contradições de um economista norte-americano de “água salgada” na periferia à beira mar plantada, mas também as contradições de um momento nacional que é europeu – na prática, não é keynesiano quem quer, mas quem pode e quem pode é quem controla a moeda: “A minha previsão optimista é que, após quatro ou cinco anos de sofrimento, Portugal voltará ao rumo certo [fica bem para iniciar a entrevista]. Isto se tudo correr bem [reviravolta nas políticas europeias]. Caso contrário, acontecerá algo de muito terrível [todos sabemos o que acontecerá e já não parecerá tão terrível]. É uma situação terrível [o desemprego não pára de aumentar e a tal reviravolta não vai ocorrer]. Não há resposta simples, dada a conjuntura em que Portugal se encontra [é sobretudo a estrutura, já agora, até porque Krugman diz que o euro é o problema]. Não posso aconselhar a esquecerem a austeridade [vai tudo correr mal, embora Gaspar diga que não, ao mesmo tempo que apresenta previsões revistas...], mas por outro lado, não será decerto uma via rápida de regresso a uma economia decente [eufemismo para fechar: será a via rápida para uma economia indecente]”.
Nota: paradoxalmente, ou talvez não, é Minsky que dizia que “o acontecimento mais significativo desde a 2ª Guerra Mundial é algo que não aconteceu: uma depressão longa e profunda”. Uma parte da sua obra é uma tentative para encontrar explicações plausíveis para que a sua hipótese da instabilidade financeira tenha sido tão contida em certa fase do capitalismo. Para Minsky isto deveu-se fundamentalmente à existência de uma estrutura institucional, onde pontificaram, desde a década de cinquenta, o que o autor designa por “Big Bank” e “Big Government”. O resto é história…
Caro João
ResponderEliminarSinceramente, gosto bastante mais do Michael Hudson do que do PK. Veja aqui, sff: http://www.counterpunch.org/2012/02/27/our-very-own-oscar-night-in-rimini/
Deataco:
"Paul Krugman’s Monday, February 27 New York Times column, “What Ails Europe?” blamed the euro’s problems simply on the inability of countries to devalue their currencies. He rightly criticized the Republican party line that blames European welfare spending for the Eurozone’s problems, and also putting the blame on budget deficits.
But he left out of his account is the straitjacket of the European Central Bank (ECB) unable to monetize the deficits, as a result of junk economics written into the EU constitution (...)
Depreciation would lower the price of labor while raising the price of imports. The burden of debts denominated in foreign currencies would increase in keeping with the devaluation, thereby creating problems unless the government passed a law re-denominating all debts in domestic currency. This would satisfy the Prime Directive of international financing: always denominated debts in your own currency, as the United States does.
In 1933, Franklin Roosevelt nullified the Gold Clause in U.S. loan contracts, enabling banks and other creditors to be paid in the equivalent gold value. But in his usual neoclassical fashion, Krugman ignores the debt issue"
Pois é, neste momento sair do Euro é condição necessária e condição prévia a um debate decente, mas de todo não condição suficiente...
Ah, mas sim, "estrutura institucional", tem razão, e "Big Government", claro, e também "Big Bank", que é diverso de (e na verdade oposto a) "financeirização".
Mas isso eram, claro, outros tempos. Havia uma coisa chamada "guerra fria", lembram-se?...