A sabedoria convencional nacional parece trabalhar com um modelo com duas economias estanques. Numa vigoraria a austeridade, com efeitos recessivos óbvios, traduzindo-se num continuado aumento do desemprego e em perdas de rendimentos e de capacidade produtiva. Na outra vigoraria o crescimento assente nas tais reformas estruturais neoliberais ou, para usar as palavras de que Relvas é capaz, na “concorrência e competitividade, articulação entre o Estado e a economia, valorização do capital humano e confiança”.
Na realidade, trata-se de uma única economia e de uma única política, sem separações, com uma só lógica. A economia de austeridade é a economia da alteração das regras do jogo. O objectivo é mudar estruturalmente a correlação das forças sociais por forma a facilitar a transferência de activos e de rendimentos de baixo para cima e de custos sociais de cima para baixo. A recessão e o desemprego de massas facilitam esta tarefa.
Concorrência? Uma ficção em sectores onde quem reina e reinará sempre é o poder das grandes empresas ou quanto muito uma realidade cujo efeito é favorecer a pressão sobre o trabalho e a redução dos investimentos de longo prazo em infra-estruturas e serviços de rede, desarticulando-os e promovendo a sua degradação. Competitividade? É o outro nome da desvalorização social e salarial permanente. Uma nova articulação? Este governo é bem a expressão da captura do Estado pela aliança possível entre a bancarrotocracia financeira e os poderes empresariais transnacionais. Valorização do capital humano? Quem aposta na formação numa economia de precariedade e de insegurança permanente? Confiança? Sabemos bem que o aumento das desigualdades que assim se gera corrói a confiança e aumenta a instabilidade social, como nos indica, uma vez mais, o último relatório da Organização Internacional do Trabalho. Estamos perante uma só economia. Indecente.
Valorização do capital humano, é na boca de Relvas eufemismo para "sair da zona de conforto" cuja por sua vez é eufemismo para "emigrem, porque se cá ficam é para chatear"
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