sábado, 3 de dezembro de 2011

Quem defende o interesse nacional?

O fundo da crise está resumido na frase de um analista financeiro: “A esperança inspiradora do apoio inicial da Alemanha à experiência do euro, a de que os restantes estados-membros convergiriam para os seus padrões de eficiência e competitividade, sempre foi pouco convincente mas agora é considerada completamente irrealista.” Qualquer que seja a próxima manobra da UE para enfrentar o fim do euro, subsiste a questão crucial: como é que os países que sistematicamente acumularam défices na sua relação com o exterior, e por isso têm hoje uma elevada dívida privada, vão retomar o crescimento sem gerar novos desequilíbrios?

(Da minha crónica no jornal i)

6 comentários:

  1. Aquilo que parece claro é que o empobrecimento dos Países periféricos do Euro beneficia ainda mais os mais poderosos -Alemanha/ França- e daí esta "aparente dificuldade" destes dois colossos em tomar medidas sérias para salvar os demais...

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  2. Da leitura deste seu texto ficou-me uma dúvida.

    Ser de esquerda é lutar para aumentar os rendimentos de um dado povo à conta do empobrecimento de outros povos?

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  3. O que continua a parecer-me surpreendente nos seus comentários é a inspiração/citação que busca em autores norte-americanos e ingleses.

    O que está em causa não é o euro mas a União Europeia, a Europa, no meio de um mundo glabalizado, e que só deixará de o ser se emergir um conflito bélico generalizado em consequência de um recuo para fronteiras aduaneiras em toda a parte.

    Na origem da crise, das múltiplas crises actuais, está o sistema financeiro mundial, estão os bancos, que, protegidos pelo moral hazard, pela rede que os contribuintes são obrigados a estender-lhes, cometeram toda a espécie de irresponsabilidades movidos pela sua incontida ganância.

    Da relação perversa da irresponsabilidade dos bancos com a irresponsabilidade dos governos resultou o desastre.

    Enquanto a possibilidade dessa relação perversa subsistir, com ou sem euro, os efeitos malignos ocorrerão.

    Por outro lado, continuo sem perceber a razão pela qual economistas que se pretendem de esquerda, isto é, do lado dos mais desprotegidos, suponho, encaram a saída do euro senão como uma fatalidade como um benefício.

    Benefício para quem? Quem serão os maiores perdedores e os maiores ganhadores se voltarmos para o escudo? Os ricos ou os mais pobres?

    Alguém tem dúvidas?

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  4. Défice, mas qual é o problema? Alguma vez será possível uma economia nacional ou globalizada ter superávite em todas as suas transações?

    A coisa só funciona assim; hoje deficito eu, amanhã deficitas tu.

    Ou então mudem de modelo económico.

    O Brasil tem superávite, está por isso no G20, pois bem, há meia dúzioa de anos a campanha de Lula da Silva para presidente foi; uma refeição quente por dia para cada brasileiro.

    Então o que aconteceu, milagre do sr do Bonfim!

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  5. Bom post, Jorge!
    Vamos por partes. Primeiro, sim, tens razão, o "centro-esquerda" não diz nada, ou diz porcaria, fundamentalmente porque é ele próprio parte do problema.
    Depois, o PC mete os pés pelas mãos e tergiversa a maior parte do tempo, e isso é desalentador, sim. Há riscos associados à saída, mas ela tem de ser assumida. Se vamos saltar, temos de pôr o pára-quedas, claro, mas em todo o caso não se pode fazer de avestruz mais tempo. Creio quanto a isso que o KKE tem ideias algo mais claras, que talvez fizesse bem ao PC considerar.
    Quanto ao BE, a coisa é ainda mais dolorosa, sim. O que é curioso é que, por exemplo, o recente relatório de Lapavitsas, Teles, Pires et al põe quanto a isso os pontos no is. Mesmo assumindo-se a assunção da conversa dos "Estados Unidos da Europa", a grande conclusão tirada (relembrada) é que eles deverão ser os EU SOCIALISTAS da Europa, ou não serão EU da Europa de todo!
    Penso que essa constitui uma boa base para um debate. Se não existem condições - e é pateticamente, grotescamente claro que não existem condições - para tratar de tal coisa como o "socialismo" através de acção política concertada à escala europeia, tornam-se por isso mesmo legítimos os objectivos de aproximação ao tal de socialismo (mas ao menos, c'os diabos, uma social-democraciazita, vá lá, um keynesianismozito em política económica, vá lá...) em um apenas, ou alguns dos países da Des/União Europeia. Negar essa conclusão equivale a trabalhar de facto denodadamente para o objectivo (confesso ou não) de "socialismo em NENHUM país", ou mais exactamente barbárie neoliberal em todos…
    Ah, e a retórica “globalizadora”, seja a da suposta inevitabilidade e bondade da tal de "globalização", seja a versão "alter-globalizadora", é no fundamental uma treta. A dita globalização não existe como nos é pintada, é ignorância pura ou má-fé insistir nessa conversa. É possível e é desejável o facto de os países terem políticas económicas próprias, o que contribui para a melhoria da posição do trabalho à escala global, enquanto a desistência das mesmas leva obviamente a uma descida geral da fiscalidade e dos salários que constitui o “pigs's paradise” do capital internacional/ista, mas só mesmo dele.
    E tal facto contribui para a paz entre os povos? Claro que não, é olhar para o actual clima de enorme Des/União europeia e compreende-se isso facilmente. E já nem quero falar de coisas a uma escala maior do que a Europa, como é óbvio (é ver a crescente agressividade e o “faustian bid” da NATO à escala global, acima de tudo).
    É curioso como as palas doutrinárias, acompanhadas de doses convenientes de “brain-washing” televisivo e jornalístico, conseguem mesmo pôr toda a gente um bocado idiota…

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  6. Nem o PS, nem o PCP, nem o BE... nem o Jorge Bateira têm "uma estratégia de esquerda" para sairmos da crise. Uma "estratégia de desenvolvimento guiada pelo interesse nacional" acrescenta o quê ao vazio?

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