Já aqui referi que o maior credor do Estado grego é o BCE. Também já referi que a instituição europeia exclui-se da negociação em curso entre a Grécia e os seus credores privados. À primeira vista, parece fazer sentido. O BCE, embora não pareça, é uma instituição pública e como tal não deveria ser tratada como a banca privada, mas sim como instituições internacionais, como o FMI, que têm direitos preferenciais sobre a dívida soberana. Todavia, a realidade é mais complicada. Ao contrário do FMI - financiador directo do Estado Grego - o BCE adquiriu os seus títulos de dívida no mercado secundário. Esses títulos foram assim originalmente emitidos a privados e, como tal, deveriam estar dentro do anunciado "corte de cabelo" de 50%. Não vai ser o caso. Sendo crucial para Grécia ver o seu principal credor a "perdoar" parte da dívida (comprada, aliás, a preço de saldo), o BCE faz valer a sua posição de poder (lucrando imenso com o teórico reembolso total da dívida). Isto não parece obsceno, isto É obsceno.
Para quem tenha interesse, este post do Financial Times explica os detalhes.
Nuno Teles, como é fluente nos conceitos que explicam estes assuntos como é que poderemos ultrapassar a barreira da comunicação que impede que as pessoas reconheçam o obsceno como obsceno.
ResponderEliminarÉ que a maioria destes mecanismos são bastante esotéricos mesmo para alguém que perca algum tempo a tentar compreendê-los de forma muito elementar.
A baixa compreensão destes fenómenos, que se dá ao mais alto nível político, é presa fácil da postura neo-calvinista do "nós gastamos muito, temos de sofrer"...
Como ultrapassar isto?
Ultrapassas quando a coisa começar a doer para o núcleo FR-DE...
ResponderEliminar... porque o povo francês e alemäo näo é mans... bom! Têm a mania de fazer revoluçöes!
Falai do mal, já começou! Declararam guerra à França! E agora, será 1789 ou 1848?