As declarações de Otelo sobre golpes militares são uma farsa lamentável. Os golpes financeiros em curso em muitos países europeus, transformados em regiões na sua relação com a finança, e a correspondente subversão das ordens democráticas nacionais são a verdadeira tragédia. O apelo do intelectual do Pingo Doce, António Barreto, a um governo de unidade nacional para desmantelar em definitivo o Estado social, um dos pilares da democracia, perante o agudizar da crise insere-se nesta corrente: a crise é uma oportunidade que não se pode desperdiçar. Da segurança social ao salário mínimo, tudo pode ser posto em causa se se enquadrar bem a coisa. Entretanto, é claro para muitos que a democracia, já muito erodida, é incompatível com o chamado neoliberalismo disciplinar, com escala europeia e global, reforçado pela austeridade e esta incompatibilidade está a fazer-nos entrar, na ausência de contramovimentos, numa era pós-democrática que, no entanto, continua também a requerer investimentos intelectuais.
Papademos e Monti, dois membros da classe capitalista transnacional europeia, são então as últimas figuras políticas produzidas pelo golpe financeiro em curso. Chamam-lhes governos de “tecnocratas”. Esta expressão aparece associada a competência e eficácia, à ciência dos meios, mas quem fixa os fins não são os cidadãos. Aliás, fins e meios estão sempre de tal forma entrelaçados que não se sabe onde acabam uns e começam outros. Seja como for, são estes crentes no neoliberalismo, onde Gaspar e tantos outros se incluem, que, ironia da história, fragilizarão irreversivelmente a Zona Euro, a sua utópica construção, agora que é claro que a incompetente engenharia financeira que montaram e a sua escolha de política económica, feita em 2010, mas há muito inscrita na lógica das instituições europeias, só agravam a crise que conta e que não estava prevista nos seus manuais. Entretanto, esperam aproveitar para conseguir destruir tudo o que civilizou minimamente a economia nas últimas décadas. Uma utopia perigosa com poder gera sempre tempos perigosos.
Caro João
ResponderEliminarSe a zona Euro é a "utópica construção" de "crentes no liberalismo" (eu diria "distópica", mas Ok, não vamos discutir isso), e se toda a catástrofe iminente, ou já em curso, está realmente "há muito inscrita na lógica das instituições europeias" (e também acho que está, sim), só pergunto: de que diabos estaremos ainda à espera?
Ah, sim, e o "espaço europeu" tenderá obviamente a estar cada vez mais "tecnocrático" e nas tintas para a democracia, isto é, a revelar a sua verdadeira face. O espírito mesmo da coisa, da UEM, é precisamente esse: construir uma zona "public choice", a qual seja "electoral-cycle-free", isto é "democracy-free", mantendo-se todavia as instituições democráticas como pro forma...
Ah, e entretanto, sim, é claro que os "intelectuais do Pingo Doce" não descansam nem descansarão...
Em suma: querem mesmo manter-se na Eurolândia a todo o custo? De certeza? Então aproveitem e, quando forem à farmácia, não se esqueçam de comprar também um tudo de vaselina...
(Há um tempo para tudo na vida, como se diz; por isso creio que também deve haver para esta metáfora...)
Não compreendi bem o post. Por um lado diagnistica bem os golpes de estado em curso em toda a Zona Euro perpetrados pela Finança Internacional. Por outro, acha risível que os cidadãos (nos quais incluo os militares) reajam a isso violentamente???
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No Jornal Expresso de 1/9/2007, o jornalista Fernando Madrinha explicou sucintamente de que forma a Banca, a mais poderosa, interligada e influente quadrilha do planeta, utiliza a política e os políticos, os Media e os jornalistas para saquear os Estados Nacionais:
[...] «Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. [...] os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais.»
Na última década já andámos com os olhos tapados, pois esta engenhosa arquitectura das sociedades europeias de hoje começou antes.
ResponderEliminarEmbora com alguns desfasamentos temporais, há um livro escrito em 1996 que fala deste "novo mundo" que estes senhores querem - e estão a conseguir - criar. O livro é: “A armadilha da globalização – assalto à democracia e ao bem estar social”.
Agora até já não é preciso haver eleições, não é? Chegam os tecnocratas, "homens impolutos",que nos vão enterrar ainda mais. E a democracia não está em perigo?!
MEE | A Arte da Omissao
ResponderEliminar1 nov. 2011 ... Não confundir o MEE com os fundos de socorro europeus, MESF e FESF. MEE – A nova
ditadura Europeia. Para quem quiser ler o Tratado do ...
www.artedeomissao.wordpress.com/tag/mee/
O problema maior é que qualquer golpe de estado militar apenas num país só piora a situação desse mesmo país se não houver uma réplica a nivel europeu!Porque acham que os gregos ainda não o fizeram??
ResponderEliminarQuando o poder coercitivo da lógica de mercado se torna incomodamente visível, e já não é mais possível evitar que a crise escape aos controles sem assumir claramente a dominação sobre a sociedade, ressurge automaticamente a bandeira da “união nacional”. É ela que ocupa o vácuo político escavado pelos mercados na Grécia e na Itália neste momento. Epicentros da crise global do neoliberalismo, o esfarelamento dos dois Estados, um pobre e um rico, demonstra que não se vive um problema de “periferias” disfuncionais. O que se desboroa é o sistema instituído a partir da desregulação absoluta concedida pelos liberais ao capital financeiro nos últimos 30 anos. Quando o soalho range no palácio e o caos ruge na rua é a hora da renovação. O terno e a faixa estão prontos, cortados e alinhavados pelos alfaiates das finanças. Busca-se o manequim para o remate final. De preferência, um burocrata elástico, “apolítico”, afeito à arte de rechear o abismo com vento, mas duro o suficiente para barrar novas eleições, legitimar a repressão às ruas e assegurar a aplicação do programa necessário à solvência das dívidas contraídas junto à banca e aos rentistas. Enfim, um genuíno rosto da crise para renovar a cena num momento em que os protagonistas verdadeiros começam a se expor demasiado entre a sombra e a luz. Começou o ciclo dos governos de união nacional. Sob o comando das finanças e o açoite dos mercados.
ResponderEliminarA Globalização dispersou a aplicação dos investimentos de tal forma, que é quase impossível seguir o rasto do meios financeiros utilizados...Continuo a pensar que a Europa deveria simplesmente fechar ao exterior e equilibrar as contas, mas isto é uma Utopia, porque a Alemanha, a França, a Itália ou melhor dizendo, a Banca desses Países, está metida nisto até ao tutano e sendo assim estamos completamente entregues à casualidade...O dinheiro que tenho no Banco de Portugal pode estar a ser empregue neste mesmo momento na Índia ou no Afeganistão...E se a aplicação na Índia ou no Suriname for mal sucedida, o meu Banco ficará em perigo, o meu dinheiro estará também em perigo e ainda por cima sou Aposentado...E sou eu em última instância a sofrer, sem nada ter feito ou ter a ver com esta complexa e atrapalhada estrutura criada pelos tecnocratas que agora vieram chamados para nos socorrer e governar...Estou a falar claro nos Vítor'es Gaspar e Santos Pereira exactamente oriundos dessas Instituições credibilíssimas que deram origem a esta marmelada...
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