No post anterior, procurei demonstrar como uma análise dos rankings que não esteja centrada nas escolas, mas sim nos contextos em que as mesmas se inserem, permite perceber a importância que estes assumem para explicar os resultados obtidos. Isto é, a tendência para que se atinjam melhores níveis de sucesso educativo em territórios com indicadores de desenvolvimento económico, social e cultural mais elevados.
O que se passa a nível concelhio verifica-se igualmente quando agregamos e ponderamos os dados à escala das NUTS III (clicar no mapa para ampliar). Mais uma vez, é a faixa do litoral Norte e Centro (da Grande Lisboa ao Minho Lima) que se destaca, estabelecendo um padrão espacial contínuo com os melhores resultados dos exames nacionais. Em contraste, portanto, com os valores registados na quase totalidade das NUTS do interior Norte e Centro e nas NUTS a Sul do Tejo (em média, o Norte e Centro litoral obtêm um resultado nos exames nacionais de 53,6%, registado as restantes NUTS III do país um valor médio de 49,7%).
A circunstância de os contextos sócio-espaciais determinarem em larga medida os resultados escolares permite-nos ainda assinalar uma razão incontornável (para além da selecção de alunos que a generalidade das escolas privadas pratica), para explicar as diferenças entre as classificações médias obtidas pelos estabelecimentos da rede pública (51,2%) e do ensino privado (59,4%).
De facto, se mapearmos a distribuição das escolas privadas e das escolas públicas pelas NUTS III do continente (clicar no mapa para ampliar), verificamos que o ensino privado se concentra justamente na faixa litoral Norte e Centro (onde se situam 80% dos colégios e escolas privadas). Ou seja, num conjunto de NUTS que oferece à partida, do ponto de vista dos contextos sócio-económicos de proveniência dos alunos, condições mais favoráveis para a obtenção de elevados níveis de sucesso escolar. Aliás, é na Grande Lisboa e no Grande Porto que se localiza quase metade (45%) do universo de escolas privadas. A rede de ensino público, por sua vez, apresenta uma distribuição territorial mais equilibrada, com apenas cerca de 56% dos seus estabelecimentos a localizar-se na faixa Norte e Centro litoral e somente 26% a situar-se na Grande Lisboa e no Grande Porto.
Além de desmontar o mito de uma suposta supremacia «genética» do ensino privado, esta análise permite assinalar um outro aspecto crucial, relativo à importância do princípio de cobertura territorial inerente aos serviços públicos e que desaconselha experimentalismos como o cheque-ensino. O direito à educação, que o Estado consagra e assegura através de uma rede territorial de estabelecimentos de ensino, não pode nem deve tornar-se dependente da existência de escolas cujo princípio de localização decorre demonstradamente mais do conforto que as «facilidades de contexto» para obter bons resultados propiciam do que da garantia de acesso à escola a todas as crianças e jovens do país.
Não me tire o direito de escolher a escola para a minha neta!Sabe também como eu que basta usar "factores de correcção" para que a comparação se faça com significado.Não queira esconder o mérito!
ResponderEliminarLuis Moreira,
ResponderEliminarConfesso que fiquei sem saber se o seu comentário é irónico. Se for, não precisa de ler mais.
Se não for, explique-me por favor que «factores de correcção» são esses de que fala e que eu desconheço.
Quanto ao direito para escolher a escola da sua neta, lembro-lhe que o ensino privado não está interdito no nosso país. As escolas particulares estão aí e pode escolher a que mais lhe agradar.
Outra conversa é querer que o Estado lhe pague as mensalidades, retirando verbas ao sistema público (como sucede no OE de 2012), quando a sua neta tem certamente acesso a uma escola pública perto da sua residência.
O direito à educação é o direito de todos a aprender. O que é bem diferente do direito a «receber um cheque».
Sempre houve escolas públicas e colégios/escolas privados, mas sem este frenesim a que hoje se assiste.
ResponderEliminarÀ obsessão da “Melhor Escola da Minha Terra” veio juntar-se a ideia deste ministro da Educação, que já veio dizer que “os pais poderão escolher a escola que querem para os seus filhos”. Com essa mania ou preconceito de que o Estado não tem nada que se imiscuir na “sociedade civil” (outro mito) – venham mas é de lá os subsídios…
E agora, se todos os pais quiserem pôr os seus filhos na mesma escola, naquela que acharão a XPTO, como fará o ministro? Haverá uma selecção pela cunha?
Na onda da troika e no meio da balbúrdia, este governo não quer desperdiçar esta oportunidade de destruir os serviços públicos e de acentuar a já fraca coesão social (ilustrada pelo mapa).
«Factores de correcção»
ResponderEliminarAparentemente, o PISA usou-os
Eis as conclusões:
«O relatório da OCDE fá-lo (Volume IV), relativamente aos testes de leitura, mas agrupando todas as escolas privadas. Assim, no caso português, as escolas privadas têm mais 28 pontos de média. A diferença baixa para 16 pontos quando se controla o estatuto social, cultural e económico do aluno. No entanto, quando se acrescenta também o efeito do estatuto social, cultural e económico da escola, a diferença reduz-se a 4 pontos e deixa de ser estatisticamente significativa.»
Retirado daqui
Agradeço à/ao anónima/o a ref.ª ao meu post de há um ano.
ResponderEliminarSobre este assunto, tenho duas convicções:
1. A forma jurídica (pública vs privada) não tem efeito significativo nos resultados.
2. A escola pública não tem conseguido reverter as desvantagens dos "contextos sócio-espaciais".
Constato ainda que, agora como há 150 anos, o Estado poruguês não tem dinheiro para formar os portugueses. Não é avisado, nessas circunstâncias, rejeitar o envolvimento dos privados.
Finalmente, para o assunto em debate, parece-me útil trazer aqui um outro post que publiquei em Fevereiro passado.
MAS QUER FAZER DAS PESSOAS BURRAS???
ResponderEliminarO que os rankings mostram é que EFECTIVAMENTE as escolas privadas atingem melhores notas do que as públicas! Ponto final! Uma escola privada numa zona rica de lisboa obtem melhores notas do que uma publica também ela numa zona rica de lisboa!
Dado que o faz de uma forma ainda mais eficiente (o custo por aluno do sistema educativo público portugues daria para pagar escolas privadas a toda a gente) Mostram-se como uma clara alternativa a aumentar a eficácia do ensino em Portugal baixando, inclusivamente, o preço do mesmo. O estado deve garantir que todos tenham educação, para tal não precisa em nada de ser o prestador do serviço. A não ser em zonas que por motivos geográficos não atraiam investimento privado.
“As escolas particulares estão aí e pode escolher a que mais lhe agradar.
ResponderEliminarOutra conversa é querer que o Estado lhe pague as mensalidades”. Ponto final.
Agora não estou a ver como é que “os pais podem escolher a escola dos filhos no ensino público”, sem mais, como pretende o ministro. Exercício de estilo?
Já a possibilidade de escolha no ensino privado – com este a beneficiar do chequezinho do Estado – serviria somente para descriminar as entradas. Com o meu dinheiro, NÃO!
Ui, o argumento «Com o meu dinheiro, NÃO!» levar-nos-ia muito longe...
ResponderEliminar